Fernando Ribeiro é um dos oito artistas
selecionados que, a partir de março, apresentam seus trabalhos ao lado da
artista sérvia, no Sesc Pompeia, em São Paulo
Durante os dois
meses em que a exposição retrospectiva Terra
Comunal – Marina Abramović + MAI, da artista sérvia Marina Abramović
permanece em cartaz, no Sesc Pompéia, em São Paulo, o artista da performance
Fernando Ribeiro, de Curitiba, assume a persona de um datilógrafo full time. De 11 de março a 10 de maio, ele
poderá ser rastreado pelos visitantes da exposição pelo “tec-tec-tec” de sua
máquina de escrever portátil, parceira inseparável com a qual vai,
praticamente, “morar” nos diversos espaços ocupados pela mostra.
Fernando Ribeiro é
um dos oito artistas brasileiros convidados por Marina Abramović para exibir
seus trabalhos ao vivo, em espaços contíguos aos de sua própria mostra
retrospectiva – a maior já realizada pela artista na América do Sul, e que
inclui vídeos, registros de suas pesquisas com cristais brasileiros e instalações
que retomam performances recentes como 512 Horas, apresentada na Galeria
Serpentine, de Londres.
Os artistas
nacionais foram escolhidos pela própria Marina, após uma seleção de portfólio, em
janeiro de 2014. “Depois das conversas iniciais, ela pediu a cada artista três
projetos no portfólio final. E, no meu caso, queria que O Datilógrafo fosse um deles”,
conta o artista. O grupo também participa de workshops ministrados por Marina
Abramović em uma imersão de cinco dias em um sítio, no início de março.
A escolha de
Fernando Ribeiro para participar deste seleto grupo de artistas brasileiros não
se deu ao acaso. Na última década, o curitibano ganhou reconhecimento como um
dos promotores da divulgação, reflexão e discussão da performance art no Paraná. Além de seu próprio trabalho artístico, iniciado
em 1999, o artista de 36 anos atua como curador da p.ARTE – Mostra de
Performance Art, em parceria com Tissa Valverde. Criado em 2012, o evento realiza
uma exibição mensal de performance art
na Bicicletaria Cultural, no centro de Curitiba.
Este ano, Fernando
se prepara para realizar mais uma curadoria para a Bienal Internacional de
Curitiba, função que já havia assumido na edição anterior, em 2013. “A Bienal é
a primeira a ter uma curadoria específica em performance art”, conta.
A performance
“O Datilógrafo” teve sua primeira versão
apresentada em 2009, no Sesc da Esquina. “Naquele momento, eu tinha uma
interação direta com o público”, conta o artista. Desta vez, ele irá bater à
máquina de terça-feira a domingo, oito horas por dia, sem se comunicar com
ninguém. O que parece ser uma atividade introspectiva é, na verdade, a
performance em que Fernando Ribeiro mais se se expõe – e olha que ele já se
enrolou em plástico de PVC provocando estranhamento entre os transeuntes de ruas
movimentadas (“Eu e o Público, 2011) e correu despido em direção a uma parede recém-pintada,
para em seguida jogar-se em outra parede em branco (“Monotipando, 2002). “Vou
me expor pela escrita, que será minha única forma de comunicação”, diz. As
páginas com as reflexões do artista sobre a própria experiência serão colocadas
em um recipiente transparente, à medida que forem sendo preenchidas, para serem
lidas pelo público e, futuramente, publicadas.
Único artista sem
espaço expositivo próprio, Fernando terá total liberdade para usar sua
Remington 25 nos diversos espaços da exposição – das salas de Marina Abramovic
ao banheiro. Com um trabalho calcado na exploração da ação, em um sentido amplo,
desta vez o curitibano utiliza a escrita pela primeira vez como rastro de uma
ação. “Paul Ricoeur dizia que compreendemos o tempo narrativamente”, conta o
artista, que frequentemente flerta com a filosofia em suas performances.
Mas por que digitar
à máquina, e não em um laptop, por exemplo? “A datilografia surge, em primeiro
lugar, como um traço biográfico. Sou hábil datilógrafo, com três cursos e um
estágio em uma escola de datilografia”, gaba-se. Mas, também pelo som das
batidas ao teclado, que ativa a memória dos visitantes mais velhos e atiça a
curiosidade dos mais jovens, acostumados a ouvir o mesmo barulhinho ao teclar
mensagens no celular. A questão do erro, impossível de ser removido na
datilografia, também interessa ao artista justamente porque deixa um rastro
temporal. “O erro, aqueles ‘xxx’ sobrepostos às palavras, marcam a
temporalidade do texto de forma explícita”, diz.
Trajetória
Bacharel em Artes
Visuais pela Universidade Tuiuti do Paraná (2002) e especialista em Estética e
Filosofia da Arte pela Universidade Federal do Paraná (2010), Fernando Ribeiro
iniciou seus estudos sobre a performance em 1999. Desde então, já apresentou
seus trabalhos em diversos festivais e exposições do país e do exterior, entre
eles: O Corpo na Cidade: performance em
Curitiba, 2009; Performa Paço – São Paulo, 2011; Direct Action 2011 –
Berlim, Hannover e Londres, 2011; Urbe-Brote Urbano – Buenos Aires, 2011;
Defibrillator Performance Art Gallery – Chicago, 2012; Mobius Inc – Boston,
2012; Grace Exhibition Space – Nova York, 2012; Miami Performance International
Festival – Miami, 2013; e II Mostra de Arte Performática do Sesc Paço da
Liberdade, 2014.
Mais informações sobre o artista:
Serviço:
Terra Comunal - Marina Abramović + MAI
Local: Sesc São Paulo – unidade Pompeia
(Rua Clélia, 93)
Data: 11 de março a 10 de maio de 2015
Horários: terça a sábado, das 10h às 21h, e
domingo, das 10h às 18h
Classificação indicativa: não recomendado
para menos de 12 anos
Entrada gratuita
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