quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Waly SAILORMOON



Bem, não estou falando de delírios. Estou escrevendo sobre delírio. Respeito é bom , eu cuspo nele, mas estou falando do Waly. De quebra estou falando do Cara de Cavalo, do Oiticica, do Sganzela, da Ligia, do Torquato. Ora porra estou falando também do Caetano.

Eu estou falando que vocês precisam, ler, reler ALGARAVIAS. Já fui "riliseiro", assessor, etcoetera! Portanto,
" - O Que é que você quer ser quando crescer?
- Poeta polifônico. " (1995)

Me basta !

Por Eduardo Cruz

Segundo consta no Dicionário Etimológico da Língua Castelhana, “algaravia” é uma palavra coringa, de significado múltiplo: língua árabe, linguagem quase ininteligível e coisa difícil de perceber. “Algaravia” é também o nome de uma planta de arbustos diversos – a exata diversidade lírica que se espraia pela obra de Waly Salomão, contumaz e grande leitor da poesia universal e do mundo, que, enquanto “poeta polifônico”, reprocessava todas as influências para depois canalizá-las em sua própria voz poética de “parangolé” – vocábulo que o artista plástico Hélio Oiticica, amigo de Waly, dizia exprimir a “antiarte por excelência”.


Nesta reedição da coletânea de poemas publicada originalmente em 1996, Algaravias: Câmara de ecos, agraciada com o prêmio Alphonsus de Guimarães, da Biblioteca Nacional, e com o Jabuti, em 1997, na categoria poesia, o mais dileto filho de Jequié, na Bahia, de pai sírio e mãe baiana, trabalha com quatro caminhos temáticos: a reflexão sobre a poesia, o mito pessoal e/ou nacional, a ironia dos périplos e viagens, e a lírica da quase intimidade – e “quase” porque suprimia as fronteiras entre o eu e o outro. “Agora, entre meu ser e o ser alheio/ a linha de fronteira se rompeu.”


O tom fortemente declamatório dos poemas pode confundir o leitor a pensar que a escrita do performático Waly Salomão era um mero derramar de intuições e achados, mas isso não é verdade. Poesia é trabalho. Ou “Alguém acha que ritmo jorra fácil,/ pronto rebento do espontaneísmo?” Poesia é suor, o resto é psicografia. De acordo com o próprio poeta, “para fundar Roma” é preciso “ler, ler e ler”. Waly exercia com seriedade – sem por isso descambar para o clichê institucional de correção e postura – seu ofício de verso, e, como pára-raio cultural, transformava o que absorvia em energia para sedimentar de lampejos calculados e medidos o chão de sua poética.


Nas páginas de Algaravias, o poeta transforma delírio em elegias, dentro do seu estilo palavroso (o que não significa palavras ao vento), como as feitas para o artista catalão Antoní Llena e para a arquiteta modernista ítalo-brasileira Lina Bo Bardi; em poemas dedicados a amigos como o músico Marcelo Yuca, o poeta Chico Alvim e a esposa Marta; em versos que resvalam ou se debruçam sobre grandes nomes da poesia, como os americanos John Ashbery e Wallace Stevens, o inglês William Blake, o francês Paul Valéry e o amigo brasileiro Antonio Cicero.


Por fim, vale ressaltar a força das metáforas walyanas ecoando nas páginas desta coletânea, metáforas que gritam ao leitor uma beleza construída com requinte – “encharcar ao longo do poema inteiro,/ do começo até o fim,/ metáforas, metáforas, metáforas.” O grande escritor argentino Jorge Luis Borges considerava tal figura de linguagem a matéria-prima da poesia. Waly Salomão sabia disso.


EM TEMPO, SAIU A UM TEMPINHO MAS SÓ RECEBI AGORA, É DA ROCCO!

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

OLINDA por Freyre



Olinda: Segundo Guia Prático, Histórico e Sentimental de Cidade Brasileira
Autor - Gilberto Freyre

Feliz a cidade que pode oferecer ao viajante ou estudioso um guia como este dedicado a Olinda por Gilberto Freyre. O subtítulo esclarece que se trata de um "2º guia prático, histórico e sentimental de cidade brasileira" (o primeiro foi dedicado a Recife), mas na verdade é muito mais do que isso: um pequeno curso sobre a história, a vida, os hábitos e as tradições da velha cidade pernambucana.
Didático pela distribuição e abrangência dos temas, como qualquer guia que se preze, o seu texto é um exemplo de antididatismo, termo empregado aqui como sinônimo de clareza, graça e liberdade de expressão, sem nada de professoral.
Com aquela reverência e aquela malícia que nascem do amor, e alguns toques de sentimentalismo, Gilberto Freyre fala dos velhos sobrados, tão característicos da cidade, com seus muxarabis, suas reminiscências da vida patriarcal, alguns tão penetrados "de influências mouras ou mouriscas", desperta a atenção para a alma encantadora das ruas em ladeira, para a paisagem formada por velhas igrejas, coqueiros e cajueiros, praias de verdes mares bravios de onde partem as jangadas rumo ao mar alto.
Ao retrato da terra se junta a atividade do homem e a formação histórica da cidade, desde aquele dia em que o donatário da capitania, vendo a bela paisagem, exclamou: "Oh! linda!" Com tal nome, claro que a cidade teria de ser privilegiada e reverenciada na literatura e nas artes plásticas, como informa o autor.
Histórico e sentimental, o guia é antes de tudo prático. Ensina o leitor a se locomover na cidade, a saber admirá-la e a descobrir a sua originalidade. E depois de tanta consulta às suas páginas e de tanto andar, ao chegar nos altos da cidade e olhar em redor, o visitante por força há de concordar com o autor que em Olinda "tudo se irmana franciscanamente para completar" a "paisagem ao mesmo tempo cristã e brasileira". E inesquecível.

Ainda FREYRE



Ao menos uma dezena de lançamentos e reedições de obras de Gilberto Freyre (1900-1987), entre as quais Casa-grande & senzala, Sobrados e mucambos, Nordeste e Ordem e progresso, colocam novamente em debate o papel do sociólogo pernambucano na historiografia brasileira contemporânea. Vamos recomendar dois menos conhecidos -



Açúcar: Uma Sociologia do Doce, com Receitas de Bolos e Doces do Nordeste do Brasil
Autor - Gilberto Freyre

Responsável pelo primeiro grande ciclo econômico da história do Brasil, a cana-de-açúcar moldou a formação e a identidade do nordeste e o jeito de ser e a alma do nordestino. "Sem açúcar não se compreende o homem do nordeste", afirma Gilberto Freyre em Açúcar, subtitulado "uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do Nordeste do Brasil".
Lançado em 1939, o livro despertou uma certa surpresa entre intelectuais. Ora, ora, um escritor consagrado tratando de receitas, falando de tachos de cobre, de ponto de doce, de fôrmas, de colheres de pau, de raladores, coisas tão femininas e tão da cozinha...
Dessas insinuações, Gilberto Freyre se defendeu por antecipação ao utilizar como epígrafe uma frase de Domingos Rodrigues, autor de Arte da cozinha, livro publicado no final do século XVII e dedicado ao conde de Vimioso: "É o livro ocasionado aos mordazes pela matéria e pelo estilo; mas uma e outra cousa será de todos respeitada sendo com o ilustre nome de V. S. ª defendido".
Hoje, Açúcar é um clássico e, mais do que isso, uma introdução insubstituível ao reino mágico dos doces e bolos nordestinos, magia que se elabora na cozinha e termina na barriga do freguês, mas que vive inúmeras outras fases: da colheita da cana e da goiaba, do caju ou de qualquer outra fruta utilizada em doces, à venda, outrora ao refrão tradicional do vendedor de rua. Isso sem falar em outra magia: a dos nomes de bolos, bolinhos, biscoitos, sequilhos, doces. Alguns provocativos, sensuais: argolinhas de amor, baba de moça, beijos de cabocla, quindim de Iaiá, outros se revelando logo, num apelo direto ao paladar: doces de jaca mole, de laranja da terra, de sapoti, compota de cidra ou de limão. De todos eles, e de alguns sorvetes, fica registrada a receita (são centenas) neste livro saboroso como um doce de côco ou de araçá. À escolha do freguês.

