terça-feira, 16 de abril de 2013

Perversos, amantes e outros trágicos de Eliane Robert Moraes


Perversos, amantes e outros trágicos

de Eliane Robert Moraes


No de Paginas:
216



Por que alinhar lado a lado escritores a princípio tão distintos quanto Apollinaire, Lampedusa, Nabokov, Laclos, Stendhal, Blanchot e André Breton? Como aventar parentescos entre nomes tão distantes um do outro quanto Georges Bataille e Henry James? Em que ponto se reúnem
as obras do devasso Marquês de Sade e da altiva Sóror Juana Inés de la Cruz? Qual é, enfim, o denominador comum que dá sentido a tal encontro entre perversos, amantes e trágicos da literatura?

O livro que o leitor tem em mãos traz instigantes respostas a essas questões. Escritos por uma estudiosa do erotismo literário, os ensaios e resenhas aqui reunidos vêm ampliar seu repertório e confirmar a originalidade de sua ensaística. São estudos que interrogam as disposições mais noturnas de um grupo heterogêneo de autores, cujos escritos traduzem um obstinado desejo de fugir às rotas habituais do pensamento. Nessa investigação, Eliane Robert Moraes toma como fio condutor a ideia de que o erro, o desvio e o risco também se oferecem como importantes figuras do conhecimento. Muita coisa neste livro pode surpreender. A começar pelo pedófilo que se declara o mais ingênuo dos homens, ou então pelo perverso que jura obedecer a severos princípios éticos. A
esses personagens de Nabokov e de Kaváfis somam-se o aristocrata de Lampedusa, que aposta na revolução para que “tudo permaneça como está”; o amante de Xavier de Maistre, que desfruta a mais intensa liberdade quando privado dela; e ainda o artista de Henry James, cuja vida se esvai na pintura de uma tela que permanece em branco.

Os exemplos se estendem a autores como Laclos, Cleland, Kleist, Apollinaire ou Bataille, que não cessam de pasmar o leitor. Afinal, vistos pelas lentes de Eliane Robert Moraes, esses escritores nunca são enquadrados nesta ou naquela moldura, nem tampouco pacificados em suas inquietações. Aqui, o desacerto, a desmedida e o desvario ganham abrigo, acenando pistas produtivas para a interpretação. O resultado é uma leitura intensiva que respeita o tempo forte das “perversões” literárias, a confirmar a ideia de “desvio” que a ensaísta identifica como traço principal da sua coletânea.

Desvio da norma, do óbvio e, sobretudo, do lugar-comum. Os ensaios e resenhas aqui reunidos desmentem os imaginários correntes sobre a perturbadora figura do perverso e deslocam
os discursos amorosos para além de sua habitual zona de conforto. No limite, prevalece no conjunto um certo elemento “trágico” que, pouco identificado ao lugar elevado que lhe concede a retórica clássica, é flagrado na paisagem prosaica, rebaixada — e até mesmo cômica — da modernidade.

O leitor por certo não demorará a perceber intensas afinidades entre a intérprete e seus objetos de estudo. Se a matéria-prima do volume são as inclinações que transformam o erro em conhecimento, a opção pelo olhar oblíquo, sinuoso e lateral, não poderia ter sido mais
acertada.

Determinada a pensar “pelas bordas”, a autora não cede à perspectiva eufórica, frequente na abordagem de tais escritores, e nem tampouco ao iluminismo excessivo que só faz obscurecer os mistérios do negativo. Ao contrário, comprometida com a forma literária, sua visada crítica contempla a complexidade de diversos escritos que interrogam a vocação humana para o desvio, seja em seus contornos mais sutis, seja naqueles mais abjetos. Fina leitora e intérprete original, Eliane Robert Moraes consegue, assim, devolver seus autores e textos de eleição à tarefa primordial da literatura, que consiste justamente em nos surpreender, para nos tirar do lugar.



A AUTORA

Eliane Robert Moraes

É crítica literária e professora de estética e literatura na PUC-SP e no Centro Universitário Senac-SP. Publicou, entre outros, "Sade - A Felicidade Libertina" (Imago), "O Corpo Impossível" (Iluminuras/Fapesp, 2002) e "Lições de Sade - Ensaios Sobre a Imaginação Libertina" (Iluminuras, 2006).

É professora de Literatura Brasileira no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da FFLCH da Universidade de São Paulo (USP), onde se graduou em Ciências Sociais (1984), e defendeu mestrado (1990) e doutorado (1996) em Filosofia. Foi professora titular da Faculdade de Comunicação e Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e também atuou como professora e pesquisadora visitante nas universidades da California em Los Angeles (UCLA, USA), de Perpignan Via Domitia (FR) e Nova de Lisboa (PT). Suas pesquisas concentram-se na interface entre Literatura e Erotismo e atualmente se dedica a investigar a erótica literária brasileira.

Assista aqui o Café Filosofico com essa grande professora - em discussão A Pornografia



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