O Artista Supremo
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Convidado
a palestrar em uma galeria de arte em Auckland, Nova Zelândia, Srila
Prabhupada convidou seus ouvintes a contemplarem as obras do artista
supremo – o Senhor Krishna.
Damas
e cavalheiros, agradeço-lhes imensamente pela sua presença e pela
oportunidade dada a nós de falarmos sobre o artista supremo. Os Vedas descrevem o grande artista que é Kṛṣṇa: na tasya kāryaṁ karaṇaṁ ca vidyate na tat samaś cābhyadhikaś ca dṛśyate.
Não é possível encontrar alguém maior do que a Suprema Personalidade de
Deus ou igual a Ele, e, embora Ele seja o maior artista, Ele não tem
que fazer nada pessoalmente.
Neste
mundo, todos nós conhecemos alguém inferior a nós, alguém igual a nós e
alguém maior do que nós. Essa é a nossa experiência. Independente de
quão grande você acaso seja, você encontrará alguém igual a você e
alguém maior do que você. Porém, no tocante à Suprema Personalidade de
Deus, grandes sábios concluíram por meio de pesquisa e experimento que
ninguém é igual a Ele ou maior do que Ele.
Deus é tão grandioso que Ele nada tem a fazer, nenhum dever a cumprir (na tasya kāryaṁ karaṇaṁ ca vidyate). Por quê? Parāsya śaktir vividhaiva śrūyate: (Cc. Madhya 13.65, significado) Suas energias são multifárias, e estão operando automaticamente, segundo Seu desejo (svābhāvikī jñāna-bala-kriyā ca).
Suponha que você é artista. Para fazer uma pintura de uma bela rosa,
você tem que pegar seu pincel, misturar suas cores em uma paleta e
ocupar seu cérebro na produção da bela pintura. Contudo, em um jardim,
você pode ver não apenas uma rosa, mas muitos milhares de rosas a
nascerem. Elas foram “pintadas” muito artisticamente pela natureza.
Porém,
devemos ir mais a fundo na questão. O que é a natureza? A natureza é um
instrumento de trabalho, e apenas isso – uma energia. Sem alguma
energia funcionando, como a flor poderia desabrochar tão belamente a
partir do botão? Tem de haver alguma energia em operação, e essa energia
é energia de Kṛṣṇa. No entanto, opera tão sutil e velozmente que não
podemos compreender como opera.
As
energias materiais parecem trabalhar automaticamente, mas, na verdade,
há um cérebro por trás delas. Quando você faz uma pintura, todos podem
ver que você está trabalhando. Similarmente, a “pintura” da rosa de
verdade também é trabalhada por muitas energias. Não pensem que a rosa
foi criada automaticamente. Não. Nada é criado automaticamente. A rosa é
criada a partir das energias do Senhor Supremo, mas essas energias são
tão sutis e tão artísticas que uma bela flor pode florescer no
transcurso da noite para o dia.
Prabhupada discursando com uma rosa em mãos.
Então,
Kṛṣṇa é o maior artista. Atualmente, na era eletrônica, um cientista
apenas aperta um botão e sua máquina funciona muito perfeitamente. Ou um
piloto de avião simplesmente aperta um botão e uma grande máquina, tal
qual uma pequena cidade, voa no céu. Então, se é possível a homens
comuns deste mundo operarem de modo tão maravilhoso simplesmente
apertando alguns botões, quão maior tem de ser a habilidade de Deus para
o mesmo? Quão mais fértil tem de ser o Seu cérebro em comparação com os
cérebros dos artistas e cientistas comuns? Simplesmente pelo desejo
dEle – “Que aconteça a criação” – tudo é imediatamente manifestado.
Kṛṣṇa, portanto, é o maior artista.
Não há limite para a habilidade artística de Kṛṣṇa, porque Kṛṣṇa é a semente de toda criação (bījaṁ māṁ sarva-bhūtānām [Bg. 7.10]).
Todos vocês já viram uma figueira-de-bengala. Ela cresce de uma pequena
semente. Essa pequena semente tem tanta potência que, se você plantá-la
em um local fértil e aguá-la, um dia se tornará uma grande
figueira-de-bengala. Agora, quais são as potências, quais são os
arranjos artísticos e científicos, dentro dessa pequena semente que
permitem que cresça e se torne uma grande figueira-de-bengala? Além
disso, na figueira-de-bengala, há muitos milhares de frutas e, dentro de
cada fruta, há milhares de sementes, e cada semente contém a potência
de outra árvore. Onde está o cientista que pode criar dessa maneira?
Onde está o artista dentro deste mundo material que pode criar uma obra
de arte tão magnífica quanto uma figueira-de-bengala? Tais perguntas
devem ser feitas.