Gilberto Freyre , o “anarquista construtivo”



enfrenta a “escola sociológica paulista”



Este seria um belo título para um filme “cult” dos idos anos 70 . Mas na verdade esse embate foi muito mais elitista e futriqueiro que o seu título popular. Como sabemos , quem se auto-intitulou de “anarquista construtivo” foi Freyre, quando se via questionado por ser o que, os paulistas por exemplo, chamavam de “conservadorismo empedernido”. Mas, se hoje, os nossos cientistas sociais podem ostensivamente e com legitimidade , pesquisar sobre a questão da mulher , minorias sexuais e o universo doméstico é graças a sua obra polêmica Casa Grande & Senzala .
As críticas ao seu trabalho muitas vezes se atinham a sua forte preocupação com a sexualidade ou ainda faziam recriminações à sua visão de “uma sociedade em que predominam mecanismos de acomodação e conciliação. Isso era demais para sociólogos da Universidade de São Paulo (USP) , que ainda o consideravam um colecionador de objetividades ( ou de obviedades)” .
Passaram-se os anos e pouco a pouco, a importância de sua obra , inegável, vai sendo resgatada . Volta a ser citado e muitos até fazem até um verdadeiro “ato de contrição”. A jornalista Rose Nogueira (criadora do extinto e revolucionário programa TV Mulher) ressalta, por exemplo, que na obra de Gilberto Freyre fica muito bem explicitada a função da mulher no trato das tarefas diárias em uma fazenda . Que ela é quem verdadeiramente era “comandante-em-chefe” dos feitores. Que essa visão da mulher no comando dos negócios acaba por ser incorporado nas obras ficcionais e aparece emblemáticamente nas cenas de novelas televisivas como Terra Nostra . Com certeza, sem Gilberto Freyre e a inspiração de seu trabalho para outros pesquisadores, jamais teríamos essa visão e sim, a outra oficial, de uma sociedade patriarcal e patronal.
No prefácio de sua terceira edição de casa Grande & Senzala, Gilberto Freyre diz receber com naturalidade as críticas “sem se achar, entretanto, obrigado a modificar os seus pontos de vista”. Reparos como o do Professor Coornaert, da Sorbonne, sobre o que considera preocupação excessiva com o elemento sexual na interpretação de alguns aspectos característicos da formação social do Brasil. Críticas estas que obtiam ressonância nos “sorbonardes” da dita esquerda sociológica paulista.
Em entrevista concedida em 1985 a Benjamim e Cilene Areias, Freyre fala dessa sua relação com a intelectualidade esquerdista. “Eu sempre fiz restrições a certos usos do marxismo, mas não se pode apresentar nenhuma atitude antimarxista sectária de minha parte. E fiz um grande convertido: o inteligentíssimo Oswald de Andrade. Num de seus artigos no Correio da Manhã ele tratou de sua conversão ao ‘pós-marxismo de Gilberto Freyre’, dizendo que não rejeitara o que aprendera de marxismo , mas achava que isso não satisfazia mais: Marx foi homem de uma época européia, e nós estávamos noutra época. Ora , quem é pós-marxista não é antimarxista.”
Em outra entrevista, anterior a essa (1980) a Ricardo Noblat, então chefe de sucursal da Revista Veja e que foi publicada pela revista Playboy, experiente o jornalista tentava fazer Gilberto Freyre falar sobre seus críticos , que teimavam em não reconhecer a sua importância internacional, esquivo acaba por falar nas desvantagens do sucesso- “ A desvantagem é que você fica muito exposto ao chato. Essa é a desvantagem principal, porque o chato existe e não é só brasileiro: o chato é internacional...E você tem de se defender sem magoar aquilo que o chato bem-intencionado representa. Porque o chato por vezes é bem-intencionado . Ele não é chato porque quer ser : ele é chato porque é chato.” E citava como chato o amigo Oscar Niemeyer –“que é um arquiteto genial, é muito ignorante. É difícil você manter uma conversa interessante com ele.(...)há pessoas que são muitíssimo mais interessantes escrevendo do que falando”. Com tiradas como essa Gilberto Freyre atraia sobre sí não simplesmente as críticas acadêmicas , mas também as rusgas primárias e a ira da “inteligência da esquerda”.
E fustigando a intelectualidade paulista também com artigos contra o modernismo. “...no total, a Semana de Arte Moderna representou uma introdução arbitrária , no Brasil, de modernices européias, sobretudo francesas. Sem dúvida, cultura brasileira em geral e as artes brasileiras em particular, precisavam na época de serem modernizadas, revigoradas – mas levando-se em conta a realidade regional brasileira, suas tradições características às quais se poderia adaptar inovações européias. Isso não se fez em São Paulo, mas sim no Recife, num movimento menos badalado, como se diria hoje, do que a Semana de Arte Moderna de São Paulo. Esse movimento foi regionalista, tradicionalista e, a seu modo , modernista, ao qual estiveram ligados artistas como Vicente do Rego Monteiro, um renovador da pintura e da escultura.”
Gilberto Freyre começou a ser conhecido em São Paulo por um outro intelectual paulista que, coincidentemente, criticou a Semana de Arte Moderna, Monteiro Lobato que divulgava os artigos de Freyre na Revista do Brasil .
Mas a briga com a “escola sociológica paulista” estava longe de acabar, seu apoio à ditadura que instalou-se após o Golpe de 64 , levou-o a praticamente ser expurgado dos currículos da Universidade de São Paulo . Mais tarde , Gilberto Freyre reconheceu que não era antimilitarista mas, “devo dizer que nunca me enganei com esse surto militar iniciado em 1964, o que me levou a recusar convites do General Castello Branco para ocupar um Ministério ou Embaixada em Paris. Os militares se deram aos tecnocratas, que comprometeram os valores éticos do Brasil e nada fizeram para diminuir o desprezo pelo nordeste, que já se manifestava então no Centro-Sul. Você não pode definir o Ministro tecnocrata por excelência, o Delfim Netto, senão como um quase patológico antinordestino.” Como vemos sobrou até para a direita paulista.
Porém, o mais interessante vem ainda a acontecer, como todo roteiro de filme “cult” , vilões e heróis acabam por se confundir. Na correspondência pessoal de Gilberto Freyre encontramos uma carta datada de 7 de Abril de 1961 , em papel timbrado da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo , assinada pelo Professor Florestan Fernandes. Agradecia a hospitalidade recebida por ocasião de sua passagem por Recife. Afirmava ter levado as melhores impressões do trabalho que estava sendo realizado pelas duas instituições que Freyre dirigia e ia além...”Agora o principal objetivo desta carta: os dois primeiros doutoramentos da cadeira de Sociologia I, a realizar-se em breve, de candidatos que trabalharam sob minha orientação, devem ocorrer dentro deste semestre. Os candidatos são seus conhecidos e admiradores : Fernando Henrique Cardoso e Octavio Ianni. Os trabalham versam assunto de sua principal área de estudos – a sociedade senhorial brasileira, só que agora vista do ângulo das relações entre o senhor e o escravo no sul do Brasil (Porto Alegre e Curitiba). Queríamos prestar-lhe uma homenagem, que constitui ao mesmo tempo uma honra para nós, pedindo-lhe para participar da banca examinadora”.
Pois bem, o então futuro “príncipe dos sociólogos” e “ex-Presidente do Brasil” poderia ser examinado por Gilberto Freyre... Na mesma entrevista concedida a Ricardo Noblat , Gilberto Freyre fala sobre esses três personagens – “Dos sociólogos paulistas, o que eu considero a figura máxima é Fernando Henrique Cardoso, que é até político militante marxista, mas há pouco, num artigo, mostrou-se simpático às minhas atitudes, embora divergindo de mim. Outro marxista, mas este do Rio, o antropólogo Darci Ribeiro, um grande antropólogo, escreveu uma introdução para a edição venezuelana de meu livro Casa Grande & Senzala , que é talvez o que de melhor já se escreveu a respeito do ponto de vista antropológico e sociológico. Agora, ambos são marxistas eminentes. Mas quando o marxista é um Octávio Ianni, que não é intelectualmente honesto, a meu ver, e um outro que já nem me lembro o nome...”Noblat se apressa em lembrar.....”Florestan Fernandes?” E Gilberto Freyre continua- “Florestan. Que não é desonesto mas que é um fanatizado pelo marxismo. Esses desonestos ou esses fanáticos superiores – eu respeito o Florestan Fernandes, uma cultura real, um talento autêntico, mas fanatizado – enfim , eu não os considero como representantes do que há de melhor na sociologia e na antropologia paulista . Mas, são os mais ruidosos e os mais badalados por nossa querida imprensa”.
Quando Fernando Henrique Cardoso ainda era Senador pelo PMDB-SP , e sabe-se lá se acalentava o sonho de ser Presidente , publicou um artigo no Jornal O Globo de 26 de julho de 1987 republicado dez anos depois no Diário de Pernambuco. Nele era o sociólogo Fernando Henrique que falava e chamava Gilberto Freyre de “um verdadeiro criador”. Talvez quisesse dizer...um verdadeiro “criador de casos”, mas discorria que “há alguns anos –em 1973- escrevi um artigo sobre ‘Casa Grande & Senzala’. Foi um ato de contrição. Eu lera , obviamente, e muitas vezes, não só ‘Casa Grande & Senzala’, mas alguns outros livros de Gilberto Freyre. Membro da ‘escola sociológica paulista’ que sou e interessado nas questões raciais e na escravidão ( minha tese de mestrado, em co-autoria com Octavio Ianni, e a tese de doutorado foi sobre o ‘Capitalismo e escravidão no Brasil Meridional’) , li Gilberto Freyre quando estudante e na época das teses universitárias com o olhar severo do jovem que buscava o rigor científico e tinha em Florestan Fernandes o mâitre a penser.”
E continua o sociólogo “Pois bem, na releitura crítica percebi o pecado (venial , por certo) que cometera. Gilberto Freyre não podia ter sido lido como um colecionador de objetividade (ou de obviedades). Nem do ângulo científico nem do ângulo político”. (...) “Rótulos não se sustentam diante do verdadeiro criador, Freyre me capturou. Não por sua ‘ciência’, mas por ter sido capaz de propor um mito-fundador.” Casa Grande & Senzala” e o próprio Gilberto Freyre são parte constitutivas do Brasil : falsos ou verdadeiros, a obra e o criador, pela força macunaímica que têm, expressam o que nós somos”.
“Ás vezes não gostamos: é a vaidade transbordante, a pequena mentira, a perspectiva ilusória. Mas não apenas em Gilberto Freyre : tudo isso está contido na nossa cultura. As vezes nos deliciamos: são os quitutes, é o sexo obsessivo, é o popularesco, é o povo próximo de nós. Mas também neste caso, é mito.”
“Morto Gilberto Freyre, continua vivo o mito que ele produziu”.

