quarta-feira, 17 de maio de 2017

A Fórmula da Paz e o Direito da Pluralidade Religiosa



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Lokasaksi Dasa

Deus é um, e Ele é apreciado segundo os diferentes pontos de vista. (Srila A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, Srimad-Bhagavatam 5.3.17, Significado.)

Segundo reflexão do teólogo francês Claude Geffré, a questão da liberdade de opção religiosa unicamente se sustenta se a pluralidade religiosa for considerada não apenas como uma “realidade de fato”, mas também como uma “realidade de direito”. Apesar de essa pluralidade ser aceita como fato incontestável, por estar sempre presente em todas as épocas e culturas da humanidade, ela, na verdade, existe como um direito de todos, por ser manifestação do plano divino.

Corroborando isso, podemos encontrar, na tradição védica (hindu), as afirmações de que ekam sad vipra bahuda vadanti: “O Real é único, mas os sábios descrevem-no de várias formas.” (Rig Veda 1.164.46)

vadanti tat tattva-vidas tattvam yaj jnanam advayam
brahmeti paramatmeti bhagavan iti shabdyate

“Os videntes e conhecedores da Verdade não-dual e plena de conhecimento descrevem-nA como o Ser Absoluto [Brahman], a Alma Suprema [Paramātman] e a Pessoa Todo-opulenta [Bhagavan]”. (Bhagavata Purana. 1.2.11)

Quando se parte da premissa de que o conceito de Deus se refere, em igualdade, ao conceito do Absoluto ou da Realidade última, pode-se concluir que só existe uma única Divindade. Mas, quando as experiências com o Divino acontecem fatualmente, no contexto da história, elas se manifestam diferentemente, nas várias tradições e culturas religiosas, como experiências singulares.

Nenhuma fé ou religião pode ser considerada absoluta ou exclusiva, pois toda fé é relativa, na medida em que ela não aponta para si própria, mas para a Divindade, como seu fundamento e fonte, como o único Absoluto. Qualquer religião que se pretenda absoluta, em detrimento de todas as outras, nega o próprio conceito do Absoluto, como realidade única sem um segundo.

Sri Krishna afirma na Bhagavad-gita (4.11):

ye yatha mam prapadyante tams tathaiva bhajamy aham 
mama vartmanuvartante manusyah partha sarvashah

“Na medida em que eles se voltam para Mim, assim também Eu os aceito, ó filho de Partha; todos seguem o Meu caminho sob todos os aspectos.”

Isso significa que Deus Se relaciona com todos os seres de acordo com sua realização, sinceridade e desejo de amor e serviço, e não de acordo com a sua afiliação a uma entidade religiosa. Certamente, toda e cada instituição religiosa genuína tem sua pertinência própria, na medida em que é considerada mediação da experiência do Divino para seus adeptos. Contudo, elas deveriam ser percebidas como sendo diferentes paradigmas do reencontro do Divino com o humano, e tendo a Divindade Suprema como seu centro e objetivo principal. Essa é a fórmula da paz.


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