O primeiro aforismo do Vedānta-sūtra é athāto brahma jijñāsā:
“Na forma humana de vida, deve-se indagar acerca da Verdade Absoluta”.
Então, a pessoa deve estudar cuidadosamente essas questões. Você não
pode criar uma máquina que automaticamente cresce e se torna uma grande
figueira-de-bengala. Então, você não acha que tem de haver um grande
cérebro artístico, um grande cérebro científico, por trás da natureza?
Se você simplesmente diz: “A natureza está operando”, isso não é uma
explicação suficiente.
O segundo aforismo do Vedānta-sūtra é janmādy asya yataḥ: (SB 1.1.1)
“A Verdade Absoluta é Ele a partir de quem tudo é gerado”. Temos que
expandir nossa visão, levando-a das coisas pequenas para as grandes.
Agora, impressionamo-nos quando vemos um pequeno sputnik voando
no céu. Ele voa em direção à Lua, e todos nós estamos dando créditos aos
cientistas, e os cientistas estão desafiando: “O que é Deus? A ciência é
tudo”.
Contudo, se você for inteligente, você comparará o sputnik
a milhões e trilhões de planetas e estrelas. Apenas neste minúsculo
planeta Terra, há muitíssimos oceanos, muitíssimas montanhas,
muitíssimos arranha-céus. Porém, se você subir alguns milhões de
quilômetros, este planeta parecerá um pequeno ponto. Você o verá como
nada mais do que um ponto no céu. E há milhões de planetas flutuando no
céu, como chumaços de algodão. Então, se damos tanto crédito aos
cientistas que inventaram o sputnik, quão maior tem que ser o
crédito dado a quem inventou este arranjo universal? Isto é consciência
de Kṛṣṇa: apreciar o maior artista, o maior cientista.
Podemos
apreciar muitíssimos artistas, mas, a menos que apreciemos o artista
supremo, Kṛṣṇa, nossa vida é um desperdício. Encontramos essa apreciação
na Brahma-saṁhitā, a oração do senhor Brahmā, o criador do universo. Em apreciação a Govinda, Kṛṣṇa, ele canta:
yasya prabhā prabhavato jagad-aṇḍa-koṭi-
koṭiṣv aśeṣa-vasudhādi-vibhūti-bhinnam
tad brahma niṣkalam anantam aśeṣa-bhūtaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam aham bhajāmi(Bs. 5.40)
Agora,
estamos tentando compreender o sistema planetário através de nosso
método científico. Porém, não fomos capazes de concluir o estudo nem
mesmo do planeta mais próximo, a Lua, e o que dizer dos milhões e
bilhões de outros planetas. No entanto, obtemos este conhecimento a
partir da Brahma-saṁhitā: yasya prabhā prabhavato jagad-aṇḍa-koṭi-koṭiṣu.
Por meio da brilhante refulgência que emana do corpo de Kṛṣṇa,
inumeráveis universos são criados. Não somos capazes de estudar nem
mesmo um universo, e a Brahma-saṁhitā nos informa que há inumeráveis universos e que, em todo e cada um deles, há inumeráveis planetas (jagad-aṇḍa-koṭi-koṭiṣu). Há, portanto, inumeráveis universos com inumeráveis sóis, inumeráveis luas e inumeráveis planetas.
Tudo isso é possibilitado pela refulgência corpórea de Kṛṣṇa, que se chama brahma-jyotir. Os jñānīs,
aqueles que estão tentando se aproximar da Verdade Absoluta mediante a
especulação mental, por meio do poder de seu cérebro minúsculo, podem no
máximo chegar a esse brahma-jyotir. Porém, esse brahma-jyotir
é apenas a iluminação do corpo de Kṛṣṇa. A melhor analogia é o brilho
solar. O brilho solar está vindo do globo solar. O Sol é localizado, e a
refulgência do Sol, o brilho solar, distribui-se por todo o universo.
Assim como a Lua reflete o brilho solar, o Sol também reflete o brahma-jyotir. E o brahma-jyotir é a refulgência corpórea de Kṛṣṇa.
Então,
a maior arte é compreender Kṛṣṇa. Eis a maior arte. Se realmente
queremos ser um artista, devemos tentar entender o maior artista, Kṛṣṇa,
ou tentarmos ter Sua companhia íntima. Para esse fim, estabelecemos a
Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna. Os membros dessa
sociedade são treinados para ver em tudo a exibição do senso artístico
de Kṛṣṇa. Isto é a consciência de Kṛṣṇa – ver a mão artística de Kṛṣṇa
em todo lugar.
