Com texto original
de Bertold Brecht, a montagem oferece um novo olhar a partir de pesquisa
realizada pelo grupo mundana companhia. A direção geral é assinada por Cibele
Forjaz, mas conta com “propositores de encenação” da própria companhia para
cada nova temporada/ocupação
A CAIXA Cultural
Curitiba apresenta uma versão inusitada da peça Na Selva das Cidades.
Escrita em 1927, pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), a obra
ainda desafia o tempo, quase um século depois. De uma atualidade aguda, o texto
alinha exclusão social aos podres poderes da vida em sociedade. Esses aspectos são
investigados à exaustão para a montagem trazida pelo grupo mundana companhia.
Com direção geral de Cibele
Forjaz, a peça tem elenco formado por Aury Porto, Carol Badra, Guilherme
Calzavara, João Bresser, Luah Guimarãez, Mariano Mattos Martins, Sylvia Prado,
Vinícius Meloni e Washington Luiz Gonzales. A pesquisa resultou em um livro
distribuído gratuitamente para escolas de teatro e instituições de todo o país.
Parte do conjunto de
principais realizadoras de teatro contemporâneo no Brasil, a mundana
companhia fez jus a seu nome durante o desenvolvimento da estrutura da peça:
ao longo de dois anos, enveredou por toda São Paulo pesquisando, de corpo
presente, sua humanidade. A partir daí, arquitetou um espetáculo que se
transforma, literalmente, a cada temporada/ocupação.
A partir do glossário
urbano adquirido, a montagem conta a mesma história a partir de novos pontos de
vista. Ao trabalho da diretora Cibele Forjaz soma-se sempre uma equipe
propositiva formada por componentes do grupo que assumem uma espécie de
curadoria. Em Curitiba, Aury Porto, Bia Fonseca, Flora Belotti e Rogério Pinto vão
liderar a Ocupação #17 PALCO. Eles estudam o espaço e propõem, para toda a
equipe, a forma que a peça assumirá durante a temporada/ocupação.
Em Curitiba, Na
Selva das Cidades – Em Obras os criadores apresentam o palco à italiana –
espaço nada comum na trajetória da mundana companhia. “A imersão por São
Paulo, durante a pesquisa de linguagem, nos deu um eixo. Desde o início
estabelecemos uma equipe propositiva que aponta rumos. Toda a ficha técnica
está o tempo inteiro envolvida, em movimento, sem um pensamento pronto e
acabado para a montagem”, explica Aury Porto, fundador junto com Luah Guimarãez
da mundana companhia. As peculiaridades que envolvem a montagem e o
processo de criação da companhia serão apresentados durante um bate papo com o
público, que será realizado no dia 4 de março, às 15 horas, com entrada franca.
Bixiga
– Perdizes: Potência das experiências
Um dos textos com mais
elementos expressionistas de Brecht, Na Selva das Cidades mostra a luta
entre dois homens, mas também o embate com a cidade. Em 1969, o Teatro Oficina
realizou uma montagem do texto considerada antológica. “Lina Bo Bardi levou,
para dentro da Oficina, restos de moradias do Bixiga que estavam sendo
demolidas para a construção do Minhocão, que liga Bixiga a Perdizes”, conta
Aury Porto. Esse processo orientou a pesquisa de campo da mundana companhia.
O impacto da imersão dos artistas com o intercâmbio junto aos moradores de SP
foi vertiginoso. “Não podíamos criar uma montagem, digamos, formal. A cidade
nos deu um estímulo que, na sala de ensaio, se esvaía. Decidimos abrir a
possibilidade de mudar tudo a cada nova agenda de apresentações. Já fizemos sem
palavra alguma; outra vez fizemos em uma hora, depois em três”, contextualiza
Aury.