Ainda bem. Pena que outros mitos não sejam tão geniais.

Eduardo Cruz é jornalista paulistano

matérias sobre Freyre e seus livros publicadas nos Suplementos de Pernambuco e São Paulo

sábado, 27 de outubro de 2007

PARA QUEM NÃO TEM VERGONHA DE RIR SOZINHO



por Sharon Ratis

Cem melhores crônicas (que, na verdade, são 129). Este é o título do recente livro de Mario Prata, capaz de fazer qualquer criatura passar por louca de tanto rir sozinha.
São 129 crônicas, apenas.Podia ser muito mais, uma vez que, ao acabar o livro, a vontade do leitor é de começá-lo de novo. A seleção foi feita por ele mesmo, entre trabalhos já publicados no Estadão, Revista IstoÉ, Revista Época, entre outros veículos de comunicação.

As crônicas estão divididas por temas: Palavras, Homem, Mulher, Sexo, Psicanálise, Crianças, Gente, Lugar, Objetos, Coisas, Portugal, Brasil e Copa do Mundo. Não há como destacar um tema em detrimento dos outros, pois todos são de dar câimbra no maxilar.

Para quem não conhece o autor, este livro é uma ótima apresentação. Quem já conhece, vai reconhecer várias crônicas, além de perceber o dom que Mario Prata tem de fazer a pessoa reler várias vezes a mesma crônica e dar risadas sempre nos mesmos pontos, pois, ao contrário de piadas e anedotas, seus escritos não perdem a graça quando são relidos.

O livro inteiro merece destaque. Por falta de espaço, somente uma crônica de cada tema é citada, apenas para o leitor sentir o clima: O amor de Tumitinha (descobre-se, aqui, a origem dos virunduns!), Bêbado: o amador e o profissional (em qual categoria você se encaixa ?), A mulher que fuma, Minha vizinha divina, maravilhosa, Culpa, Filho é bom, mas dura muito, Na estrada com Danuza, Vamos ver o comércio, nega ?, O casamento da prefeita e o sapato, Foi o criado-mudo quem contou (insuperável!!!), E o terceiro segredo, hein ?(não dá para conter a gargalhada, no final), Semana Santa: Cristo nos palcos (ele jura que é verdade) e Pondo a boca na corneta, sobre uma de suas paixões, o futebol.

O que você está fazendo aí, sentado, que ainda não correu à livraria mais próxima ? Você não gosta de risadas ?

Em tempo: o prefácio é do Luis Fernando Veríssimo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Chegou o último !!!

por Myrtha Ratis
Enfim chegou até nossas mãos o esperadíssimo último volume da saga Graal , de Christian de Montella
A REVANCHE DAS SOMBRAS (GRAAL VOL. 4)
"Em A Revanche das Sombras, Lancelot se encontra em um aparente estado de torpor. No meio de uma charneca, caminha a passos pesados, tomado por uma ansiedade inexplicável. Uma voz lhe sopra ao pé do ouvido ordens como “Vá mais alto...” Percebe um degrau, apóia o pé e, mesmo hesitante, segue em frente. Tudo parece diferente; seu corpo está mais jovem, não possui mais cicatrizes de batalha. As terras ao redor não possuem horizontes, o infinito é o limite da sua visão. Subitamente, Lancelot perde a sensação de felicidade e plenitude. A paisagem não é a mesma. Em uma floresta sombria e densa, onde é sempre noite, o herói avista duas silhuetas. Cada vez mais próximos, os espectros lhe informam que aquele local, um dia, não mais será um sonho para ele, e sim sua morte. Não possui tempo para compreender, apenas para morrer. Não sabe como escapar. Onde estará Lancelot? Quem serão aquelas sombras funestas? E qual o destino do grande cavaleiro? "
CONFIRA .

