O Advento de Srimati Radharani
Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada
Em
palestra realizada em Montreal, 30 de agosto de 1968, o
acharya-fundador da ISKCON fala sobre a grandiosidade da filosofia de
Radha-Krishna.
Hoje
é Radhashtami, o aniversário de Srimati Radharani. Radharani é a
potência de prazer de Krishna, o qual, por Sua vez, é o Brahman Supremo,
como encontramos no Bhagavad-gita (10.12):
param brahma param dhama
pavitram paramam bhavan
purusham shashvatam divyam
adi-devam ajam vibhum
“Sois a Suprema Personalidade de Deus, a morada derradeira, o mais puro, a Verdade Absoluta [param brahma]. Sois eterno, transcendental, a pessoa original, o não nascido, o maior”.
Krishna
é o Brahman Supremo e, quando o mesmo quer desfrutar, Ele não Se vale
da matéria para isso. A postura de desfrute está presente no Brahman
Supremo, ou param brahma. Do contrário, não poderíamos ter esse
espírito de desfrute. Porque somos partes integrantes do Brahman
Supremo, temos essa postura de desfrute, mas, em nós, é materialmente
contaminada. É fato, no entanto, que, porque Krishna desfruta, a postura
de buscar desfrute também existe em nós, mas não sabemos como
desfrutar. Estamos tentando desfrutar na matéria, a qual é, por
natureza, embotada. Brahma-sukhanubhutya (Srimad-Bhagavatam 10.12.11): as pessoas estão tentando sentir o que é o brahma-sukha, o prazer de brahmanubhava, o que não é prazer material. Muitíssimos yogis
abandonaram sua vida familiar e seu reino e adotaram a meditação para
alcançar o prazer do Brahman. Na verdade, a meta é o prazer do Brahman.
Muitíssimos brahmacharis e sannyasis estão tentando obter o
prazer do Brahman e, a fim de obter semelhante sorte de prazer, estão
negligenciando e rejeitando todo prazer material. Vocês acham que o
prazer do Brahman é um prazer ordinário como este prazer material se, a
fim de obterem uma porção do prazer do Brahman, grandes personalidades
rejeitam todo este prazer material?
Não
falemos de nós, porquanto somos homens comuns. Na história, temos
grandes exemplos, como aquele de Bharata Maharaja, devido a cujo nome
este planeta se chama Bharatavarsha. Bharata Maharaja foi o imperador do
mundo inteiro e, como imperador, tinha sua bela esposa e seus jovens
filhos. Com a idade de vinte e quatro anos, no entanto, quando apenas um
rapaz, ele abandonou tudo. Talvez alguém diga que esta é uma história
muito antiga, é claro, mas vocês conhecem o Senhor Buddha, o qual também
era príncipe. Buddha não era um homem comum, mas sim príncipe, kshatriya,
e ele estava sempre desfrutando com belas mulheres, pois o costumeiro
prazer palaciano nos países orientais era que, no palácio, havia muitas
belas moças, e elas estavam sempre dançando e dando prazer aos reis e
aos príncipes. Assim, o Senhor Buddha também estava envolto por tal
prazer, mas ele abandonou tudo e começou a meditar.
Há
muitas centenas de casos na história da Índia de personalidades que,
para auferirem o prazer do Brahman, abandonaram tudo. Esse é o caminho. Tapasya
significa voluntariamente aceitar algo rigoroso para lograr o prazer
supremo. Então, entendamos: se, para saborear um pouco do prazer do
Brahman, todos os prazeres materialistas estão sendo abandonados, é
possível acharmos que o Brahman Supremo, o Senhor Krishna, desfrutará
deste prazer material? Isso é razoável? Krishna está desfrutando, lakshmi-sahasra-shata- sambhrama-sevyamanam (Brahma-samhita 5.29): “Centenas e milhares de deusas da fortuna estão ocupadas a Seu serviço”. É possível pensarmos que essas lakshmis, deusas da fortuna, são mulheres materiais? Como Krishna pode obter prazer nas mulheres materiais? Pensar isso é engano. Ananda-chinmaya-rasa- pratibhavitabhis tabhir ya eva nija-rupataya kalabhih: Na Brahma-samhita (5.32), vocês encontrarão que Ele expande Sua ananda-chinmaya-rasa, “a nuança da transcendental potência de prazer”, e as gopis, entre as quais Radharani é a principal, são expansões de Sua potência de prazer.
Radharani
é o centro, de modo que não devemos pensar que Ela é uma mulher comum,
assim como temos a nossa esposa ou irmã ou mãe. Não. Radharani é a
potência de prazer, e o Seu nascimento não foi a partir do ventre de
algum ser humano, senão que Ela foi encontrada por Seu pai no campo.
Enquanto o pai arava o solo, ele viu que uma criancinha estava ali. Ele
não tinha filhos, então ele pegou a criança e a apresentou à rainha, sua
esposa: “Temos aqui uma excelente criança”. “Como obtiveste tal
criança?”. “No campo”. Apenas vejam. O janma, ou nascimento, de Radharani é assim, o qual se deu hoje.
