JAGUARUNA
Jaguaruna é
uma pequenina cidade lá no Sul de Santa Catarina, perto de Tubarão. A gente
passa pela BR 101 e quase nem se dá conta que ela existe. Que diriam vocês se eu
lhes dissesse que passei férias em Jaguaruna? Pois é, passei – acabo de chegar
de lá. E chego encantada com aquele pequeno lugar cheio de coisas lindas e
possibilidades – vou tentar contar um pouquinho aqui.
Eu sou uma admiradora, diria que uma amante da Arqueologia – e lá em
Jaguaruna têm 53 Sambaquis catalogados desde a década de 1970, o que para mim,
já bastaria para ter amado aquela cidade, mas sobre esta coisa de passado há que
se deixar para outra crônica. Em todo o caso fui para lá por causa de uma
expedição arqueológica que lá estava a estudar rituais num determinado Sambaqui
que, assim por baixo, deve ter umas 43.000 pessoas enterradas. A imprensa contou
sobre a expedição faz pouco tempo, você deve se lembrar. Capitaneava a expedição
cheia de cientistas a grande arqueóloga Madu Gaspar, autora que sugiro que
leiam.
Então, estou em Jaguaruna por causa do passado, mas que doçura de cidade
no presente! Há um centro, claro, cortado pela estrada de ferro, e não sei
quantas vezes por dia soam alarmes, sirenes e se acendem luzes vermelhas – e
tudo pára, porque é a hora de trens carregados de minério de carvão passarem.
Para quem, como eu, que não tem trem por perto, ver aquele trenzão parar todo o centro da cidade é um
espetáculo digno de ser observado.
E há um grande entorno ao centro, uma zona que eu diria “rural”, onde
casinhas que parecem de boneca, caprichosamente pintadas como se fossem de
glacê, vivem no meio de jardins e grandes pastos, onde mansas vacas vivem
harmoniosamente, pastando grama e balançando o rabo, e, com certeza, produzindo
muito leite e muito queijo por todo o município. E há muita agricultura, também,
plantações de aipim, de cana, de árvores... Sei que tudo é bonito, tudo é verde,
tudo é cuidado, inclusive o famoso estádio Pachecão, coisa que só em Jaguaruna
têm!
Claro que nada disso teria graça se não fossem as pessoas. Das que
conheci, só trouxe emoções boas: seu Ari e sua equipe, lá de Garopaba do
Sul; a Mariete e o Jacaré, no
Restaurante Marisquinho; a turma do Restaurante do seu Laguna, que inclusive foi
visitar o sítio onde trabalhávamos; o seu Egídio do Museu; o pessoal da
lindíssima pousada/camping à beira de um lago maravilhoso...
Então, até aí, já temos um lugar encantador. Há que lembrar, ainda, que
as beiradas de Jaguaruna são bordadas de dunas e praias belíssimas, como se o
fossem de renda.
Além dos arqueológicos, o meu grande momento em Jaguaruna, porém, foi
numa imensa praia chamada Jaguá. Era dia de muito vento, quase anoitecia. Eu fui
dar uma caminhada naquela praia quase tão larga quando o Saara, cheia de dunas
como se tivesse um muro. Fui eu andando pela larga faixa de areia úmida,
caminhando em direção do Sul. Então começo a flutuar – sim, flutuar, ou seria
levitar? Que nome se dá para coisa assim? Pois abaixo de mim passou a correr uma
nuvem branca de areia seca, e já não se via mais a areia úmida onde eu pisava, e
era como se estivesse a caminhar sobre nuvens, era como se o mundo todo
estivesse se movendo sob mim e em direção ao Sul – e era uma coisa feérica,
encantada. Parecia que Santa Catarina inteira se movia em direção do Rio Grande
do Sul, comigo a flutuar naquela coisa do outro mundo. Pensei, então, no tanto
de gente que o Rio Grande nos manda sempre – decerto o faz em troca daquelas
nuvens encantadas que levam para lá uma parte de Santa Catarina, nos dias de
vento. Seria um tipo de escambo entre os Estados. Coisa encantada, para além da
nossa capacidade de entendimento. Coisa que a gente só vê em Jaguaruna.
Blumenau, 31 de Julho de 2003.
Urda Alice Klueger
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