Piaf – No baile do acaso, de Édith Piaf




Piaf – No baile do acaso
Édith Piaf
Biografia
Prefácio de Jean Cocteau
Apresentação e nota de Marc Robine
Posfácio de Fred Mella
Tradução de Estela dos Santos Abreu
192 pp.
A Martins Editora lança a autobiografia de Édith Piaf. O filme que já estreou em São Paulo é belíssimo e vale cada centavo do ingresso. O livro transformou-se em obrigatório.

Em Piaf – No baile do acaso, a cantora francesa Édith Piaf conta a história de sua vida e de sua carreira, relembra a infância miserável, o começo difícil e os grandes sucessos. Recorda como se tornou a coque­luche dos intelectuais, especialmente de Jean Cocteau, e, com franqueza única, evoca os homens de sua vida. Assim Piaf inicia sua autobiografia: “Para estas recordações – que desejo contar ao acaso da memória – por que não começar pelo dia em que o Destino me tomou pela mão para fazer de mim a cantora que sou hoje?”. Para a jovem Édith Gassion, o destino as­sumiu a forma de Louis Leplée, dono de um cabaré na Champs-Elysées, que lhe daria a oportunidade de estrear nos palcos e também o primeiro nome artístico: “la Môme Piaf”, ou “par­dalzinho”.

Piaf revive a amizade com Yves Montand e Marlene Dietrich, o encontro com o ídolo Charles Chaplin, a ajuda aos prisioneiros de guerra na Alemanha e à resistência francesa, o trabalho com Les Compagnons de La Chanson e os bastidores da criação de canções que a imortalizaram. Traduzida por Estela dos Santos Abreu, Piaf – No baile do acaso tem prefácio de Jean Cocteau, apresentação e notas de Marc Robine e posfácio de Fred Mella, e inclui um caderno de fotos que retratam diferentes momentos da vida de Piaf.
Para entendender melhor -
O filme: O lançamento da Martins Editora antecipa o filme Piaf – Um hino ao amor, de Olivier Dahan, traz no elenco Marion Cotillard, em sua elogiadíssima atuação como Édith Piaf, Gérard Depardieu como Louis Leplée, Caroline Silhol como Marlene Dietrich, entre outros.

Édith Piaf, nome artístico de Édith Giovanna Gassion (França, 1915-63). Cantora de renome internacional, intérprete de inúme­ros sucessos, como "Non, je ne regrette rien". A voz de "rouxinol de abril", a vida amorosa intensa, inúmeras tragédias pessoais e a afeição dos fãs transformaram-na numa lenda.

Jean Cocteau (França, 1889-1963). Artista de vanguarda, ator, diretor, poeta, pintor, dramaturgo e cenógrafo. Dirigiu cerca de 12 filmes, entre os quais Orfeu e A bela e a fera.

Fred Mella (França, 1924). Cantor solista do grupo Les Com­pagnons de La Chanson.

Marc Robine (Marrocos, 1950; França, 2003). Cantor, instru­mentista, musicólogo e jornalista, fundador da revista Chorus.
NA FOTO COLORIDA - Marion Cotillard como Edith Piaf

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

IMPERDÍVEL


Acabamos de receber e é para ler de um só folego

INÉS DA MINHA ALMA de Isabel Allende

Inés da Minha Alma, de Isabel Allende, é um romance épico no qual o alento do amor concede uma trégua à rudeza, à violência e à crueldade de um momento histórico inesquecível. Inés Suárez (1507-1580) é uma jovem e humilde costureira que embarca da Europa ao Novo Mundo em busca de seu marido, desaparecido junto de seus sonhos de glória do outro lado do Atlântico, e acaba se tornando um dos principais nomes da conquista do Chile. Através da pena da mais famosa escritora latino-americana da atualidade, se confirma que a realidade pode ser tão surpreendente quanto a melhor ficção – e igualmente cativante.Em Inés da Minha Alma, Isabel Allende volta a demonstrar seu dom para criar personagens femininos fortes e densos, ao mesmo tempo em que revê a história oficial através de um novo ponto de vista.

EVANDRO MESQUITA LANÇA XIS-TUDO NO RIO


O ator-cantor Evandro Mesquita andou revirando seu baú e achou que era hora de dividir com o público mais do que as letras da Blitz e as trapalhadas de Paulão da Regulagem, seu personagem em A grande família. "Estava com contos atravessados na garganta, desenhos encravados, poeminhas no céu da boca e ‘textículos’ eclodindo em erupções cutâneas e subcutâneas", conta ele na introdução do seu Xis-tudo. O livro, que sai pela Rocco, será lançado nesta quinta-feira, 25 de outubro, a partir das 20h, na livraria Argumento, no Leblon, com direito a leitura de trechos com atores como Fernanda Torres, Patrícia Travassos, Pedro Cardoso, Lúcio Mauro Filho e Guta Stresser, entre outros.
Em sua estréia como escritor, Evandro Mesquita faz jus ao título de sua obra e oferece ao leitor um verdadeiro "Xis-tudo" em que cabem desde "causos" engraçados de sua trajetória, até pequenos contos e esquetes teatrais, passando por poemas e letras de música, desenhos e histórias em quadrinhos, listas de "10+", receitas e dicas sobre alimentação saudável, entre outros recheios saborosos, sempre com a irreverência e bom-humor que lhe são peculiares.
Lançamento de Xis-tudo, de Evandro Mesquita.
Quinta-feira, 25 de outubro, às 20h
Livraria Argumento: Rua Dias Ferreira, 417 – Leblon. Tel: 2239-5294

domingo, 21 de outubro de 2007

DICAS E NOTAS


IMPERDÍVEL
FUGALAÇA de Mayra Dias Gomes é um retrato da juventude contemporânea e de seu desespero. Mas é também a história de uma garota. Em seu mundo nada cor-de-rosa, ela vive em algum lugar entre o prazer e a angústia. Em lançamento da Record utiliza uma linguagem pop, ágil e atual, surpreende ao contar a história de Satine, uma espécie de alter ego que mergulha fundo no clichê sexo, drogas e rock’n’roll depois de perder o pai aos 11 anos e ver sua entrada na vida adolescente tomar novos rumos.

AGITO DO BOOBARELLAS - DICAS E NOTAS

Acompanhe a programação da banda curitibana BOOBARELLAS

#30/11 (Sexta) - Santos/SPLocal: Studio G (Rua Carvalho de Mendonça n°80)C/ Cinedisco, Phone Trio, Dandara, Fictícios, Agentes
#01/12 (Sabado) - São Paulo/SPLocal: Novo AeonC/ Cinedisco, Phone Trio, Dandara, Fictícios, Agentes
#02/12 (domingo) - Vinhedo/SPLocal: Mosh Sub BarC/ Cinedisco, Phone Trio, Dandara, Fictícios, Agentes
Acompanhe outras notícias em http://www.myspace.com/zonapunkcompactdisc




DICAS E NOTAS


ZEN E A ARTE DA MANUTENÇÃO DE MOTOCICLETAS

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE OS VALORES

ROBERT M. PIRSIG


Este é um classico que a muito merecia uma edição bem cuidada. Sai pela Martins Fontes. Zen e a arte da manutenção de motocicletas é uma epopéia moderna que mudou a mentalidade de toda uma geração e continua servindo de inspiração a milhões de pessoas. Esta narrativa de uma viagem de moto feita por um homem e seu filho durante as férias de verão transforma-se numa odisséia pessoal e filosófica e trata de questões fundamentais do nosso modo de viver. Ecoando todas as confusões da existência, este clássico, emocionante e transcendente, tem por tema a própria vida. O volume traz ainda uma arguta introdução escrita pelo autor e um Guia de leitura que inclui uma entrevista com Pirsig, cartas e documentos que detalham o processo que deu origem a este livro extraordinário.


