Ditaduras Militares - Brasil, Argentina, Chile e Uruguai
Rodrigo Patto Sá Motta (org.)
Coleção:
Humanitas
Ano | Edição:
2015 | 1ª
Páginas:
338
Dimensão:
22,5 x 15,5 x 2,0 cm
Peso:
495 g
Tortura, repressão política,
desaparecimentos e resistência armada são questões que logo vêm à tona
quando o tema é ditadura militar. Tradicionalmente, têm sido esses os
principais aspectos investigados por pesquisadores da área.
O Livro é fruto do seminário Ditaduras militares em
enfoque comparado: Brasil, Argentina, Chile e Uruguai que se propos inovar a
abordagem, reunindo estudiosos para discutir outros temas relevantes
para pensar os regimes autoritários do Cone Sul, como as políticas
aplicadas pelas ditaduras que ajudam a compreender o apoio social
recebido por esses regimes.
Promovido pelo grupo de pesquisa
História Política – Culturas Políticas na História, da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), o evento incluiu mesas-redondas
sobre políticas educacionais, sociais e culturais, novos olhares sobre a
repressão e resgate da memória do período. Foram reunidos alguns dos
principais historiadores das ditaduras do continente, como os
brasileiros Marcos Napolitano e Daniel Aarão Reis, a argentina Ludmila
Catela e a francesa Maud Chirio, autora do livro A política nos
quartéis, em que descreve as divisões internas do exército brasileiro
durante o regime militar.
“O Estado que temos hoje é, em grande medida, consequência das
políticas implementadas na época, o que faz da ditadura um tema atual”,
salienta o professor de História da UFMG Rodrigo Patto Sá Motta,
presidente da comissão organizadora do evento.
Coordenador do grupo Culturas Políticas na História, Motta lembrou que,
embora o tema da ditadura esteja em voga na mídia, a maior parte da
população ainda revela pouco interesse no debate. A apatia popular, por
sua vez, prejudica o pleno exercício da cidadania, que passa pelo exame
desse capítulo turbulento da história do país. “Para que tenhamos uma
democracia consolidada, é importante que as pessoas se apropriem do
passado recente, discutindo e se posicionando em relação aos fatos”,
salientou.
Apoio oscilante
O apoio popular ao regime instaurado pelos militares no Brasil sofreu
oscilações ao longo do tempo. O momento da deflagração do golpe, em
1964, seguido pelo governo do general Castello Branco, é considerado a
fase de maior aceitação. “Nessa época, a grande imprensa desempenhou
papel de destaque por difundir uma imagem positiva do novo regime,
veiculando a ideia de que o governo do então presidente João Goulart era
perigoso e precisava cair”, aponta Rodrigo Sá Motta.
Naquela conjuntura, a ascensão dos
militares foi defendida como uma alternativa mais viável para o Brasil,
principalmente entre as elites. Outra fase de grande adesão foi a do
“milagre econômico”, no início dos anos 1970, já no governo Médici,
quando o crescimento do emprego e da renda provocou grande euforia na
população. A propaganda do governo, que se notabilizou por slogans como
“Brasil: ame-o ou deixe-o”, também colaborou para o clima de otimismo,
explorando a ideia de que o país caminhava rumo ao desenvolvimento.
Em contrapartida, houve momentos de
impopularidade, como no governo Costa e Silva, no final dos anos 60,
marcado por protestos de rua. “Embora o regime também tivesse
apoiadores, naquele período foi a oposição que mais se destacou”,
observa o historiador. Outra fase de reprovação popular foi a distensão
política pós-75. De acordo com Motta, a insatisfação se expressou por
meio do retorno das greves e do crescimento da votação dada à oposição
reunida em torno do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Semelhanças e diferenças
Em todos os regimes militares estabelecidos na segunda metade do século
20 em países do Cone Sul, o discurso político era basicamente o mesmo:
defender a ordem social, a tradição, a família e a pátria; e combater o
comunismo, a subversão e a esquerda revolucionária. As ditaduras também
se assemelhavam em relação ao emprego da violência e de métodos
autoritários. “Embora a quantidade de mortos e desaparecidos varie de
forma significativa, a disposição de reprimir opositores com violência e
os métodos de tortura utilizados eram parecidos”, avalia o professor.
Já as políticas econômicas diferiam de
país para país. No Brasil, estabeleceu-se uma política
desenvolvimentista, confirmando a tradição que vinha desde a era Vargas
de controle do Estado sobre setores como transportes, energia e
indústria de bens de capital, para fomentar o investimento em
áreas-chave de infraestrutura. “Por aqui, os militares mantiveram o
modelo econômico anterior”, ressaltou o pesquisador.
O Chile e a Argentina seguiram caminhos
diferentes. Na década de 1970, sob o governo do general Augusto
Pinochet, o Chile se tornou o primeiro país neoliberal do mundo,
diminuindo a presença do Estado na economia e recebendo grande fluxo de
capital externo. Áreas como educação superior e previdência social foram
privatizadas. “A ditadura militar alterou a estrutura econômica daquele
país, transformando-o no que ele é hoje: um exportador de produtos
alimentícios, com forte inserção no mercado internacional e diminuição
de taxas alfandegárias”, analisa o historiador.
Já o modelo argentino, segundo ele, foi uma forma intermediária entre
liberalismo e desenvolvimentismo. “Houve reformas liberais e maior
entrada de produtos estrangeiros, mas, ao mesmo tempo, áreas
estratégicas da economia foram mantidas sob controle estatal”, conclui
Motta.
O LIVRO
Os autores desta coletânea são pesquisadores brasileiros, argentinos, chilenos e uruguaios, especialistas na história das ditaduras recentes. Os textos contemplam temas consolidados na pesquisa acadêmica e, também, novas linhas de investigação, em combinação muito fértil. O leitor encontrará nestas páginas estudos sobre aspectos essenciais do tema: as disputas no campo da memória, as políticas sociais, culturais e educacionais das ditaduras, os embates no campo artístico-cultural e o funcionamento dos aparatos repressivos.