domingo, 8 de junho de 2014

Boletim Diário de Política Social - Saúde pública: Pesquisa investiga partos e nascimentos no Brasil




Saúde pública: Pesquisa investiga partos e nascimentos no Brasil
Resultados preliminares da pesquisa ”Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento”, realizada pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), mostram que a proporção de cesarianas no Brasil está aumentando. Segundo a pesquisa, o percentual de partos cesáreas no Brasil em relação ao total é de 52%, sendo 46% na rede pública e 88% na rede privada. A Organização Mundial da Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e as Nações Unidas (ONU) recomendam que somente 15% dos nascimentos ocorram por procedimento cirúrgico, percentual no qual devem estar incluídas intercorrências que coloquem em risco a vida da mãe ou a do bebê.

A pesquisa também mostra a variação da opção das grávidas ao longo da gestação: entre as grávidas por primeira vez atendidas no setor público, 15,4% das entrevistadas iniciaram a gravidez optando por cesariana, número que cai para 15% ao fim da gravidez, mas 44,8% dos partos realizados são cesarianas. No caso das grávidas por primeira vez atendidas no setor privado, 36,1% das mesmas iniciam a gravidez optando por cesarianas e esse número sobe para 67,6% ao fim da gestação; no entanto, 89,9% dos partos realizados são cesarianas. Já entre as grávidas por segunda ou mais vezes, somente 29,2% das mulheres atendidas no setor público manifestam preferência inicial por cesariana, que se altera para 27,4% ao fim da gestação, mas 40,7% dos partos são cesarianas. Entre as grávidas por segunda ou mais vezes atendidas no setor privado, a preferência por cesarianas começa em 58,8%, passa a 75,4% no fim da gestação e 84,5% dos partos são cesarianas.
Segundo a pesquisa, estudos internacionais têm mostrado os riscos de cesarianas desnecessárias para o recém-nascido e para as parturientes. Para recém-nascidos, os efeitos descritos podem ser: aumento da mortalidade neonatal, aumento da chance de internações e nascimentos de prematuros evitáveis. Estudos ainda associam o parto natural a benefícios para a saúde da criança, como menor propensão a diabetes, asma, alergias e outras doenças não transmissíveis. Para a mãe, a cesárea aumenta chances de hemorragia, infecção e dificulta sua recuperação, dentre outros.
Porém, mesmo nos partos normais, segundo a pesquisa, o atendimento no Brasil não atenderia às boas práticas recomendadas pela OMS: entre as gestantes que tiveram parto normal, 95% relataram ter sido submetidas a procedimentos reprovados pela Organização Mundial da Saúde. Já 16% do total de entrevistadas afirmam ter procurado mais de um hospital durante o trabalho de parto, aumentando os riscos de complicações. Os dados revelam ainda a escassez de medicamentos e equipamentos necessários aos atendimentos de emergência.
Os pesquisadores defendem modelos de atenção ao parto e nascimento conduzidos por enfermeiros obstétricos e obstetrizes, que aumentam as chances de partos espontâneos e diminuem intervenções desnecessárias; bem como a atuação conjunta da sociedade para avaliar a estrutura das maternidades, redimensionar os recursos, identificar falhas no acesso, influir nas prioridades e implementação de boas práticas de atenção. É preciso ainda, segundo a pesquisa, ampliar o debate sobre parto e nascimento, com vias de reduzir desigualdades regionais e sociais e lutar pela ampliação do investimento no SUS.
Para ler mais:

As mentiras da Veja sobre gravidez e partos no Brasil
leia aqui

Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento (resultados preliminares)
leia aqui

Nos hospitais privados brasileiros, 88% dos partos são cirúrgicos, diz estudo
leia aqui

Número de cesarianas no Brasil é mais que o triplo do recomendado pela OMS
leia aqui



Análise: Ana Luíza Matos de Oliveira, economista

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