ADVOGADO DE PORTA DE CADEIA


Saindo pela Record mais uma obra de Michael Connelly . O livro conta a história de Michael Haller, um advogado diferente. Seu escritório é o banco traseiro de um sedã Lincoln. Haller roda Los Angeles visitando tribunais e farejando novas oportunidades para elevar seus honorários. Seu nome está estampado nas Páginas Amarelas, seu telefone está colado nos assentos dos ônibus das mais perigosas áreas da cidade. Haller defende motoqueiros, prostitutas e traficantes de drogas; clientes que lhe garantem baixos honorários, na maioria das vezes saldados por meio de pequenos serviços.Quando Michael Haller é escolhido para defender Louis Roulet, um jovem playboy de Beverly Hills detido por agressão e tentativa de estupro contra a prostituta Regina Campo, acredita que está diante do caso mais fácil e rentável de sua carreira. Mas a morte de alguém muito próximo o leva a se defrontar com o mal em sua forma mais assustadora.


O EVANGELHO SEGUNDO JUDAS


O Evangelho Segundo Judas é o resultado de uma colaboração entre um contador de histórias – Jeffrey Archer, um dos romancistas mais populares do planeta – e um erudito – Francis J. Moloney, um dos mais conceituados estudiosos da Bíblia. O objetivo do texto é redimir Judas: segundo este evangelho, redigido originalmente por Benjamim Iscariotes, filho de Judas, ele jamais teria traído Cristo. Pelo contrário: por acreditar que Jesus não era o Messias e saber que, por isso, seria assassinado, quis defendê-lo. A partir dessa visão, Archer e Moloney montam um evangelho com um ponto de vista absolutamente novo. E, segundo Jeffrey Archer, a perspectiva de Judas, trazendo uma visão mais humana de Jesus Cristo, é muito mais interessante que a dos outros onze apóstolos. Uma edição da Bertrand Brasil.


ASA DE PRATA


No clima da edição, um juvenil estranho. Com mais de 800 mil exemplares vendidos em todo o mundo, Asa-de-prata (Editora José Olympio), do escritor canadense Kenneth Oppel, é uma fábula moderna e inovadora que conquistou leitores da Islândia ao Japão. Também ganhou edições na França, Reino Unido, Espanha, Alemanha, Itália, Holanda, Dinamarca, Itália e China – além de nos Estados Unidos e Canadá, onde é um grande best seller. O livro de Kenneth Oppel traz a história de Sombra, um jovem morcego, curioso e esperto, que acaba se perdendo de seu grupo a caminho do local de hibernação.

O QUE VEM POR AÍ


por MYRTHA RATIS



CRISTO SENHOR

A saída do Egito


Desta vez Anne Rice , deixa de lado os vampiros e bruxas e investe na fase adulta de Jesus Cristo. No livro a autora nos mostra Jesus aos 7 anos, tomando consciência aos poucos de que é diferente das outras crianças e tentando entender por que isso acontece. A autora mescla uma minuciosa pesquisa histórica a elementos de ficção para apresentar um Cristo humanizado, que conduz a narrativa em primeira pessoa e divide com os leitores suas dúvidas, seus medos e suas descobertas. Na livro da Rocco percebemos um Cristo totalmente sintonizado com o judaísmo, cuja educação é baseada na Torá e nas tradições orais contidas nela. Uma das fontes de consulta de Anne Rice foram os Evangelhos Apócrifos, que descrevem milagres feitos por Jesus ainda criança, como dar vida a pássaros de barro moldados durante uma aula em Alexandria, no Egito.


TRATADO DE ATEOLOGIA

MICHEL ONFRAY


“Os três monoteísmos, animados por uma mesma pulsão de morte genealógica, partilham uma série de desprezos idênticos: ódio à razão e à inteligência, ódio à liberdade; ódio a todos os livros em nome de um único; ódio à vida; ódio à sexualidade, às mulheres e ao prazer; ódio ao feminino; ódio ao corpo, aos desejos, às pulsões. Em vez e no lugar de tudo isso, judaísmo, cristianismo e islã defendem: a fé e a crença, a obediência e a submissão, o gosto pela morte e a paixão pelo além, o anjo assexuado e a castidade, a virgindade e a fidelidade monogâmica, a esposa e a mãe, a alma e o espírito. Equivale a dizer a vida crucificada e o nada celebrado...” (Michel Onfray) Um livro de peso da Martins Fontes.


ARLINGTON PARK

Rachel Cusk


Arlington Park acompanha um dia na vida de um grupo de mulheres num subúrbio londrino. Os limites do casamento e da criação dos filhos pontuam a trajetória de Juliet, professora que coordena um grupo de leitura no ensino médio; de Amanda, que trocou o emprego de gerente numa empresa de recursos humanos pelas tarefas domésticas; de Maisie, recém-chegada da capital; de Solly, que reforça o orçamento hospedando estudantes estrangeiras, e de Christine, dona de casa que prepara um jantar para aquela noite. Lançamento da Cia das Letras.

LANÇAMENTOS DE PÊSO


Por Myrtha Ratis


103 CONTOS DE FADAS

Angela Carter


Durante o início da década de 1990, a escritora inglesa Angela Carter coletou em dois volumes, para a editora Virago, contos de fadas do mundo inteiro, tendo concluído a segunda coletânea pouco antes de morrer. 103 contos de fadas, baseado numa edição póstuma publicada na Inglaterra em 2005, reúne pela primeira vez todas as histórias organizadas por Carter, formando um verdadeiro e extenso painel do folclore mundial e das tradições narrativas dos mais variados povos, do Ártico à Ásia. Mas apesar do nome, há poucas fadas nessas páginas, e o leitor também terá dificuldades em encontrar príncipes encantados e similares. Escritas numa época em que esse tipo de história não era destinado a crianças, as fábulas aqui contidas dão lugar a uma série de tias malévolas, esposas traiçoeiras, irmãs excêntricas e perigosas feiticeiras. Por terem sido registrados em papel pela primeira vez nos últimos duzentos ou trezentos anos, os contos oferecem - correndo por detrás da trama - um retrato do dia-a-dia no mundo pré-industrializado e um pouco das dinâmicas sociais e outros detalhes que com o tempo se perderam. Mais que isso, na tradição das histórias italianas reunidas por Italo Calvino, esses contos de fadas oferecem um registro precioso de algumas matrizes que posteriormente acabaram assimiladas pela literatura ocidental. Um delicioso lançamento da Cia das Letras.

