quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

[03.fev] Fabrício Corsaletti lança novo livro de crônicas, PERAMBULE

Perambule

Fabrício Corsaletti


Coleção Nova Prosa | 160 p. | 12 x 21 cm 

Filho de Rubem Braga com Sam Shepardâ? , crava Gregorio Duvivier na orelha deste livro. A afirmação não é fora de propósito. Se a prosa de Fabrício Corsaletti vive impregnada do humor e do lirismo do primeiro, também partilha da errância e do desamparo do segundo. Vem daí a sede de movimento que impele os personagens inesquecíveis deste Perambule, reunião de sessenta textos recentes, em que o autor alterna crônicas longas com poemas em prosa e em verso, crônicas curtas e microcontos.
Andarilho convicto ?" como fica claro na estupenda crônica de abertura, â?oPatersonâ? â?", Corsaletti inventa nestas páginas os mais variados trajetos, cruzando ruas de São Paulo, Rio, Paris ou Amsterdã, sobrevoando de drone sua cidade natal, no interior paulista, ou explorando o vasto mundo através do Google Earth, palmilhando o asfalto das metrópoles ou as estradas de terra batida da infância. O que importa, como diz o famoso poema de Blas de Otero, Sair/ Deste cárcere espaçoso e triste,/ Aliviar os rios e os sóis ,/ Sair, sair para o ar livre, para o arâ? .


Sobre o autor_ Fabrício Corsaletti nasceu em Santo Anastácio, SP, em 1978, e desde 1997 vive em São Paulo. Em 2007 publicou o volume Estudos para o seu corpo, que reúne seus quatro primeiros livros de poesia: Movediço (2001), O sobrevivente (2003) e os então inéditos História das demolições e Estudos para o seu corpo. Também é autor dos contos de King Kong e cervejas (2008), da novela Golpe de ar (2009), dos poemas de Esquimó (2010, prêmio Bravo! 2011), Quadras paulistanas (2013) e Baladas (2016), e das crônicas de Ela me dá capim e eu zurro (2014), além dos livros infantis Zoo (2005), Zoo zureta (2010) e Zoo zoado (2014). Desde 2010 é colunista da revista sãopaulo, do jornal Folha de S. P aulo.


Texto de orelha_
por Gregorio Duvivier

â?oJá reparou que toda orelha de livro começa com uma alfinetada?â? , disse uma vez o Corsaletti. Demorei a entender. â?oOlha o tanto de orelha que começa assim: â?~ao contrário de alguns autores da sua geração, Fulano não cai na obviedade do riso fácil...â?T. Será que não dá pra falar bem de um autor sem falar mal dos outros?â?
Entendo a tentação dos orelhistas â?" e vou cair nela: afinal, Corsaletti é totalmente diferente dos autores da sua geração. (Permito-me a alfinetada porque estou entre os autores referidos, tratando-se então de uma auto-alfinetada. Ao menos, assumo a alfinetada, ao contrário de alguns orelhistas da minha geração.)
Em Perambule, Corsaletti não vai tentar te convencer do que quer que seja. Aqui você encontrará a crônica em seu estado puro â?" a crônica-de-raiz, a crônica-moleque, a crônica-de-várzea. Filho de Rubem Braga com Sam Shepard (na arte, dois homens podem gerar um bebê, mesmo sem útero, e mesmo que eles nunca tenham se encontrado), Corsaletti quase não usa conectivos. â?oDados, nem pensarâ? , me disse numa outra conversa. â?oSenão a crônica corre sério risco de virar artigoâ? â?" e ele falava a palavra â?oartigoâ? como um médico fala de uma doença gravíssima.
Corsaletti cava buracos pra encontrar minhocas, não pra chegar no Japão. Quando chega, é pelo Google Earth, perambulando pelas ruelas 3D, espécie de flâneur pós-moderno. Corsaletti não tem Facebook (â?oao contrário de alguns autores da sua geraçãoâ? ), mas se recusa a ser chamado de ermitão â?" â?oErmitão? Eu moro na Augusta!â? . Afinal escreve do epicentro de São Paulo, caldeirão do Brasil, metonímia do planeta. Embora ainda chame os personagens pelo primeiro nome, como o Bandeira. Quando morrem, parece que morreu um amigo nosso.
Corsaletti pode não ser um ermitão, mas é uma ave rara. Escreve, como Drummond e Sabino, aquilo que Antonio Candido chamou de â?oliteratura menor, graças a Deus â?" porque sendo assim ela fica mais perto de nósâ? .
Aliás, tudo neste livro cabe perfeitamente naquilo que Candido escreveu a respeito da crônica no Brasil â?" que, ao longo do tempo, ela â?ofoi largando cada vez mais a intenção de informar e comentar (deixadas a outros tipos de jornalismo), para ficar sobretudo com a de divertir. A linguagem se tornou mais leve, mais descompromissada e (fato decisivo) se afastou da lógica argumentativa ou da crítica política, para penetrar poesia adentro. Creio que a fórmula moderna, na qual entra um fato miúdo e um toque humorístico, com o seu quantum satisde poesia, representa o amadurecimento e o encontro mais puro da crônica consigo mesmaâ? .
Numa geração que persegue likes e lacradas, Corsaletti escreve ao rés do chão, como os gigantes. Posso garantir: queríamos todos ser Corsaletti â?" nós, os autores da sua geração.


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