As lentes de Simon Roberts e Iatã Cannabrava captam a estética do cotidiano na mostra "Perception"
A exposição estabelece um diálogo entre duas instigantes perspectivas sobre a vida no Reino Unido e o dia-a-dia das periferias sul-americanas. Um concurso fotográfico entre os alunos da Cultura Inglesa vai resultar numa terceira mostra, no qual três estudantes vão exibir cenas de suas cidades.
Lançar um olhar sobre a cultura, a identidade, o lazer e as relações sociais no Reino Unido e em quatro países da América do Sul é o foco dos ensaios fotográficos da exposição “Perception”, dos premiados profissionais Simon Roberts e Iatã Cannabrava, que a Cultura Inglesa abre em 11 de novembro no Centro Brasileiro Britânico. A exposição reúne 31 imagens de duas mostras, realizadas pela Galeria de Babel. Após uma viagem de 13 meses pelo Reino Unido, Simons Roberts captou em “We English” o lazer de centenas de pessoas em meio à paisagem inglesa. Já Iatã Cannabrava documenta em “Uma Outra Cidade” as várias faces da exclusão nas periferias de cinco cidades do Brasil, Argentina, Peru e Venezuela.
Em meados de dezembro, uma terceira exposição vai ocupar o Centro Brasileiro Britânico. Ela será resultado de um concurso fotográfico a ser realizado entre os alunos da Cultura Inglesa, que deverão captar imagens de suas cidades. As fotos de três alunos serão selecionadas por Iatã Cannabrava e Jully Fernandes, diretora da Galeria de Babel e responsável pela curadoria da mostra “We English” no Brasil, juntamente com Luize Coutinho. O historiador espanhol Horácio Fernández assina a curadoria de “Uma Outra Cidade”.
SERVIÇO
O público poderá conferir a mostra “Perception” até 25 de fevereiro no Espaço David Ford do Centro Brasileiro Britânico, na Rua Ferreira de Araújo, 741, Pinheiros, telefone 3095-4466. De segunda a sexta-feira, das 10 às 19 horas. Sábados, domingos e feriados, das 10 às 16 horas. Entrada franca. Estacionamento R$ 10,00 (1a hora) e R$ 5,00 (2a hora).
SIMON ROBERTS
Aberta em Nova York em 2009, “We English” desembarca no Brasil após ocupar 23 espaços culturais do Reino Unido, Itália, Estados Unidos, Alemanha, França, Lituânia e Polônia. Ela rendeu a Simon Roberts, atualmente com 37 anos, o 3º Prêmio World Press Photo. Em 2007, ele já havia arrebatado o Vic Odden Award, concedido pela Royal Photographic Society aos jovens até 35 anos, considerados talentos da fotografia.
“We English” é um desdobramento de “Motherland” (2005), que nasceu após Simon Roberts percorrer 65 cidades russas. Entre outros aspectos, este ensaio fotográfico explorou a ligação dos russos com sua terra natal. “O apego a um lugar é algo misterioso, simultaneamente profundo e mundano, que me levou a pensar sobre a minha ligação com a Inglaterra”, diz o fotógrafo.
Foi nas suas recordações de viagens na infância que Simon Roberts encontrou seu senso de identidade, de memória e de pertencer a algum lugar: “As minhas lembranças das férias estão povoadas por paisagens particulares como o verde luxuriante de Derwent Water ou o céu cinzento e os seixos das praias de Angmering. Creio que essas paisagens formam uma parte importante da minha consciência do quem eu sou e como eu lembro da Inglaterra”.
Patrocinado pelo National Media Museum e o Arts Council England, Simon Roberts viajou com sua câmera 5 X 4 de grande formato em uma motor home (trailer montado sobre o chassi de um ônibus) com a mulher grávida e a filha de dois anos. Paralelamente, criou o blog http://we-english.co.uk, no qual as pessoas podiam deixar sugestões de locais a serem fotografados.
Praias, parques de diversão, pradarias, paisagens tipicamente britânicas e até um campo de golfe em frente a uma usina atômica estão entre as fotografias da mostra. “Mesmo quando há grandes grupos, as fotografias foram tiradas a distância – numa perspectiva que evoca a pintura clássica, embora os temas em questão sejam decididamente contemporâneos”, afirma o crítico Vince Aletti, do jornal The New Yorker.
IATÃ CANNABRAVRA
Fotos coloridas de gente, de carros, de barracos, de casas e de palafitas. “Uma Outra Cidade” começou no Capão Redondo, no extremo sul da capital paulista, e se estendeu pelas periferias de Belém (Brasil), Buenos Aires (Argentina), Lima (Peru) e Caracas (Venezuela) até se transformar em exposição no Museu da Casa Brasileira e um livro homônimo, lançado há dois anos pela Imprensa Oficial de São Paulo e a Editora Terceiro Nome.
Ao esquadrinhar favelas, morros, “quebradas” e vilas dentro e fora do Brasil, Iatã descortina conglomerados humanos, que vivem à margem das metrópoles. “Na contramão das teorias do caos que poderiam prever o colapso total das urbes, o que assistimos foi a uma forma criativa de construção de novos modelos, desta vez, oriundos das próprias comunidades, manifestando-se em outras formas de vestir, falar, construir, organizar (ou amontoar) os diversos aspectos que conformam as chamadas ‘cidades’”, diz o fotógrafo.
Diante do crescimento desenfreado dos dramas sociais e da exclusão, Iatã Cannabrava concluiu este ensaio fotográfico “menos alienado e convicto de que um mundo melhor é possível mesmo na paisagem da exclusão”. Já o historiador Horácio Fernández diz que suas imagens revelam a cidade do presente, tão frágil e instável, que está condenada a desaparecer de imediato por qualquer causa, independente do movimento dos ponteiros do relógio. “Iatã Cannabrava leu (a cidade) com os pés para que os demais a leiam com o olhar, soube ser invisível para que possamos ver sem ser vistos”, completa.
Iatã Cannabrava é fotógrafo, curador e agitador cultural. Participou de mais de 40 exposições e ganhou os prêmios P/B da Quadrienal de Fotografia de São Paulo, em 1985; o concurso Marc Ferrez da Funarte, em 1987; e dois prêmios da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, em 1996 e 2006. Suas fotografias foram publicadas em diversos livros e nas coleções Masp-Pirelli, Galeria Fotóptica, Coleção Joaquim Paiva e MAM/São Paulo.
Ex-presidente da União dos Fotógrafos de São Paulo, dirige o Estúdio Madalena, onde organizou mais de 30 exposições e ministrou mais de 80 workshops, além de projetos especiais. A empresa coordena a programação do Festival Internacional de Fotografia de Paraty, o Paraty em Foco, o Encontro de coletivos fotográficos Ibero-Americanos, a expedição fotográfica “De olhos nos mananciais” e o Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
evento - As lentes de Simon Roberts e Iatã Cannabrava
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