DÁ MÊDO ATÉ DE ASSISTIR


O Surgimento de um clássico: Cinema Fantástico
POR JEAN LIMA

A mocinha indefesa, o facão ilumina na luz da câmera, a música clássica aumenta no suspense escasso, o sangue jorra, o horror torna-se inevitável, mãos cobrem o rosto, sadismo, ambiente fúnebre, o mal algumas vezes vence o bem, o bem na verdade, pode ser o mal, que coisa é essa?A narração mostra um pouco do gênero cinematográfico conhecido como o cinema “Fantástico” ou simplesmente de “Horror”. Usurpado da literatura, o modelo de filme apresentou suas primeiras adaptações em “O Médico e o Monstro” de Robert L. Stevenson e no imortal “Drácula” de Bram Stoker, isso em meados de 1913. Hoje, o gênero é motivo de verdadeiras peregrinações em sebos e cinematecas por aficionados, quase como uma devoção religiosa. Para alguns, o cinema do “Horror” é o lado bizarro das telas, sem profundidade, sem sentido específico, morte, sangue, crueldade, covardia, simplesmente cultura inútil. Mas a história do gênero “Fantástico” nasceu exatamente no ambiente descrito acima. A Alemanha armava-se para sua primeira guerra mundial e, como a maioria dos movimentos artísticos, o “Horror” cresceu na adversidade. A juventude alemã encontrou no cinema a sua forma artística para retratar uma situação “quase” irretratável. Nesse ambiente nasceram produções como “O Estudante de Praga” e “O Golem”. O grande start para o movimento surgiu da arte expressionista alemã, em figuras emblemáticas como Dr. Caligari, Nosferatu e Dr.Mabuse, que deram suas consideráveis contribuições para fomentar este debut do "Fantástico".Por volta dos anos 30, o soturno mercado chega a América, como uma espécie de cinema de “verdade”, com isso, teve maior alcance e notoriedade. O ambiente para o desenvolvimento das obras não foi diferente da descrita na Alemanha, outra situação degradante estava em andamento. O "crash" da bolsa de valores em 1929, ocorrido nos EUA, criou outro cenário favorável para o crescimento do estilo. A multinacional Universal Pictures resolveu apostar no gênero, “com bala na agulha” e apetite para alavancar essa "nova onda", arriscou em produções como, “Drácula” e “Frankenstein”, ambos dirigido por Tod Browning. Isso consagrou Bela Lugosi e Boris Karlof, o cinema fantástico finalmente atraiu grande visibilidade.Com "solo fértil e a semente plantada", uma enxurrada de "filmes fantásticos" invadiram os cinemas, que arrastou uma verdadeira legião de fãs reproduzido em títulos como: “A Múmia” de Karl Freund (1934), “O Gato Preto” de Edgar Ulmer (1934), “A Noiva de Frankenstein” de James Whale (1935), “A Ilha do Dr. Moreau” de Earle Kenton (1933). Com o "cinema normal" em ascensão e seus atores e atrizes "beatificados", o cinema Fantástico recebe a conotação de arte paralela, jogada à margem. A mesmice e o "fim dos mitos", dos temas, as mesmas histórias, enfim, a falta do ineditismo, que contribuíram para uma queda considerável deste gênero, criou uma crise que se arrastou até meados dos anos 50. Eis que entra em cena uma produtora britânica a "Hammer Films", incorporando novas tendências, enredos e o advento da cor, não esquecendo seus mestres Frankenstein e Drácula. O cinema fantástico dá sua volta por cima e reencontra os bons tempos de lado B, que se estende até o inicio dos anos 70. Infelizmente a Hammer Films acaba e o gênero é esquecido. Até hoje o gênero “sobrevive”, a trancos e barrancos, e tenta seguir, embora sem a mesma genialidade e originalidade dos áureos tempos de outrora.No Brasil, o movimento teve a sua época, mas foi nas mãos do mestre José Mojica Marins, o Zé do Caixão, que o gênero teve seu ápice nos anos 60 e ainda sobrevive graças a produtoras independentes que ainda desenvolvem suas edições inéditas e relançam DVD's e títulos cavernosos, que podem ser adquiridos no mercado alternativo, ou seja, no lado B da coisa. Talvez daí explique-se esta devoção por parte de cinéfilos, curiosos e descolados de plantão. O custo, para a aquisição de uma obra rara, chega à casa das três cifras "antes da virgula". Hoje, a procura e o estudo desses itens tem sido tema de palestras, cursos e até mesmo, “vejam vocês”, teses de mestrado. Não pensem que filmes como “Pânico”, “Sexta-Feira 13” e “A Hora do Pesadelo” não fazem parte do cinema de “Horror”, a única diferença é que tais títulos ficam no plural, ou seja, gêneros “Horrorosos”. Isso sim, dá medo, horror, raiva e sono de assistir”. Por isso eu sempre digo: na arte, prefiram os clássicos.

“Diversa coisa não dizia, ali pousada, a ave sombria,/com a alma inteira a se espelhar naquelas silabas fatais./Murmuro, então, vendo-a serena sem mover uma só pena/enquanto a mágoa me envenena: “Amigos... sempre vão-se embora”./Como a esperança, ao vir à aurora. Ele também há de ir-se embora “./E disse o Corvo : “Nunca mais”
O Corvo
De Edgar Allan Poe

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O MESTRE
E como falamos de prêmio só poderíamos deixar para o final o maior de todos os clássicos. Edgar Allan Poe, nascido em Boston, em 19 de janeiro de 1809, sua família estava entre as melhores da região. Porém seu pai, David Poe apaixonou-se pela atriz inglesa Elizabeth Arnold, casou-se com ela e rompeu seus laços familiares, tornando-se ator.Edgar teve dois irmãos, Willian e Rosalie, e sua mãe com apenas 24 anos morre. Apesar da morte de seus pais os três irmãos conseguiram abrigo nas famílias de Richmond, sendo Edgar adotado pelo rico casal John Allan e Frances Keeling Allan.Da Universidade de Virgínia, acabou sendo expulso. Poe era um boêmio que se entregava à bebida, ao jogo e às mulheres, esbanjando o dinheiro que tinha. Com 22 anos, pobre e sem vontade , consola-se publicando: "Poemas". De regresso a Baltimore após aventuras pelo mundo, reencontra seu irmão William, de quem assiste a morte. A sua fama é relativa e dirige o "Southern Literary Messenger" em 1833. Pouco depois, escreveria seu primeiro conto: "Uma Aventura sem paralelo de um certo Hans Pfaal". Fica na direção da revista por dois anos, tendo escrito nessa época vários contos, poemas e resenhas. Aos 27 anos (1836), casa-se com sua prima de 13 anos, Virgínia Clemn. Em 1838 passa a viver na Filadélfia, Nova York, Fordham, até que, de novo, sem dinheiro, a desgraça novamente o alcança. Virgínia teria ido cantar na casa de amigos, mas sofre um acidente que lhe causa uma forte hemorragia interna. Muito doente acaba por morrer em 1847.Em 1849, Allan Poe publica "O Corvo". Porém seu comportamento público só provoca censura. Entrega-se então a mais uma fase de bebida Sua conduta provoca censuras acres da imprensa e da sociedade. O trabalho fica cada vez mais cansativo e Poe se entrega mais e mais à bebida. Em Baltimore certa manhã os passantes encontram um homem agonizante, na sarjeta. O homem sem documentos e dinheiro, era Edgar Allan Poe. Conduzido ao hospital, não resistiu e morreu aos 39 anos. Na manhã de domingo, 07 de outubro de 1849, aquietou-se e pareceu repousar por um breve momento. “Depois, movendo devagar a cabeça, disse: 'Senhor, ajudai minha pobre alma.'E assim morreu como vivera em grande miséria e tragicamente”, escreveu Hervey Allen na introdução de suas obras completas.