No Bhagavad-gītā (10.8), Kṛṣṇa diz, ahaṁ sarvasya prabhavo mattaḥ sarvaṁ pravartate:
“O que quer que vejas é uma emanação de Mim. Tudo é criado a partir de
Minha energia”. Deve-se compreender o fato de que Kṛṣṇa é a origem de
tudo. O senhor Brahmā confirma isso em seu Brahma-saṁhitā (5.1), īśvaraḥ paramaḥ kṛṣṇaḥ:
“Kṛṣṇa é o controlador supremo”. Aqui neste mundo material, temos a
experiência de muitos controladores. Todos nós somos um controlador.
Você é controlador; eu sou controlador. Acima de você, no entanto, há
outro controlador, e, acima dele, há outro controlador, e assim por
diante. Você pode prosseguir buscando controlador após controlador, e,
quando você chegue ao controlador supremo – aquele que não é controlado
por ninguém, mas que controla todos os demais – esse é Kṛṣṇa. Esta é a
nossa definição de Deus: o controlador supremo.
Hoje em dia,
tornou-se algo barato ver muitos “Deuses”. Mas você pode testar alguém
para ver se ele é Deus. Se ele é controlado por alguém mais, ele não é
Deus. Somente se ele é o controlador supremo você deve aceitá-lo como
Deus. Esse é o teste simples de Deus.
Agora, outra qualidade de Deus é que Ele é pleno de prazer, ānandamayo ’bhyāsāt (Vedānta-sūtra 1.1.12). Por natureza, a Suprema Pessoa Absoluta é ānandamaya,
“plena de prazer”. Suponha que você é um artista. Você se dedica ao
trabalho artístico apenas para obter um pouco de prazer. Por fazer uma
pintura, você desfruta de algum rasa, algum doce prazer. De outro modo, por que você trabalharia tão duro? Tem de haver algum prazer em pintar.
Então, Kṛṣṇa é raso vai saḥ, o reservatório de todos os doces prazeres. Ele é sac-cid-ānanda-vigrahaḥ (Bs. 5.1), pleno de eternidade, conhecimento e prazer. (Ānanda
significa “prazer”.) Sua potência de prazer é Śrīmatī Rādhārāṇī. Vocês
já viram imagens de Rādhā e Kṛṣṇa. Rādhārāṇī é a manifestação da
potência de prazer de Kṛṣṇa. Como já expliquei, Kṛṣṇa tem inumeráveis
energias, e uma delas é Sua potência de prazer, Rādhārāṇī.
Então,
aqueles que desenvolveram amor por Deus estão desfrutando de prazer
transcendental a todo momento por verem a obra de arte de Kṛṣṇa em todo
lugar. Essa é a posição de um devoto. Por conseguinte, solicitamos a
todos que se tornem devotos, que se tornem conscientes de Kṛṣṇa, a fim
de que possam ver a obra de Kṛṣṇa em todo lugar.
Ver
Kṛṣṇa em todo lugar não é difícil. Por exemplo, suponha que você esteja
com sede e beba água. Quando você bebe, você sente muito prazer. E
Kṛṣṇa é o reservatório de todo prazer (raso vai saḥ). Então, o prazer que você sente ao beber água, é Kṛṣṇa. Kṛṣṇa declara isso no Bhagavad-gītā (7.8), raso ’ham apsu kaunteya:
“Sou o sabor da água”. Para uma pessoa comum, que não é capaz de
apreciar Kṛṣṇa completamente, Kṛṣṇa está dando a instrução de que Ele é o
sabor da água que mata sua sede. Se você simplesmente tenta compreender
que esse sabor é Kṛṣṇa, ou Deus, você se torna consciente de Deus.
Portanto,
não é muito difícil se tornar consciente de Kṛṣṇa. Você precisa
simplesmente de um pouco de treinamento. E se você ler o Bhagavad-gītā Como Ele É
– compreendendo-o tal como é apresentado pelo próprio Kṛṣṇa, sem
qualquer desonestidade ou falsa interpretação –, você se tornará
consciente de
Kṛṣṇa. E se você se torna consciente de Kṛṣṇa, sua vida é bem-sucedida. Você retornará para Kṛṣṇa (tyaktvā dehaṁ punar janma naiti mām eti [Bg. 4.9]).
Não
há qualquer perda em se tornar consciente de Kṛṣṇa, mas o ganho é muito
grande. Por conseguinte, solicitamos a todos vocês que tentem se tornar
conscientes de Kṛṣṇa. Leiam o Bhagavad-gītā Como Ele É; vocês encontrarão toda informação que vocês precisam para se tornarem conscientes de Kṛṣṇa. Ou, se você não quiser ler o Bhagavad-gītā,
por favor, cante Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare
Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare. Você se tornará consciente de
Kṛṣṇa da mesma maneira.