segunda-feira, 30 de julho de 2018

Qualidades de um Verdadeiro Espiritualista




por Yugavatara Dasa

Arjuna leva a questão a Krishna, e assim beneficia todos nós.

A Bhagavad-gita é uma conversa entre Arjuna, um guerreiro excepcionalmente talentoso, e o Senhor Krishna, que estava agindo como o quadrigário de Arjuna. A Gita foi falada a fim de encorajar Arjuna a lutar em uma grande guerra. Enquanto dá a Arjuna todos os tipos de conselhos espirituais e materiais, Krishna discute vários tópicos, como karma, o eu, o Ser Supremo, o propósito do yoga, como o nosso ambiente afeta nossa consciência e como alcançar a perfeição final da vida.

Algumas Perguntas de Arjuna

Frequentemente, Arjuna faz perguntas para esclarecer suas dúvidas. Uma dessas questões consta no segundo capítulo da obra. Na Gita (2.54), Arjuna pergunta:

sthita-prajnasya ka bhasa
samadhi-sthasya kesava
sthita-dhih kim prabhaseta
kim asita vrajeta kim

“Ó Krishna, quais são os sintomas daquele cuja consciência está absorta nessa transcendência? Como ele fala, e qual é sua linguagem? Como ele se senta e como ele caminha?”

As perguntas parecem tratar apenas do comportamento externo de uma pessoa, mas Srila Visvanatha Chakravarti Thakura revela o significado interno de cada questão. Bhurijana Prabhu, um discípulo de Srila Prabhupada, em seu livro Surrender Unto Me [sem tradução para o português] cita com muita frequência esse comentário para mostrar que Krishna responde cada parte da pergunta de Arjuna em detalhes. A maior parte deste artigo é baseada nas explicações dadas nesse livro, e algumas declarações são citadas diretamente (com aspas).

A pergunta de Arjuna pode ser dividida em quatro partes: 1) quais são os sintomas do transcendentalista, 2) como ele fala e qual é a sua língua, 3) como ele se senta e 4) como ele caminha.

Krishna responde a primeira pergunta de Arjuna imediatamente, no verso 55: “Ó Partha, quando alguém desiste de todas as variedades de desejo pelo prazer dos sentidos, os quais surgem da trama mental, e quando a sua mente, assim purificada, encontra satisfação apenas no eu, então se diz que ele está em consciência transcendental pura.”

Bhurijana comenta: “O sthita-prajna revela sua posição por não ter apegos egoístas. Ele está desapegado da felicidade e da miséria. Além disso, ele está plenamente satisfeito, fixando sua consciência no eu”. Em outras palavras, ele está equilibrado.

Respondendo a Situações Provocadoras

Krishna, em seguida, responde à segunda pergunta de Arjuna: “Como ele fala?” Esta pergunta quer dizer, Bhurijana explica: “Como a inteligência e as palavras dele são afetadas pela afeição, raiva ou neutralidade de outra pessoa?” Em outras palavras, como ele responde?

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As respostas de Krishna a Arjuna servem como um guia definitivo para os sintomas de um verdadeiro espiritualista.

Krishna responde na Bhagavad-gita (56-57): “Aquele cuja mente não é perturbada mesmo estando rodeado das três classes de misérias, e nem se exalta quando há felicidade, e que está livre do apego, do medo e da ira, é chamado ‘um sábio de mente estável’. No mundo material, quem não se deixa afetar pelo bem nem pelo mal que venha a obter, sem louvá-lo nem desprezá-lo, está firmemente fixo em conhecimento perfeito.”

Srila Prabhupada elabora sobre essa qualidade de um transcendentalista em seu significado: “Tal pessoa em plena consciência de Krishna não se deixa perturbar de modo algum pelas investidas das três classes de misérias, pois aceita todas as misérias como misericórdia do Senhor, e considera-se merecedora de ainda mais sofrimentos devido a suas más ações passadas; e ela vê que suas misérias são reduzidas ao mínimo, pela graça do Senhor. Do mesmo modo, quando se sente feliz, ela reconhece que isto é obra do Senhor, e considera-se indigna de receber tal felicidade...”

É fácil trocar amor por amor. Quando alguém, mesmo que seja um estranho, nos cumprimenta com um amoroso “oi”, é muito fácil retribuir com um alegre “olá”. Mas isso não revela completamente como “falamos” ou respondemos. O teste do nosso discurso é como reagimos quando alguém nos inflige uma agressão mental usando suas cordas vocais. Permanecemos calmos ou explodimos? Reagimos violentamente em situações muito provocadoras?

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O teste de nosso autocontrole vem em situações provocadoras.

Precisamos aprender a falar agradavelmente mesmo com aqueles que são hostis a nós. Isso ajudará a diminuir a amargura nos relacionamentos. Uma resposta doce pode até evitar um possível confronto.