UM MESTRE E OUTROS TANTOS


POR MYRTHA RATIS
Sem dúvida alguma Stephen King é o grande fenômeno de vendas quando se trata de literatura de terror. Um pouco gênio, um pouco pródigo negociante de obras literárias, tem altos e baixos, talvez por que muito de sua lavra saia da mão de seus colaboradores. Nascido em 21 de setembro de 1947, em Portland, foi criado por sua mãe, uma vez que seu pai abandonou a casa. Stephen dava aulas de inglês no Instituto Público de Hampden, Maine e escrevia às noites e aos fins de semana. Contando com o apoio e a crítica de Tabitha sua esposa, foi aperfeiçoando sua técnica narrativa e em 1973, a editora Doubleday concordou em publicar Carrie, que obteve espantosa vendagem, possibilitando que King passasse então a se dedicar exclusivamente a escrever. Após a morte de sua mãe, King transferiu-se para o Colorado, onde escreveu O resplendor e A Zona Morta, ambos em 1975. Em 1976, Carrie foi adaptado para o cinema, fazendo com que a carreira de Stephen King tivesse um impulso meteórico. Stephen King mora em Bangor, no Maine, e tem sérios problemas de visão e está ficando dia a dia mais cego. Seu patrimônio está baseado em mais de 82 milhões de livros impressos.Anne Rice nasceu em 4 de outubro de 1941 em Nova Orleans, cidade que serve de cenário para grande parte de seus romances. Ela é formada em Ciência Política e Escrita Criativa pela Universidade de San Francisco. Publicou seu primeiro romance, o hoje consagrado Entrevista com o vampiro, em 1976, após a morte de sua filha Michele, vítima de leucemia. Atualmente, a autora vive em Nova Orleans, em um casarão vitoriano no Garden District, próximo ao cemitério Lafayette. Foi casada com o poeta e artista plástico Stan Rice, morto em 2002. Ela é mãe do também escritor Christopher Rice.A Editora Rocco já publicou de Anne Rice A História do Ladrão de Corpos, A Hora das Bruxas Vol. I e vol. II, A Múmia, A Rainha dos Condenados, chore Para o Céu, Entrevista com o Vampiro, Lasher, Memnoch, Merrick, O Servo dos Ossos, O vampiro Armand, O Vampiro Lestat, Pandora, Sangue e Ouro, Taltos, Violino, Vittorio e O Vampiro e A Fazenda Blackwood - Crônicas vampirescas, onde Tarquinn Blackwood, um jovem sedutor e excêntrico, é o único herdeiro da imensa propriedade às margens do Pântano de Sugar Devil que leva o nome de sua família. Robert Louis Stevenson é outro clássico, em especial por suas obras “O Médico e Monstro” e “O Demônio na Garrafa”. O que muita gente não sabe é Stevenson usava o pseudônimo Tusitala, que na língua das ilhas Samoa significa “aquele que conta histórias”. Por volta de 1892 o seu conto “O Demônio na Garrafa”, para ele esta era a mais importante peça da coletânea intitulada Serões das Ilhas. Stevenson chega a considerar que essa obra prima era história já contada e que seria certamente aproveitada por outros autores. Quem nos desvenda tudo isso Carlo Ginzburg em seu livro “Nenhuma ilha é uma ilha” quatro visões da literatura inglesa (Companhia das Letras) Não dá para deixar de fora Ira Levin, considerado pelo próprio Stephen King como o “relojoeiro suíço do romance de suspense”. Ira, que já nos deu no passado o Bebê de Rosemary que virou um angustiante filme com Mia Farrow, e depois Mulheres Perfeitas.

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Já a Loira do Banheiro não é tão feia e consta no folclore jornalístico que foi mais uma criscuolada (adjetivo da imprensa paulistana) para vender-se mais jornal e livremente inspirada em uma propaganda televisiva, onde aparecia uma loira que ajudava os homens a fazer uma barba com mais suavidade (sic). Esta lenda urbana é muito famosa entre os alunos de escolas da rede pública na cidade de São Paulo e acabou por chegar por Recife assustando até coleguinhas aqui do nosso Suplemento Cultural.A “versão oficial” da lenda é que uma garota muito bonita de cabelos loiros com aproximadamente 15 anos, sempre planejava maneiras de matar aula. Uma delas era ficar no banheiro da escola esperando o tempo passar. No entanto um dia, um acidente terrível aconteceu. A loira escorregou no piso molhado do banheiro e bateu sua cabeça no chão. Ficou em coma e pouco tempo depois veio a falecer.


Para que esses mitos não se percam, contamos a tradição oral e sua inclusão nas mais variadas formas de arte. Foi assim que esses assustadores seres ganharam uma nova oportunidade em um livro infanto-juvenil de Luciana Garcia. A autora de “O Mais Misterioso do Folclore” (editora Caramelo) com auxilio dos ilustradores Roger Cruz e Bruna Brito atualiza o folclore brasileiro. Traz muito dos mitos antigos e indígenas e inclui os urbanos e recentes. São histórias de assustar e só recomendáveis para maiores de oito anos, porém, não há como negar que ela encontrou uma forma simpática de contá-las. Talvez por ser escritora e jornalista conseguiu traçar um perfil de cada personagem com qualificação digna de caderno variedades, e assim ficamos sabendo que o Boto detesta homens e adora uma balada ou ainda que A loira do Banheiro adora dar sustos e detesta a inspetora da escola, que insiste em dizer que ela não existe!
OS CLÁSSICOS
Como em todo o tema temos os clássicos, e quando falamos em literatura melhor ainda. O clássico do terror competindo com múmias, bruxas e lobisomens é o vampiro. Vampiros de verdade, como bons Bela Lugosi e Christopher Lee (e mais tardiamente Peter Cushing) estão em falta, mas na história o terrível Drácula realmente existiu. O Conde Drácula, ou Grande Vampiro era Vlad Tepes, um príncipe romeno que herdou de seu pais o título Drácula, isso é “filho de Dracul”. Sanguinário, habitava um castelo como o personagem criado por Bram Stoker. Não saía voando e se transformando, porém torturava e tinha “refinado” gosto por sadismo sexual. Consta que empalava mulheres. Nunca se soube que gostava de beber sangue como seu personagem, mas era impiedoso para com seus inimigos e é considerado um herói em seu país, a Romênia.
Se Bram Stoker foi o iniciador (de sucesso) desta literatura de vampirismo, abriu uma senda para muitos outros. São considerados clássicos os pioneiros Dom Augustin Calme (1672-1757) com seu "Traité sur les apparitions, etc..."; John William Polidori (1795-1821) “O Vampiro" e logicamente Bram Stoker (1847-1912) “Dracula". Joseph Sheridan LeFanu escreveu o belo e assustador "Carmilla".
Depois vieram Howard Philippe Lovecraft (1890-1937) “A Mansão Maldita" e Catherine Moore "Shambleau"; Richard Matheson "Eu sou uma lenda"; Stephen King com "Salem" e Anne Rice. Vamos falar sobre estes dois últimos, novos campeões de vendagens.
POR EDUARDO CRUZ

