DAN GALERIA EXPÕE OBRAS DE JUAN ASENSIO PELA PRIMEIRA VEZ NO BRASIL
Sem título, 2013, mármore branco
Ao
esculpir, Juan Asensio define formas até que elas fiquem tão belas que
marcam a sua busca pela perfeição. Ao combinar o controle do material e
objetivo claro do que se quer com ele, o artista espanhol tornou-se, no
cenário de arte contemporânea, um dos poucos escultores que primam pela
beleza clássica e pela essência primária dos seus materiais.
Pela
primeira vez, as esculturas de Juan Asensio são expostas no Brasil, a
partir do dia 29 de março, na Dan Galeria. Depois de dividir a sala com
artistas como Picasso, Pollock, Kiefer e Anish Kapoor, no museu Reina
Sofia, em Madri, e na Gallerie Beyeller, na Suíça, Asensio aporta em São
Paulo alguns dias antes da SP-Arte/2014, para a mostra “Geometria
infinita”. Além da abertura, a Dan Galeria também festeja a exposição e a
chegada do artista com um brunch durante a feira, na sexta-feira, 4 de
abril.
As
cerca de 50 esculturas expostas na galeria, feitas de granito e
mármore, têm tamanha força e imponência que apequenam os visitantes. São
várias as fases de produção dessas obras; a começar pelo desenho, que
esboça uma primeira ideia. Depois, a dificuldade de desenhar volumes
aparece na segunda etapa da produção, quando Asensio esculpe em pedaços
de giz. São feitas centenas de provas e variações, que são guardadas ou
jogadas fora para passar para a fase seguinte, a da maquete. Feitas de
pedra, elas permitem enxergar os traços da escultura em tamanho grande.
“As superfícies entram em tensão, as linhas se definem e você começa a
perceber no seu âmago que ali existe algo, você sente emoção e euforia,
trata-se de um momento maravilhoso e difícil de explicar. A obra já está
praticamente terminada. Mesmo assim, deixo essas maquetes encostadas em
algum lugar para que repousem por um tempo antes de serem ampliadas”,
diz o artista em entrevista para Rafael Sierra, que fará parte no
catálogo da exposição.
A
simplicidade formal, o atemporal e a unidade do homem com a natureza
são elementos da obra de Asensio herdadas de artistas como Brancusi,
Anish Kapoor e Noguchi. O barroco e o Renascentismo também são vínculos
recorrentes com a estética do artista, devido ao material, a pedra,
clássico elemento da arte. Para o artista, porém, o material em si é
somente o corpo físico por onde se veicula uma ideia: “muitos, para se
afirmar na sua modernidade, apoiam-se no uso de materiais e tecnologias
de vanguarda que, frequentemente, escondem a falta de interesse de uma
obra”.
Nascido
em Cuenca, na Espanha, em 1959, Juan Asensio começou a descobrir as
texturas do mármore branco, do mármore preto da Bélgica e do mármore
preto do Zimbábue, suas principais matérias-primas até hoje, nos anos
80. Representado internacionalmente pela galeria espanhola Elvira
González, Asensio passou, no final de 2012, a fazer parte do time da Dan
Galeria.
Confira parte da entrevista de Rafael Sierra com Juan Asensio:
RS
- Os materiais que você utiliza — o mármore, o granito e a pedra caliça
— vinculam-se mais com a escultura clássica que com a contemporânea.
Qual é a importância para você desses materiais?
JA -
Matéria, forma e ideia constituem uma unidade, uma obra. Meus primeiros
trabalhos foram figurativos e utilizava materiais como barro e madeira,
que era os adequados para isso. Passei um desses retratos feito em
barro para mármore, mas o resultado não me convenceu. A questão de
“fossilizar” alguém nesse tipo de material não me pareceu adequada.
Porém, o processo foi determinante. Cada passo dado supôs uma
aprendizagem que me ajudou a descobrir as possibilidades e qualidades da
pedra: sua densidade, sua potência, sua fragilidade... Percebi então
que a parte mais interessante desse processo foi o começo, quando
trabalhei a partir de um bloco, de uma figura geométrica perfeita, de um
prisma. Tudo o que veio depois foi perdendo interesse, por isso,
retrocedi e voltei ao princípio. Comecei a revisar a obra de Oteiza e de
outros artistas que me interessavam e souberam utilizar a pedra nas
suas obras de forma adequada. Continuei a usar a pedra nas minhas
primeiras esculturas, partindo de elementos geométricos. Eu me sentia
cada vez mais confortável, controlava bem o processo e o resultado foi o
que eu desejava. Achei que a pedra era o material adequado para o tipo
de obra que estava desenvolvendo.
RS - Alguns de seus trabalhos possuem texturas muito diferentes, quase todas elas incitam o espectador a acariciá-las...
JA -
Uma parte importante da obra é seu acabamento, sua textura. Dela
depende, em grande medida, o resultado de toda a obra. É a pele. Nela
deve se deixar clara a intenção que você tem. Essa pele é o que atrai
primeiro sua atenção, pede seu olhar para percorrer pausadamente a obra,
tentando descobrir o mistério que se esconde nela. Normalmente, evito
deixar rastros de ferramentas sobre a obra, para não parecer
manufaturado, para desvinculá-la de mim e para que adquira autonomia. A
quantidade de recursos expressivos que possui a pedra exige muita
cautela a fim de não cair no fácil, no anedótico, supérfluo e
desnecessário.
RS - Para onde acha que vai a escultura na atualidade?
JA -
As instalações estão dominando o panorama internacional nos últimos
anos, pelo menos no ambiente das instituições. E, mesmo tendo baixado a
intensidade de sua presença, ainda continua a ser uma forma válida de
encenar a retórica de muitas propostas. Faz tempo que a tecnologia mais
avançada — a informática, a robótica, os tratamentos digitais e,
especialmente o vídeo — está sendo empregada com maior ou menor sucesso e
será difícil que desapareça. Felizmente para todos nós, a aparição de
novas fórmulas e materiais não elimina os anteriores, mas sim se somam a
eles, por isso hoje há um amplo panorama de opções. No momento há
espaço para todos, sem que a hegemonia de alguma delas seja total. Isto
é o presente; em relação ao futuro não faço ideia de qual será a
direção, mas não parece que seja fácil abrir novas vias de expressão.
Geometria Infinita, de Juan Asensio, na Dan Galeria
Coquetel de abertura: sábado, dia 29 de março, das 10h às 14h
Brunch durante a SP-Arte/2014: 4 de abril, às 11h.
Visitação: De 29 de março a 30 de abril
De segunda a sexta das 10h às 18h, sábado das 10h às 13h
De segunda a sexta das 10h às 18h, sábado das 10h às 13h
Rua Estados Unidos, 1638
Telefone: (11) 3083-4600
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