Dessa maneira, a
companhia assumiu o risco de investir no inusitado. “Os conceitos acabados e as
formas fixas não cabiam mais nesse trabalho. O próprio texto de Brecht é cheio
de lacunas. Percebemos que era a partir destas lacunas que o trabalho se
abriria para o nosso tempo e suas questões, para uma comunicação mais livre
entre a nossa equipe de criação e o público, entre o teatro e a cidade, entre a
ficção e a realidade. Resolvemos, então, abrir radicalmente o espetáculo para a
potência das experiências vividas, em grupo, com a cidade. A partir desse novo
paradigma, tudo passou a ser móvel e inacabado. A cada nova ocupação, tudo se
transforma na relação com o espaço ocupado. Desta forma, o cenário propõe
sempre uma nova intervenção no espaço. Da mesma forma, a luz, o vídeo, os figurinos
e os objetos de cena só existem a partir da relação com esse novo espaço e seus
conceitos. O trabalho dos atores não tem marcas fixas, mas regras de jogo que
determinam a movimentação e o desenho da cena. Cada Ocupação é singular, cada
sessão é uma estreia. Lutando diariamente contra a nossa tendência às relações
hierárquicas e às formas prontas, estamos no risco, prontos para o inesperado”,
conclui Cibele Forjaz.
Sobre
a mundana companhia
Desde o ano 2000,
inspirados pela militância política dos artistas de teatro da cidade de São
Paulo junto ao movimento “Arte contra a Barbárie”, Aury Porto e Luah Guimarãez
desejavam criar um núcleo artístico formado essencialmente por
atores-produtores. A partir daí, um diretor – com afinidades afetivas e estéticas
com os membros da companhia – seria convidado a participar. O mesmo ocorreria
com os profissionais das outras áreas, como cenografia, figurino, música, luz,
e até mesmo outros atores. A cada projeto a companhia teria um novo corpo que
daria vazão às ideias de continuidade e transitoriedade. Esse é o pensamento
que caracteriza a mundana companhia.
Essa companhia, de
encontros conscientemente transitórios, recebe o adjetivo antes do substantivo
e tem seu nome integralmente grafado com letras minúsculas. Esboça-se, assim,
um projeto em constante construção por diversas mentes e mãos, num processo que
pode ser chamado de “frátria”, em dissonância com a supremacia do ideário de
pátria – tão caro à maioria das sociedades modernas. Essas especificidades nas
relações internas se refletem nas relações com os espectadores e, obviamente,
nos temas a serem investigados a cada novo projeto. Apesar de elaborado desde a
virada do século, o primeiro trabalho deste núcleo artístico só foi realizado
muitos anos depois.
O repertório da
mundana companhia é formado pelas montagens: A Queda (2007),
adaptação do romance de Albert Camus; Das Cinzas (2009), com
texto de Samuel Beckett; O Idiota – uma novela teatral (2010),
realizado a partir da obra homônima de Fiódor Dostoiévski; Tchekhov 4 -
Uma Experiência Cênica (2010), primeiro trabalho do diretor russo Adolf
Shapiro com atores brasileiros – montado por ocasião do centenário de Anton
Tchekhov; Pais e Filhos (2012), com encenação adaptada do romance
homônimo de Ivan Turguêniev, mais uma vez dirigida por Adolf Shapiro; O
Duelo (2013), criado a partir da novela de Tchekhov, que foi a
temporada anterior da mundana companhia na cidade de Curitiba em 2014.
Atualmente, está apresentando a peça Dostoiévski Trip, de
Vladímir Sorókin, com direção de Cibele Forjaz, numa coprodução com a
Cia Livre.
Serviço
Teatro:
Na Selva das Cidades – Em Obras
Local:
CAIXA
Cultural Curitiba. Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Curitiba (PR).
Data: 02 a
04 de março de 2018 (sexta a domingo)
Horário: sexta às 20h; sábado às 17h e às 20h; e domingo às 18h.
Ingressos:
Vendas a partir de 24 de fevereiro (sábado). R$ 10 e R$ 5 (meia –
conforme legislação e correntistas que pagarem com cartão de débito CAIXA). A
compra pode ser feita com o cartão vale-cultura.
Bilheteria: (41)
2118-5111 (De terça a sábado, das 12h às 20h. Domingo, das 16h às 19h.)
Classificação
etária: 14 anos
Lotação
máxima: 125 lugares (2 para cadeirantes)
Debate com os criadores: 04 de
março, às 15h, com entrada franca.
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