SUSTOS PARA TODOS OS GOSTOS




Para esclarecer mais sobre os Sacis, basta entrar em contato com duas associações existentes a de caçadores e a de criadores. O engenheiro José Oswaldo Guimarães, por exemplo, é presidente da Associação Brasileira de Caçadores de Sacis, entidade que possui mais de cem sócios. Dá entrevista para revistas, jornais e TVs com a maior naturalidade.
Outro moleque que anda nu é nada politicamente correto e fuma desbragadamente é o curupira que, normalmente, aparece do tamanho de uma criança de seis ou sete anos. “Toma conta da mata e dos animais que nela vivem. Anda nu, fumando cachimbo de barro e mora nos buracos de árvores portadoras de sapopemas (raízes gigantescas muito comuns nas árvores da floresta amazônica). Anda a pé e é peludo como preguiça real. As unhas são compridas, o calcanhar para frente e os artelhos para trás. Quando alguém não consegue matar, caçar ou pescar, ou quando sua roça nada produz, faz contrato com o mesmo de oferecer tabaco (de meia arroba para cima), cachaça (pelo menos quatro litros) e fósforos (além de seis maços)”. Quem nos informa com tais detalhes de quantidades são os autores do livro Festas de Santos e Encantados Napoleão Figueiredo e Anaiza Vergolino Silva.
Como estamos vendo, em sua grande maioria, as lendas são relatos anônimos que tentam explicar os fatos e mistérios da vida por meio de episódios heróicos ou sobrenaturais, geralmente, misturando realidade e fantasia. Já os mitos, são narrativas simbólicas, que associam as forças da natureza e os aspectos da condição humana a fatos vivenciados por deuses, heróis ou seres sobrenaturais. “No folclore esses mitos costumam ser figuras fantásticas, ou mesmo assombrações, que aparecem para causar o mal ou alertar as pessoas sobre o futuro”.
Já a Moura Torta, nome mais popular da estória, denuncia sua antigüidade, alusiva à escravaria moura, com as velhas feiticeiras, cegas de um olho, misteriosas e sinistras. Faz parte da estória das Três Cidras de Amor, uma das mais vulgarizadas na Europa e constante em dezenas de coleções de contos nas principais línguas vivas. As intermináveis bibliografias registrando o três cidras de amor evidenciam não apenas sua popularidade, mas a extensão de sua circulação na literatura oral do mundo, explica Luís da Câmara Cascudo na edição de Contos Populares do Brasil (1954). Em Recife e Olinda diziam que a Moura Torta enfiava alfinetes na cabeça das crianças desobedientes. Pouco, perto do que fazia o Tutu, ou tutu-marambaia, ou ainda o roncador. É uma entidade com que se mete medo às crianças quando choram. A forma em que o idealizam na Bahia é a de um caititu ou porco do mato e daí talvez se origine o nome Tutu, que é popular em todo o Brasil. Na Bahia também Tutu-cambê: Quando os meninos choram o Tutu vem come-los e mais, o Tutu-Cambê é um bicho muito feio e só come os meninos bonitos! O Tutu do povo brasileiro segundo alguns estudiosos é idêntico ao Papão e à Cuca de Portugal.
Além do preconceito étnico contra a Moura temos ainda O Judeu Errante. Sua aparição se dá durante a Quinta-Feira Maior e a Sexta-Feira da Paixão. É um velho alto e magro, muito barbado, cabelo comprido e com um manto escuro. É uma figura mais literária que popular, e as menções vão desaparecendo nas estórias orais. Não lhe dão, no Brasil, outro nome além de "Judeu Errante".
Era sapateiro em Jerusalém, chamado Ahasverus, quando Nosso Senhor com a cruz aos ombros, passou diante de sua tenda. O sapateiro deixou o trabalho para empurrar o Salvador, gritando: "Vai andando! Vai logo!" Nosso Senhor respondeu: "Eu vou e tu ficarás até a minha volta!" E o homem ficou, até hoje, andando pelo mundo, liberto da lei da morte, sem pressa e sem descanso. Espera o regresso do Senhor, que lhe deu a imortal penitência. É de tradição portuguesa. Segundo João Ribeiro em seu livro O Folclore "há vários ditos populares que parecem relacionar-se a esta lenda. Assim é o de marca de Judas, que lembra Malcho Judas ou Marco, um dos nomes do judeu em algumas versões. Também a frase popular, usada para designar lugares remotos, onde Judas perdeu as botas, parece indicar a lenda do sapateiro Ahasverus".

Como se não bastasse tão distinta plêiade os moradores das grandes cidades passaram a criar seus novos mitos, que obviamente, absorvidas pela cultura popular seguem a linha do quem conta um conto aumenta um ponto. E daí vieram o Bebê-diabo, criado pelo jornalista paulistano Criscuolo do extinto Noticias Populares e mais três outros que merecem um certo destaque. São eles o Chupa Cabras e a Loira do Banheiro .O chupa Cabras é um fenômeno espalhado por toda a América latina, que mistura seres extraterrestres com maldições e sortilégios. O personagem ganhou notoriedade na imprensa, inclusive da Pernambucana graças a suas inusitadas formas de matança de animais. Araripina também teve o seu, e população aterrorizada lia que...”Os moradores desta cidade do sertão do Araripe, a 700 quilômetros do Recife estão apreensivos com a possibilidade do fenômeno do chupa-cabras ter chegado à região. O indício é o aparecimento de trinta cabras mortas, sem o sangue, em duas regiões da zona rural”. Isso foi nos idos de 1997, e as cabras que tinham uma perfuração no pescoço receberam o veredicto de que foram atacadas por cachorros e ponto final. O mito já havia sido registrado anteriormente no Equador, Porto Rico e México. O folclorista Paulo de Carvalho-Neto transcreve a seguinte descrição, de um informante de Guaiaquil, no Equador em junho de 1996: "tem a forma de animal, um par de asas, é muito selvagem, mede um metro e quinze e é horrível".



EM TERRA DE PERERÊ



EM TERRA DE PERERÊ QUALQUER MEDO NOS DIVERTE

Nos parece pouco apropriado ficar falando de crendices, lendas e seres fantásticos neste ano domini de 2007. Mas a verdade é só uma, o medo é uma ótima ferramenta para a industria de entretenimento, principalmente, nestes tempos globalizados quando nos empurram goela abaixo, nos outubros, as festas de “ralouim”. Se ralou pouco se nos dá, mas o fato é que o “Hallowen” veio para ficar chutando para escanteio outras muitas manifestações populares e as criancinhas pouco conhecem da cuca, da moura torta de antanho e se fantasiam de bruxas, jasonzinhos e/ou massacradores da inteligência alheia. Mas essa história do terror que vira cult e acaba sendo “terrir” deixamos para o colega de página. Voltando a essa globalização, muitos acreditam que criando o dia do Saci estaremos resgatando nossos mitos, mais ou menos críveis, mas sabidamente incorporados à cultura popular e folclore. Muitos políticos na cidade de São Paulo, Santana do Parnaíba, outros lugares de Minas Gerais e sabe-se lá por onde deste Brasil afora, já encheram o olho com tal idéia.
Montando nesta mula sem cabeça que solta fogo pelas ventas, vamos fazer uma pequena incursão por este mundo mágico.
E TOME MEDO!
Medo de brasileiro é tanto urbano como rural e muitas vezes se mescla e se adapta. Vamos observar mais detidamente alguns desses mitos. O Saci, por exemplo, muito simpático pela pena de Ziraldo, mas um diabinho dos mais cruéis, segundo Monteiro Lobato e outros tantos que o enfrentaram... Seria ele, o Saci-pererê um negrinho de uma perna só, que fuma cachimbo e cobre a cabeça com uma carapuça vermelha? É inofensivo segundo uns e cruel segundo outros, que afirmam que ele se diverte assustando gado no pasto, dando nó em rabo de cavalo e criando pequenas dificuldades domésticas.

sábado, 20 de outubro de 2007