terça-feira, 7 de dezembro de 2010

ADEUS AMIGO !


Hoje (às 00:00 hrs do dia 7 de dezembro de 2010) perdemos umas pessoas mais cativantes e importantes em nossa família do SUPLEMENTO CULTURAL . Era um Cruz um Rac'z. Lutou pela vida como valororoso que era mas... A vida pode escoar pelo ralo quando menos se espera. Foi meu amigo nos porres, nas insonias, e foi acima de tudo generoso! Da Rua Paim em São Paulo para o mundo! E quantas mudanças não foram. Veio dar adeus perto do mar. Talvez tenha alguma coisa transcendental nisso. Deixa um enorme torpor em mim que qualquer hora vai desabar, e não vai ser fácil! Deixa inconsolável aquela que o considerava seu filho (o Fifilho, o Adolfo - como nosso vizinho diria)...e sei lá mais que tudo me confunde nesta hora. Como um SAGRADO DA BIRMÂNIA " O gato do templo é apegado ao dono e muito dócil " que descende dos animais antigos gatos criados nos templos budistas. Famosos pelo seu caráter tranqüilo e, ao mesmo tempo, sociável. Esse amigo gostava de brincar, era inteligente e alegre.
Esses gatos são sociais e muito inteligentes, e tem uma vantagem sobre os siameses: não são ciumentos. Geralmente eles elegem uma pessoa de temperamento calmo como. Fiel, dedica-se totalmente a seu “escolhido” e fica com muitas saudades quando seu dono não está em casa. É conhecido também por seu miado doce.

Mas,ele não era da Birmania, era do vuco-vuco da rua Paim. Paulistano total!
Tenho um verdadeiro buraco, não virtual em minha vida, mas espero que na melhor tradição induista ele esteja voltando, como um garoto bonito e companheiro. Lutou até o fim, talvez sentindo as dores da batalha com Arjuna. Sr Ganeshe o acompanhou, e os demonios ficaram em suas morafas com medo de se aproximar. Logico que não foi... feliz! tinha muita vida pra viver. MAS...

Para ele e por sua redenção mudo este momento por um poema que para mim sempre irradiou a valente força...

Para Sempre Edgard Allan

assinado
...seu pai!


