ARARANGUÁ
Aproveitei o
instante para olhar a praça, e que praça, toda cheia de vida e de sonhos
coloridos! Bem no meio, significando o coração da cidade, a Biblioteca Pública!
Qual cidade, igual àquela, para ter uma Biblioteca Pública no lugar do coração?
Deveria ser uma cidade muito especial mesmo, e bastava olhar em redor para ver,
detrás de cada árvore da praça, um casal de namorados namorando! Bem difícil
achar-se uma cidade assim, onde se podia namorar sem constrangimentos na praça
principal, cercando o coração com as grandes emoções do amor!
Num
instantinho o César e sua família chegaram, gente simpática, o César colega
historiador, e historiador, quando se encontra, não acaba nunca de falar.
Levaram-me para o hotel, para a gente se encontrar um pouco mais tarde, na casa
dele. Vinham me buscar, mas soube que era ali pertinho.
- Vou à
pé!
Grande idéia,
aquela! Se não tivesse ido à pé, não teria visto o céu de Araranguá, e como era
de perfeita madrepérola o céu de Araranguá! Fazia um pouco de frio, e eu podia
sentir no cheiro do vento que ele vinha de um mar que devia ser próximo,
enquanto observava as casinhas bem construídas, bem pintadas, e os terrenos
baldios com jeito de terem sido
antigos sítios, com um pouco de grama, um pouco de árvores, tão lindo! Na casa
do César, uma porção de professoras para conhecer, que a família, a mulher e os
dois meninos lindos eu já conhecia. Faltava conhecer a dissertação de mestrado
dele, que me matava de curiosidade – não é todo o dia que um historiador de
Santa Catarina faz uma aprofundada pesquisa sobre a escravidão no nosso
Estado!
Jantamos todos juntos em simpático restaurante, e era tempo de dormir, pois a manhã na escola começaria cedo. E já antes das sete e meia da manhã, de mãos dadas com o Padre Diretor do Colégio Murialdo, pedíamos as bênçãos para aquele dia que, sem dúvida, seria cansativo ... e maravilhoso! E foi, tão cansativo quanto maravilhoso! Turma por turma eu os conheci, a esses meninos e meninas de Araranguá, interessadíssimos em saber, em aprender, e tive contato com todas as séries, desde os grandões do terceirão, até os pequeninos da pré-escola. Ao meio dia, almocei na casa de uma professora, feijoada deliciosa, daquelas que dá um sono!
Por que tinha
ido lá? Porque o Colégio fazia 50 anos, e estava a comemorar. Bom colégio
aquele, além das crianças e do Padre simpático, o que mais me encantou foi a
maravilhosa casa na árvore que já vi na vida! Pena que não deu tempo de subir
lá! Bem que queria ter ido, com a gurizada da pré-escola, mas o dia se esvaiu
como um sopro. Num instante, o crepúsculo se aproximava e era hora de ir.
Lucrei um
monte: trouxe no coração cada criança daquele colégio, a casa na árvore, o Padre
Diretor, os professores simpáticos, o céu de madrepérola e o vento com cheiro de
mar, e ainda por cima, uma cópia da dissertação de mestrado do César Sprícigo e
muitas notícias históricas sobre escravidão! Isto sem contar a praça com
biblioteca no coração e os corações pulsantes ao redor da biblioteca! Qualquer
dia volto lá!
Urda Alice Klueger
Escritora, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
Blumenau, 27de Dezembro de 2005.
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