quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

III Cúpula da CELAC


Nos dias 28 e 29 de janeiro aconteceu a III Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), em San José, Costa Rica. Um dos principais pontos da pauta desta reunião foi a discussão de medidas para o combate à pobreza na região. Dois dias antes do Encontro, a Cepal divulgou um relatório sobre o panorama social na América Latina, que indica uma estagnação na redução da pobreza na região. Segundo os dados agregados, entre 2002 e 2012 a pobreza diminuiu de 43,9% para 28,1% da população latino-americana e caribenha. Contudo, o ritmo da redução tem caído desde 2008. De acordo com a Cepal, seria possível separar esta redução progressiva em dois períodos: queda mais acentuada de aproximadamente 10% entre 2002 e 2008 e de 5% entre 2008 e 2012. Desde então o percentual se mantém em torno de 28% em 2013 e na projeção para 2014. Registra-se também nos últimos dois anos um pequeno aumento no índice da pobreza extrema, de 11,3 para 12% na região.
Diante deste cenário, entre as primeiras medidas do Plano de Ação 2015 da Celac estão ações de cooperação na área de desenvolvimento social e agricultura familiar, com o compromisso de erradicar a fome até 2025 na região, com a implementação do Plano de Segurança Alimentar elaborado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) FAO, Cepal e Associação Latino-americana de Integração (Aladi).
Do ponto de vista geopolítico e econômico, esta III Cúpula também ocorre em um momento significativo. Os presidentes e as presidentas presentes saudaram a reaproximação entre Estados Unidos e Cuba, e demandaram o fim do bloqueio econômico que assola a economia cubana há décadas. Ainda que o bloco não tenha mediado diretamente esta aproximação, vale contextualizá-la nos movimentos progressivos de esvaziamento da Organização dos Estados Americanos (OEA) e de construção de um espaço político latino-americano mais autônomo, ainda que diverso, tendo na própria realização da II Cúpula da Celac em Cuba, há um ano, um marco simbólico.
Além disso, 2015 promete ser um ano importante para a consolidação da Celac como um fórum institucionalizado de interlocução com outras regiões. Isto já se esboçou no início do ano no Fórum Ministerial Celac-China e voltará à tona com a II Cúpula Celac-União Europeia, em junho, em Bruxelas.

Em um cenário internacional no qual novas e velhas potências disputam espaço e no qual os países latino-americanos e caribenhos, com seus modelos diversos de inserção internacional, sofrem com os impactos da crise global e da queda acentuada nos preços da commodities, consolidar a coordenação política, apesar das diferenças, será essencial para garantir peso em negociações, tanto inter-regionais, quanto no âmbito multilateral, que neste ano terão capítulos importantes, como o regime de mudanças climáticas pós-Kyoto e os novos objetivos de desenvolvimento pós-2015.

Análise: Terra Budini, internacionalista
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