sexta-feira, 13 de abril de 2012

"Ficções", exposição individual do artista paulista Nino Cais, entra em cartaz no CCBNB-Fortaleza


"Ficções", exposição individual do artista paulista Nino Cais, entra em cartaz no CCBNB-Fortaleza

O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 - Centro - fone: (85) 3464.3108) abrirá a exposição individual "Ficções", do artista visual paulista Nino Cais, com curadoria de Carolina Soares, na próxima terça-feira, 17, às 18 horas. Com entrada franca, a exposição ficará em cartaz até o próximo dia 20 de maio (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10h às 20h; aos domingos, de 12h às 18h).



Texto curatorial (por Carolina Soares)

Em 1920, Tristan Tzara oferece ao leitor instruções de como produzir uma poesia. Simples assim:



Apanhe um jornal./ Apanhe algumas tesouras./ Escolha um artigo do tamanho que você pretende dar ao seu poema./ Recorte o artigo./ Depois recorte cuidadosamente cada palavra do artigo e coloque-as em um saco./ Agite levemente./ Depois retire um recorte após o outro./ Copie-os conscienciosamente na ordem em que saíram do saco./ O poema se parecerá com você./ E você será um escritor de infinita originalidade e encantadora sensibilidade, ainda que incompreensível às massas.



Embora aqui se busque resguardar as devidas diferenças construídas cronologicamente pela História da Arte, não deixa de ser tentador cair em certos devaneios anacrônicos, pois o trabalho de Nino Cais parece se valer de semelhante receita. A aleatoriedade pressuposta na escolha dos objetos que tensiona junto ao seu corpo provoca o observador a entender a obra como uma espécie de "faça você mesmo". Essa instrução, no entanto, não significa o abandono em relação a uma crença nas potencialidades artísticas, mas sim o confronto com certos mecanismos retóricos voltados para meras atribuições de valores estéticos.

Nesse desmonte, os objetos não são, porém, destituídos de uma banalidade ordinária, ou seja, os utensílios de cozinha apropriados, por exemplo, continuam sendo utensílios de cozinha, apenas adquirem funcionalidades simbólicas. E mais, ao aliá-los ao seu próprio corpo, Nino Cais dá margens a narrativas fantásticas. São situações inusitadas em que persiste uma ideia de acaso como oposição à realidade. Do encontro entre o artista e as coisas de seu entorno resultam fissuras irremediáveis. Afinal, de que maneira estabelecer relações de continuidade frente a um corpo humano cujo rosto se mantém recoberto por objetos não apenas diversos como desconcertantes?

São ficções que, mesmo com certo humor, não apaziguam, pelo contrário, provocam inquietações. Ao utilizar seu corpo como material escultórico - elegendo a fotografia como meio não apenas documental, mas também como parte constituinte do trabalho -, Nino Cais recoloca questões em torno da possibilidade de moldar uma fotografia escultórica (ou uma escultura fotográfica?). Com isso, os arranjos, aos quais os objetos estão sujeitos, resultam em trabalhos que transcendem as mais tradicionais categorias, impedindo distinções estritas entre os dois campos, ou seja, as fotografias não são mais registros de esculturas, mas esculturas em si.

Para baratinar ainda mais a conversa, na exposição Ficções, amplia-se o debate ao serem apresentados dois conjuntos de trabalhos: um bidimensional e outro tridimensional. A diferença em suas dimensões, no entanto, não evita com que ambos sejam concebidos a partir de questões semelhantes em torno de uma ideia de escultura contemporânea e de seu caráter objetual. São espacialidades e volumes que favorecem diferentes experiências produzindo tensões não apenas por suas estruturas internas como também por suas relações com o observador que, diante de cada uma, precisa se comportar de maneira diametralmente oposta.

A presença marcante de coisas familiares como utensílios domésticos e enfeites de festas juninas restitui uma temporalidade aos trabalhos que parece falar sempre no presente, acontecer no momento em que os observamos. Com isso, torna-se impossível não olharmos para um balde ou uma bacia, mesmo que pressionados ao teto, e não rememorarmos seus lugares no mundo. Não há ambiguidade. O balde ou a bacia continuam sendo um balde ou uma bacia.

É o que intriga e desconcerta. Simples assim.

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