Certa vez, um homem se aproximou de um vendedor de papagaios para comprar um papagaio. O vendedor de papagaios disse: “Eu tenho esse papagaio especial para você. Se você puxar a perna dele, ele canta o nome de Krishna. E se você puxar a outra, ele canta o nome de Rama.” A pessoa ficou emocionada ao ver um papagaio tão santo, e ele imediatamente o comprou. Sempre que convidados visitavam sua casa, esse homem mostrava orgulhosamente seu papagaio para eles e os fazia ouvir os nomes divinos de Krishna e Rama da boca do papagaio.

Um dia, ele pensou: “Se meu papagaio canta o nome santo ao puxar uma das pernas dele, tenho certeza que, se eu puxar as duas pernas dele, ele cantará todo o maha-mantra Hare Krishna.” Quando ele se aproximou do papagaio e puxou ambas as pernas, o papagaio gritou: "Seu tolo! Você não entende que eu vou cair e quebrar a minha cabeça?”

A lição que aprendemos com esta história é que não podemos manter uma gentileza artificial por muito tempo. Nossas reações, especialmente nossa fala, devem ser controladas em situações felizes e dolorosas. O próprio Krishna aconselha mais tarde na Gita (17.15): “A austeridade da fala consiste em proferir palavras verazes, agradáveis, benéficas e que não perturbam os outros.”
  
Contenha-se. Não se Deixe Levar.

A próxima pergunta de Arjuna é: “Como ele se senta?” De acordo com Srila Visvanatha Chakravarti Thakura, isso significa “Como ele não usa seus sentidos? Qual é a sua mentalidade quando seus sentidos são impedidos de encontrar seus objetos?” O Senhor Krishna responde nos próximos dois versos da Gita (58-59): “Aquele que é capaz de retirar seus sentidos dos objetos dos sentidos, assim como a tartaruga recolhe seus membros para dentro do casco, está firmemente fixo em consciência perfeita. A alma encarnada pode restringir-se do prazer dos sentidos, embora o gosto pelos objetos dos sentidos permaneça. Porém, interrompendo tais ocupações ao experimentar um gosto superior, ela fixa-se em consciência.”

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O transcendentalista é capaz de retirar seus sentidos dos objetos, tal qual a tartaruga recolhe seus membros.

Nosso poder de controle sensorial é testado na solidão. É fácil mostrar santidade em público, mas um verdadeiro santo mantém sua pureza tanto na vida pública quanto na privada. Hoje, se uma pessoa é deixada sozinha por algum tempo, ela automaticamente se volta para a internet para ficar presa dentro na internet. Muitas vezes, essa jornada virtual começa com a exibição de notícias diárias, prossegue para vídeos de entretenimento e acaba na exibição de coisas ilícitas. O lazer deve ser usado para relaxar, mas as atividades de lazer não devem degradar nossa consciência. O tempo de lazer deve nos ajudar a marchar em direção à paz, em vez de nos agitar.

Se estivermos lutando para restringir nossos sentidos, devemos tentar desviá-los para atividades espirituais como yoga físico, meditação com mantras ou leitura de escrituras, como a Bhagavad-gita. Isso ajudará a purificar a mente e controlar os sentidos.

O Remédio para a Mente Louca

Começando com o verso 64 e continuando quase até o final do capítulo dois, Krishna responde à última pergunta de Arjuna: “Como ele caminha?” O propósito dessa pergunta é: “Como um homem em transcendência usa seus sentidos?”

Krishna diz: “Aquele que, livre de todo apego e aversão, é capaz de controlar seus sentidos através dos princípios reguladores da liberdade pode obter a misericórdia completa do Senhor. Para alguém assim satisfeito [na consciência de Krishna], as três classes de misérias da existência material deixam de existir; nesta consciência jubilosa, a inteligência logo se torna resoluta.”

“Bem estabelecido” significa que a entidade viva deve estar conectada a Krishna através da consciência de Krishna. Em tal estado, ela pode estar livre de atrações e aversões materiais e tornar-se plenamente satisfeita. Bhurijana comenta: “Sem bhakti, o serviço devocional a Krishna, independentemente do que alguém possui ou do que faz, ninguém fica satisfeito.”

Mais tarde, na Gita (9.14), Krishna descreve as atividades dos grandes transcendentalistas: “Sempre cantando Minhas glórias, esforçando-se com muita determinação, prostrando-se diante de Mim, essas grandes almas adoram-Me perpetuamente com devoção.” A palavra “sempre” é importante aqui. Se a mente hiperativa é destituída de um compromisso constante, ela enlouquece e leva a alma à degradação. Qual poderia ser a atividade melhor e mais eficaz pela qual podemos controlar nossa mente e nossos sentidos? As escrituras védicas explicam que cantar os santos nomes de Krishna é o melhor remédio para a mente maníaca. O santo nome fixa a mente em Krishna e, assim, purifica a mente de todas as contaminações que surgem devido ao envolvimento anterior em atividades pecaminosas.

Em conclusão, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Krishna, responde perfeitamente à pergunta de Arjuna, citando os sintomas internos do transcendentalista, sthita-prajna.

Tradução de Ekanistha Radha Devi Dasi.


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