terça-feira, 20 de novembro de 2007

E AGORA A REPÚBLICA


Longe de querermos ter esgotado o assunto República chegamos até a Proclamação em si. Mas a República também tem os seus tabus. Na tentativa de derroca-los algumas obras se apresentam como fundamentais como a que vem agora a público pela Editora Civilização Brasileira . Em "O Brasil Republicano", série coordenada por Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado é dada continuidade ao projeto História Geral da Civilização Brasileira, último grande trabalho organizado por Sérgio Buarque de Hollanda, entre 1960 e 1972. São abordagens plurais e críticas contando com historiadores das principais universidades e instituições brasileiras - convidados, levando-se em conta os critérios de pluralidade, especialidade e reconhecimento acadêmico. São quatro volumes de "O Brasil Republicano" : O tempo do liberalismo excludente, O tempo do nacional-estatismo, O tempo da experiência democrática e O tempo da ditadura.


No primeiro volume de O Brasil Republicano, O tempo do liberalismo excludente, tem início com o conturbado período que se segue à proclamação da República e finaliza com a Revolução de 1930. É quando surgem os padrões culturais, sobretudo a febre modernizante que acompanharam a proclamação da República. Dizendo-se liberal, o novo regime era ao mesmo tempo, excludente. Foi um período onde eclodiram rebeliões lideradas por elites políticas insatisfeitas, tanto civis como militares. O segundo livro fala sobre o tempo do nacional-estatismo, volta-se exclusivamente para a década de 1930 e o apogeu do Estado Novo. O ano de 1930 terminou com uma revolução e com um governo provisório. A partir daí, vários projetos políticos disputaram o poder no país. Os mais atuantes e influentes na época tentaram se impor recorrendo às armas, mas foram derrotados em 1932, 1935 e 1938. Ao final, os insatisfeitos com Getúlio Vargas foram silenciados: o governo constitucional transformou-se na ditadura do Estado Novo. No entanto, o regime autoritário incentivou a industrialização do país, patrocinou uma política cultural que encontrou receptividade entre artistas e intelectuais e elevou os trabalhadores à condição de personagens centrais do regime. Em O tempo da experiência democrática, temos o resgate da prática da democracia no Brasil que se abre com o movimento queremista até o seu colapso com o golpe civil-militar de 1964. O ano de 1945 começou com um movimento inverso: a ditadura do Estado Novo entrava em crise, mas o prestígio do ditador crescia entre os trabalhadores. Com a consolidação da democracia, diversos personagens passaram a se manifestar politicamente: trabalhadores, camponeses, militares, empresários, estudantes, artistas, intelectuais, entre outros. Vivendo uma experiência democrática, a população brasileira, por meio do voto, demonstrava preferências pelo projeto nacional-estatista defendido por trabalhistas e comunistas, mas não tanto pelo programa dos liberais udenistas. Ao final, a direita radicalizou, negando-se a aceitar qualquer tipo de reforma, defendendo seus privilégios a todo custo. Mas a esquerda igualmente polarizou, querendo as reformas a qualquer preço. Por fim O tempo da ditadura, a era dos generais que vai até a eclosão de movimentos sociais no final do século XX. Os militares, ao lado de seus aliados civis, tomaram o poder em março de 1964 e implantaram uma ditadura que durou muito além do previsto até mesmo por eles. Para isso, o regime recorreu à violência, à censura e à espionagem. Muitos melhoraram de vida com o "milagre" econômico e tantos outros se tornaram ainda mais pobres do que eram. Políticos, religiosos, estudantes, artistas e intelectuais se opuseram ao governo dos generais e pequenos grupos de jovens partiram para a luta armada com desejo implantar o socialismo no país. O tempo da guerra suja é melhor entendido em nossa próximo tabu, porém maior tabu hoje em dia é apontar novos "democratas" que estiveram o tempo todo do lado do poder militar.
Outro tabu, e dos mais dolorosos e temidos, era o General Golberi do Couto e Silva. Escrevemos era porque, a partir de exaustiva pesquisa documental, Elio Gaspari conta como dois generais aos poucos desmontaram a ditadura que haviam ajudado a construir: Ernesto Geisel, o Sacerdote, e Golbery do Couto e Silva, o Feiticeiro, atuaram juntos no comando do regime militar brasileiro e o conduziram à derrocada. O relato que inaugura a trilogia O Sacerdote e o Feiticeiro (Cia das Letras) vai de junho de 1971, quando um bilhete anunciava que o novo presidente seria "o Alemão", à avassaladora vitória da oposição nas eleições parlamentares de 1974.


Sobre o livro Marcos Sá Corrêa escreve - "A mistura de pesquisa exaustiva com inconfidências inimagináveis dá às páginas d'A ditadura derrotada o atestado definitivo de que a história supera, sim, a ficção. Em vez de personagens reais dizendo coisas imaginárias, elas têm personagens reais dizendo coisas inimagináveis. Geisel se deixou gravar por um auxiliar de confiança num governo que censurou o presente e o passado mas deixou ao futuro o legado de suas próprias entranhas abertas à exposição pública."


E outras histórias vão saindo das sombras. A de Chico Mendes é outra delas. O jornalista Zuenir Ventura escreveu "Chico Mendes - Crime e Castigo" (Cia das Letras). Quinto volume da série Jornalismo Investigativo teve segundo o autor a preocupação de não tratar Chico como um mito. Em entrevista por ocasião do lançamento do livro, chegou a declarar que ele foi um mártir da causa ambiental mas "não gosto de achar que temos que mitifica-lo. No livro, revelo que ele foi bígamo.Não se tem de esconder isso para fazer dele um personagem religioso.(...)Tive a preocupação de trata-lo não como mito, mas como um líder como poucos que o Brasil produziu."

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