segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Há algo de Salinger em Celeste Antunes [lançamento de seu primeiro livro]








Para quando formos melhores

Celeste Antunes

 

104 p. | 12 x 21 cm | ISBN 978-85-7326-535-4 | 2013 - 1a edição (Acordo Ortográfico)


LANÇAMENTO:
06 de novembro, terça-feira, às 19h30
Bar Sabiá (Rua Purpurina 370 - São Paulo/SP. Tel.: (11) 3032-1617)


Vertiginoso, engraçado e irreverente. Essas três palavras chegam perto, mas não dizem tudo o que o leitor irá encontrar em Para quando formos melhores, o romance de estreia de Celeste Antunes, nascida em São Paulo em 1991.
Com linguagem veloz e criativa, agudo senso de observação e um timing perfeito para diálogos (que revelam sua experiência como roteirista de cinema), Celeste flagra com extrema propriedade o universo de cinco adolescentes - Sara, Fran, Lucas, Teo e Miguel - nos dias de hoje, em uma grande cidade, às voltas com suas primeiras experiências afetivas, sexuais e também com drogas, num cotidiano aberto que mistura continuamente humor e angústia existencial.
Como observa Fabrício Corsaletti, neste livro "os personagens são todos convincentes; misturam Marx com cerveja, Kafka com palhaço Pepino, beijo a três com medo de barata".
Uma estreia incomum que, em sua aparente despretensão, tem algo de Salinger: reúne amor, amizade, inquietações filosóficas e zombaria, num tom absolutamente contemporâneo. Celeste acertou na mosca.

Sobre a autora_ Celeste Antunes nasceu na cidade de São Paulo em 1991 e formou-se no ensino médio em 2008. Cursa faculdade de cinema e escreve poemas, diálogos e roteiros. Em 2010 escreveu e dirigiu a peça de teatro Fermento. Em 2013 dirigiu o curta-metragem Fogo baixo. Para quando formos melhores é seu primeiro livro.

Texto de orelha_
por Fabrício Corsaletti
Um livro pode acontecer por muitos motivos. Para quando formos melhores é bom porque foi escrito na hora certa. Se Celeste Antunes tivesse esperado mais para contar as aventuras dos adolescentes Teo, Lucas, Sara, Fran e Miguel, talvez esse romance não existisse. Mas, como todas as coisas belas, ele existe para lembrar que o mundo seria pior sem ele.
Assim, a evidente identificação da autora com as angústias e as alegrias que relata faz com que o leitor às vezes esqueça que se trata de um texto, de um artifício literário. Tem-se a impressão de que é a própria vida que transcorre diante de nossos olhos.
Em primeiro lugar, os personagens são todos convincentes. Filhos da elite cultural paulistana, misturam Marx com cerveja, Kafka com palhaço Pepino, beijo a três com medo de barata. Discutem tudo, abertamente. São antenados, inteligentes, falsa e verdadeiramente entediados. Não pensam no futuro profissional ou em qualquer outra besteira do gênero. Pequenos cronópios assustados com a claustrofobia que os táxis provocam - "acho que estou ficando grande demais pros lugares", diz Fran.
Entre eles, pouco a pouco, ganha espaço Miguel, que praticamente assume o primeiro plano da narrativa. É um revoltado à maneira de Holden Caulfield, de O apanhador no campo de centeio, e está "cansado de quem acha tudo absolutamente normal". Seu drama é querer "viver para uma puta música fodida" que ele nem sabe tocar.
Quando seus pais, preocupados com o filho em crise, abrem a janela do quarto dele para que entre um pouco de sol, Miguel diz: "eu não quero um pouco de sol, eu quero muito sol, eu quero abraçar o sol inteiro como se ele fosse um urso gigante, num lugar bem longe daqui". Sua aposta é alta. Quer encontrar a Poesia e fazer a Revolução. Ou, no mínimo, tornar-se uma pessoa legítima.
Do ponto de vista da linguagem, Celeste opta por frases diretas, sem rebuscamento sintático, com um pé forte na oralidade (a oscilação tranquila entre "pra" e "para" é um detalhe cativante). Os diálogos, por sua vez - tão fundamentais para a estrutura do relato quanto a narração em terceira pessoa -, merecem atenção. Não há neles nem sombra de preconceito linguístico. Visando a verossimilhança, ignoram a norma culta sem pudor. São realistas no melhor sentido do termo. Parecem, enfim, terem brotado espontaneamente; e já sabemos, pelo menos desde os modernistas, que a espontaneidade é uma construção difícil.
Mas a grande qualidade de Para quando formos melhores é que Celeste ama - sem autocomplacência e sem baratear esse amor em nome de um bom gosto blasé - cada um dos "seres humanos" que inventou. E essa é outra característica que vincula o livro à obra do tchekhoviano J. D. Salinger, criador da inesquecível família Glass. É como se a intenção última de Celeste fosse apresentar Miguel e seus amigos para o leitor, a fim de que desse encontro pudesse nascer uma amizade verdadeira.
Não é que ela conseguiu?

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