"O CORVO"
por MACHADO DE ASSIS


EM CERTO DIA, à hora, à hora Da meia-noite que apavora, Eu caindo de sono e exausto de fadiga Ão pé de muita lauda antiga, De uma velha doutrina, agora morta, Ia pensando, quando ouvi à porta Do meu quarto um soar devagarinho E disse estas palavras tais: "E alguém que me bate à porta de mansinho; Há de ser isso e nada mais. " Ah! bem me lembro! bem me lembro! Era no glacial dezembro; Cada brasa do lar sobre o chão refletia A sua última agonia. Eu, ansioso pelo sol, buscava Sacar daqueles livros que estudava Repouso (em vão!) à dor esmagadora Destas saudades imortais Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora, E que ninguém chamará jamais. E o rumor triste, vago, brando Das cortinas ia acordando Dentro em meu coração um rumor não sabido Nunca por ele padecido. Enfim, por aplacá-lo aqui no peito Levantei-me de pronto e: "Com efeito (Disse) é visita amiga e retardada Que bate a estas horas tais. E visita que pede à minha porta entrada: Há de ser isso e nada mais. " Minhalma então sentiu-se forte; Não mais vacilo e desta sorte Falo: "Imploro de vós ou senhor ou senhora -Me desculpeis tanta demora.Mas como eu, precisado de descanso, Já cochilava, e tão de manso e manso Batestes, não fui logo prestemente, Certificar-me que aí estais." Disse: a porta escancaro, acho a noite somente, Somente a noite, e nada mais. Com longo olhar escruto a sombra, Que me amedronta, que me assombra, E sonho o que nenhum mortal há já sonhado, Mas o silêncio amplo e calado, Calado fica; a quietação quieta: Só tu, palavra única e dileta, Lenora, tu como um suspiro escasso, Da minha triste boca sais; E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço; Foi isso apenas, nada mais. Entro co'a alma incendiada. Logo depois outra pancada Soa um pouco mais forte; eu, voltando-me a ela: "Seguramente, há na janela Alguma coisa que sussurra. Abramos. Eia, fora o temor, eia, vejamos A explicação do caso misterioso Dessas duas pancadas tais. Devolvamos a paz ao coração medroso. Obra do vento e nada mais." Abro a janela e, de repente, Vejo tumultuosamente Um nobre corvo entrar, digno de antigos dias. Não despendeu em cortesias Um minuto, um instante. Tinha o aspecto De um lorde ou de uma lady. E pronto e reto Movendo no ar as suas negras alas. Acima voa dos portais, Trepa, no a!to da porta, em um busto de Palas; Trepado fica, e nada mais. Diante da ave feia e escura, Naquela rígida postura, Com o gesto severo - o triste pensamento Sorriu-me ali por um momento, E eu disse: "O tu que das noturnas plagas Vens, embora a cabeça nua tragas, Sem topete, não és ave medrosa, Dize os teus nomes senhoriais: Como te chamas tu na grande noite umbrosa?" E o corvo disse: "Nunca mais." Vendo que o pássaro entendia A pergunta que lhe eu fazia, Fico atônito, embora a resposta que dera Dificilmente Iha entendera. Na verdade, jamais homem há visto Coisa na terra semelhante a isto: Uma ave negra, friamente posta, Num busto, acima dos portais, Ouvir uma pergunta e dizer em resposta Que este é o seu nome: "Nunca mais." No entanto, o corvo solitário Não teve outro vocabulário, Como se essa palavra que ali disse Toda sua alma resumisse. Nenhuma outra proferiu, nenhuma, Não chegou a mexer uma só pluma, Até que eu murmurei: "Perdi outrora Tantos amigos tão leais! Perderei também este em regressando a aurora." E o corvo disse: "Nunca mais. Estremeço. A resposta ouvida tão exata! é tão cabida! "Certamente, digo eu, essa é toda a ciência Que ele trouxe da convivência De algum mestre infeliz e acabrunhado Que o implacável destino há castigado Tão tenaz, tão sem pausa, nem fadiga, Que dos seus cantos usuais Só lhe ficou, da amarga e última cantiga, Esse estribilho: "Nunca mais. Segunda vez, nesse momento, Sorriu-me o triste pensamento; Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo; E mergulhando no veludo Da poltrona que eu mesmo ali trouxera Achar procuro a lúgubre quimera. A alma, o sentido, o pávido segredo Daquelas sílabas fatais, Entender o que quis dizer a ave do medo Grasnando a frase: "Nunca mais. Assim, posto, devaneando, Meditando, conjecturando, Não lhe falava mais; mas se lhe não falava, Sentia o olhar que me abrasava, Conjecturando fui, tranquilo, a gosto, Com a cabeça no macio encosto, Onde os raios da lâmpada caíam, Onde as tranças angelicais De outra cabeça outrora ali se desparziam. E agora não se esparzem mais. Supus então que o ar, mais denso, Todo se enchia de um incenso. Obra de serafins que, pelo chão roçando Do quarto, estavam meneando Um ligeiro turíbulo invisível; E eu exclamei então: "Um Deus sensível Manda repouso à dor que te devora Destas saudades imortais. Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora." E o corvo disse: "Nunca mais. "Profeta, ou o que quer que sejas! Ave ou demônio que negrejas! Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno Onde reside o mal eterno, Ou simplesmente náufrago escapado Venhas do temporal que te há lançado Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo Tem os seus lares triunfais, Dize-me: "Existe acaso um bálsamo no mundo?" E o corvo disse: "Nunca mais. "Profeta, ou o que quer que sejas! Ave ou demônio que negrejas! Profeta sempre, escuta, atende. escuta, atende! Por esse céu que além se estende, Pelo Deus que ambos adoramos, fala, Dize a esta alma se é dado inda escutá-la No Éden celeste a virgem que ela chora Nestes retiros sepulcrais. Essa que ora nos céus anjos chamam Lenora!" E o corvo disse: "Nunca mais. "Ave ou demônio que negrejas! Profeta, ou o que quer que sejas! Cessa, ai, cessa!, clamei, levantando-me, cessa! Regressa ao temporal, regressa  tua noite, deixa-me comigo. Vai-te, não fique no meu casto abrigo Pluma que lembre essa mentira tua, Tira-me ao peito essas fatais Garras que abrindo vão a minha dor já crua.', E o corvo disse: "Nunca mais. E o corvo aí fica, ei-lo trepado No branco mármore lavrado Da antiga Palas; ei-lo imutável, ferrenho. Parece, ao ver-lhe o duro cenho, Um demônio sonhando. A luz caída Do lampião sobre a ave aborrecida No chão espraia a triste sombra; e fora Daquelas linhas funerais Que flutuam no chão, a minha alma que chora Não sai mais, nunca mais! E A POE

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