quinta-feira, 2 de maio de 2013

Vale da Morte, o Contestado visto e sentido





Vale da Morte, o Contestado visto e sentido

de Nilson Cesar Fraga


Este livro já foi recomendado por este Suplemento Cultural, mas nunca é demais apresentar esta obra é um livro com relatos em primeira pessoa das viagens de campo que Nilson Cesar Fraga fez com seus alunos da UFPR e UNICURITIBA nesta primeira década do século XXI.

Vale da Morte: o Contestado visto e sentido - “entre a cruz de Santa Catarina e a espada do Paraná”


Da igreja que fica num morrinho, descemos de caminhonete até a planície do rio Santa Maria e paramos defronte a uma cerca de arame farpado que delimitava as terras, com a entrada feita por um arco de madeira flexível tirada das matas circunvizinhas.

Estávamos no coração de Santa Maria. A planície não era muito grande, mas caberiam uns mil casebres ou mais, além da praça e das igrejas. Porém o reduto não ocupava apenas esta área, ele seguia o vale e os morros.

Vi alguns pés de roseira e perguntei ao prefeito por que estavam ali e quem as plantou. Ele disse que aquele local era o cemitério do reduto. Jaziam ali, segundo se comenta na cidade, mais de quatro mil corpos, e diziam também que as roseiras foram plantadas em 1916, em homenagem a Virgem Maria Rosa, a Joana D’Arc do Sertão. Confesso que nunca havia imaginado que roseiras poderiam durar quase um século. Fotografei algumas e de perto se via o aspecto de antigas, rugosas e, em alguns casos, meio enferrujadas. Todas as roseiras de flores vermelhas.

O cemitério era um campo de gramíneas demarcado por um dos mourões colocados também em 1916. Para qualquer lugar que andássemos, estávamos pisando em mortos. (...)

Comecei a vasculhar o lugar. Tinha de achar maiores fragmentos do genocídio de Santa Maria. (...) Era o rio Lava Tripa. Tinha este nome desde os tempos das batalhas finais no reduto. O número de mortos era muito grande para ser enterrado durante os bombardeios federais, então os caboclos colocavam os corpos dilacerados pela munição naquelas águas geladas, montanas, para evitar a putrefação. Quando os bombardeios paravam, eles retiravam os corpos e levavam para o enterro no cemitério.

Enquanto os corpos jaziam sobre o leito gelado do rio, suas águas correntes faziam a limpeza das vísceras, o caldo vermelho seguia por quilômetros e todos podiam saber, pelo sangue na água, que muitos estavam morrendo em Santa Maria.

Há quem diga não ser o Contestado uma Guerra!"

O AUTOR



O AUTOR
Nilson Cesar Fraga

Graduação em Geografia (Licenciatura Plena) pela Universidade do Estado de Santa Catarina (1997), Graduação em Geografia (Bacharel) pela Universidade Estadual de Maringá (1999), MESTRADO em Geografia (Análise Ambiental e Desenvolvimento regional) pela Universidade Estadual de Maringá (2000) e DOUTORADO em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (2006). Atualmente é professor titular - Centro Universitário Curitiba - UNICURITIBA (ex-Faculdades Integradas Curitiba); Professor Assitente Doutor do Centro Universitário Franciscano do Paraná - FAE (Curso de Mestrado); Editor da Revista PerCurso - Sociedade, Natureza e Cultura e Revisor da Revista de Relações Internacionais; membro do Conselho Editorial da Geografar (Revista do PPGGeog/UFPR) e da Revista Virtual de Turismo (UFRJ). Professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFPR (Mestrado e Doutorado). Tem experiência na área de Geografia, com ênfase na relação sociedade e meio ambiente, atuando principalmente nos seguintes temas: Geografia, Geografia Política, Turismo, Relações Internacionais, Direito e Educação. É consultor da Secretaria de Estado da Educação do Paraná - SEED/PR e das Secretarias de Educação de Curitiba e Colombo (PR) e consultor ambiental. É Professor de Pós-graduação na FAE e UFPR, em diversas áreas, tais como: turismo, arquitetura e urbanismo, história e geografia do Paraná, sociedade e meio ambiente, metodologia da geografia, análise ambiental dentre outras atividades.


UM LANÇAMENTO


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