segunda-feira, 12 de novembro de 2012

DUAS OBRAS DE JAMES JOYCE, LANÇADAS PELA Editora ILUMINURAS

HOJE IREMOS DESTACAR DUAS OBRAS DE JAMES JOYCE, LANÇADAS PELA Editora ILUMINURAS

Segundo Dirce Waltrick do Amarante em sua apresentação da edição de EPIFANIAS - certa vez, Joyce olhou pela janela de seu apartamento e viu uma mulher no edifício ao lado puxando a corrente de descarga da privada. Para ele, essa cena aparentemente banal continha fortes implicações eróticas. Essa teria sido uma das muitas epifanias profanas de Joyce.

Richard Ellmann lembra que um dos divertimentos favoritos do escritor era destruir velhas coisas solenes. Num determinado momento, o escritor irlandês ficou “contente por encontrar valor no que se esperava que ele condenasse como comum e vulgar”. Era assim que ele reinventava o mundo.

Joyce teria “encorajado” Leopold Bloom (Ulisses) – só para mencionar seu mais célebre personagem – a infundir singularidade às coisas comuns. Como afirma Ellmann, “Bloom difere dos dublinenses menos importantes porque sua poesia interna é contínua, até nas situações menos promissoras”. Em Joyce, não há mais uma prosa, um dizer narrativo típico, “mas sim um feixe de forças, do tracejado que compõe sua própria ausência”, diz Piero Eyben no prefácio de sua bela tradução das Epifanias.

Quando lemos Joyce, precisamos voltar nossos olhos para o instante da experiência que emerge graças a uma revelação interior abrupta. A epifania seria justamente essa súbita manifestação, esteja ela na vulgaridade da fala e do gesto ou em uma fase memorável da própria mente. Aliás, para Hélène Cixous, a epifania seria o “descarrilamento da consciência”.

Joyce acreditava que cabia ao escritor “registrar essas epifanias com extremo cuidado, vendo que elas próprias são os mais delicados e evanescentes dos momentos”, como afirma Eyben. Sendo o maior desafio dessas curtas narrativas aliar a velocidade inesperada à já desgastada experiência do dia a dia. Neste pequeno volume precioso, a tradução de Eyben leva a sério esse desafio.

Devo ter-lhe atormentado esta noite com o que disse mas certamente é bom que você conheça a minha opinião sobre a maioria das coisas. Minha consciência rejeita toda a ordem social atual e o cristianismo — lar, as virtudes reconhecidas, classes sociais e doutrinas religiosas. Como posso gostar da ideia de lar? James Joyce
 
Já Caetano W. Galindo na capa de CARTAS A NORA - Talvez a melhor discussão (real) sobre a relação entre a vida e a arte tenha acontecido (ficcionalmente) na Biblioteca Nacional de Dublin, no (real e ficcional) dia 16 de junho de 1904.

Como assim? Ora, assim mes­mo. É Stephen Dedalus, que na verdade era um pseudônimo várias vezes empregado por James Joyce, quem conversa com vários outros escritores, todos reais e a quem chama às vezes por seus pseudônimos, sobre as relações entre a obra e a vida de Shakespeare. Joyce, claro, estava adorando dar um imenso nó na discussão.

E como. Pois não só é na vida de Joyce que o leitor encontra enredos e às vezes até esclarecimentos para certos trechos dos romances, mas é na relação vida obra e na complicada alquimia que faz com que ela transcenda o egoico e se universalize, que se localiza grande parte da magia da leitura da própria obra de Joyce.

É claro, portanto, que toda a documentação que cerque a vida de Joyce há de ser de grande interesse para os leitores. E, entre esses documentos, as cartas trocadas entre ele e sua esposa Nora ocupam lugar absolutamente central. Muito além da relevância das ditas “cartas sujas”, em que eles trocavam “safadezas” quando estavam sem se ver, o que essa correspondência registra, expõe e elucida é simplesmente a relação mais definidora da história de vida de Joyce. O que o leitor brasileiro recebe, neste volume carinhosamente traduzido e solidamente organizado por Dirce Waltrick do Amarante e

Sérgio Medeiros (nada atoamente marido e mulher) é uma via de acesso a um compartimento profundo e rico da vida sentimental de um grande reelaborador de sentimentos e vidas. É chegar mais perto da fonte. O Ulysses, de um certo ponto-de-vista, é a história de Joyce sem Nora. O dia 16 de junho marca o primeiro passeio do casal (real), mas Dedalus (ficcional) termina o dia só. Se Bloom pode ser visto como uma versão possível de Joyce sem a literatura, Dedalus, é o escritor sem a mulher que lhe deu segunda vida.

Para o homem inteiro, adicione-se Nora.

Para chegar mais perto dele(s), sirva-se.







Cartas a Nora

de James Joyce


No de Paginas:
152










Epifanias

de James Joyce


No de Paginas:
112








LANÇAMENTO

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