quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Waly SAILORMOON



Bem, não estou falando de delírios. Estou escrevendo sobre delírio. Respeito é bom , eu cuspo nele, mas estou falando do Waly. De quebra estou falando do Cara de Cavalo, do Oiticica, do Sganzela, da Ligia, do Torquato. Ora porra estou falando também do Caetano.

Eu estou falando que vocês precisam, ler, reler ALGARAVIAS. Já fui "riliseiro", assessor, etcoetera! Portanto,
" - O Que é que você quer ser quando crescer?
- Poeta polifônico. " (1995)

Me basta !

Por Eduardo Cruz

Segundo consta no Dicionário Etimológico da Língua Castelhana, “algaravia” é uma palavra coringa, de significado múltiplo: língua árabe, linguagem quase ininteligível e coisa difícil de perceber. “Algaravia” é também o nome de uma planta de arbustos diversos – a exata diversidade lírica que se espraia pela obra de Waly Salomão, contumaz e grande leitor da poesia universal e do mundo, que, enquanto “poeta polifônico”, reprocessava todas as influências para depois canalizá-las em sua própria voz poética de “parangolé” – vocábulo que o artista plástico Hélio Oiticica, amigo de Waly, dizia exprimir a “antiarte por excelência”.


Nesta reedição da coletânea de poemas publicada originalmente em 1996, Algaravias: Câmara de ecos, agraciada com o prêmio Alphonsus de Guimarães, da Biblioteca Nacional, e com o Jabuti, em 1997, na categoria poesia, o mais dileto filho de Jequié, na Bahia, de pai sírio e mãe baiana, trabalha com quatro caminhos temáticos: a reflexão sobre a poesia, o mito pessoal e/ou nacional, a ironia dos périplos e viagens, e a lírica da quase intimidade – e “quase” porque suprimia as fronteiras entre o eu e o outro. “Agora, entre meu ser e o ser alheio/ a linha de fronteira se rompeu.”


O tom fortemente declamatório dos poemas pode confundir o leitor a pensar que a escrita do performático Waly Salomão era um mero derramar de intuições e achados, mas isso não é verdade. Poesia é trabalho. Ou “Alguém acha que ritmo jorra fácil,/ pronto rebento do espontaneísmo?” Poesia é suor, o resto é psicografia. De acordo com o próprio poeta, “para fundar Roma” é preciso “ler, ler e ler”. Waly exercia com seriedade – sem por isso descambar para o clichê institucional de correção e postura – seu ofício de verso, e, como pára-raio cultural, transformava o que absorvia em energia para sedimentar de lampejos calculados e medidos o chão de sua poética.


Nas páginas de Algaravias, o poeta transforma delírio em elegias, dentro do seu estilo palavroso (o que não significa palavras ao vento), como as feitas para o artista catalão Antoní Llena e para a arquiteta modernista ítalo-brasileira Lina Bo Bardi; em poemas dedicados a amigos como o músico Marcelo Yuca, o poeta Chico Alvim e a esposa Marta; em versos que resvalam ou se debruçam sobre grandes nomes da poesia, como os americanos John Ashbery e Wallace Stevens, o inglês William Blake, o francês Paul Valéry e o amigo brasileiro Antonio Cicero.


Por fim, vale ressaltar a força das metáforas walyanas ecoando nas páginas desta coletânea, metáforas que gritam ao leitor uma beleza construída com requinte – “encharcar ao longo do poema inteiro,/ do começo até o fim,/ metáforas, metáforas, metáforas.” O grande escritor argentino Jorge Luis Borges considerava tal figura de linguagem a matéria-prima da poesia. Waly Salomão sabia disso.


EM TEMPO, SAIU A UM TEMPINHO MAS SÓ RECEBI AGORA, É DA ROCCO!

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