O nome Radha às vezes não é encontrado no Srimad-Bhagavatam,
em virtude do que os membros da classe ateísta protestam com perguntas
como esta: “De onde surge este nome Radharani?”. O ponto, contudo, é que
eles não sabem como vê-lo. No Srimad-Bhagavatam (10.30.28), encontramos anayaradhitah. Não obstante a existência de muitas gopis, existe a menção de que, por essa gopi em particular, Ele é servido mais prazerosamente, ou, em outras palavras, Krishna aceita o serviço dessa gopi com mais prazer. A palavra aradhyate significa “adoração”. Desta palavra aradhyate, vem Radha. O nome de Radha, contudo, está presente em outros Puranas. Assim, esta é a origem.
Radha
e Krishna. Krishna é o desfrutador, e Ele quer desfrutar. Então, uma
vez que Ele é o Brahman Supremo, Ele não pode desfrutar de algo externo,
dado Seu atributo de atmarama, “autossatisfeito”. Ele, portanto,
desfruta em Si mesmo. Radharani, por conseguinte, é a expansão de Sua
potência de prazer, daí se afirmar que Krishna não tem que buscar por
coisas externas para o Seu prazer, sendo Ele pleno em Si mesmo.
Radharani, destarte, é expansão de Krishna: Krishna é o energético, e
Radharani é a energia. Assim como não é possível separar a energia do
energético; onde quer que Krishna esteja presente, está presente Radha, e
onde quer que Radha esteja presente, está presente Krishna. O fogo e o
calor você não pode separar: em todo lugar onde há fogo, há calor, e
onde quer que haja calor, há fogo. Igualmente inseparáveis são Radha e
Krishna, mas Ele está desfrutando.
Svarupa Damodara Gosvami descreveu esta intrincada filosofia de Radha e Krishna em um excelente verso, o qual diz:
radha krishna-pranaya-vikritir hladini shaktir asmad
ekatmanav api bhuvi pura deha-bhedam gatau tau
chaitanyakhyam prakatam adhuna tad-dvayam chaikyam aptam
radha-bhava-dyuti-suvalitam naumi krishna-svarupam
(Chaitanya-charitamrita, Adi 1.5)
Radha
e Krishna é o Supremo único, mas, a fim de desfrutar, Eles Se dividiram
em dois, e, no Senhor Chaitanya, juntaram-Se novamente os dois em um.
Esse “um” indica Krishna no êxtase de Radha. Algumas vezes, Krishna fica
no êxtase de Radha, e, outras vezes, Radha fica no êxtase de Krishna, o
que continua. O ponto, no entanto, é que “Radha e Krishna” significa o
único, o Supremo.
A
filosofia de Radha-Krishna é uma filosofia muito grandiosa, a qual deve
ser entendida no estágio liberado, e não no estágio condicionado.
Quando adoramos Radha-Krishna em nosso estágio condicionado; adoramos,
na verdade, Lakshmi-Narayana. Raga-marga e viddhi-marga: a adoração a Radha-Krishna está na plataforma de amor puro, raga-marga, ao passo que a adoração a Lakshmi-Narayana está na plataforma dos princípios reguladores, viddhi-marga.
Enquanto não desenvolvermos o nosso amor puro, teremos que adorar com
base nos princípios reguladores: o indivíduo tem que se tornar brahmachari, tem que se tornar sannyasi,
tem que fazer a adoração de determinada maneira, tem que levantar de
manhã, tem que oferecer artigos – muitíssimas regras e regulações.
Existem pelo menos sessenta e quatro regras e regulações, as quais
introduziremos gradualmente, à medida que vocês se desenvolvam.
Assim, em viddhi-marga,
quando não temos amor por Deus, ou Krishna, temos que seguir a prática
dos princípios reguladores, até que o tenhamos automaticamente. Quando
vocês praticam tocar o tambor mridanga, por exemplo, não fica
harmonioso no começo, mas, quando bem versados na prática, o som será
produzido muito bem. Analogamente, quando estamos ocupados pelos
princípios reguladores na adoração a Radha-Krishna, isso se chama viddhi-marga, ao passo que, quando você está realmente na plataforma amorosa, isso se chama raga-marga. Então, se alguém quer aprender raga-marga imediatamente, sem viddhi-marga,
isso é tolice, haja vista que ninguém pode passar no mestrado sem
passar pelos princípios reguladores do ensino fundamental, médio e
superior. Diante disso, eu não me ocupo em discussões de Radha e Krishna
muito facilmente. Em vez de o fazermos, prossigamos com o princípio
regulador no momento presente. Gradualmente, à medida que vocês se
tornarem purificados, à medida que vocês se situarem na plataforma
transcendental, vocês entenderão o que é Radha-Krishna, mas não tentem
compreender Radha-Krishna muito rapidamente, porquanto é um tema muito
amplo. Se quisermos compreender Radha-Krishna muito rapidamente, haverá
muitíssimos prakrita-sahajiyas.
Na Índia, há prakrita-sahajiyas,
os quais tornaram a dança de Radha-Krishna, por exemplo, um brinquedo.
Nas pinturas de Radha-Krishna deles, Krishna está beijando Radha e Radha
O está beijando. Tudo isso é disparate, pois a filosofia de
Radha-Krishna tem que ser compreendida pela pessoa liberada, não pela
alma condicionada. Devemos aguardar, portanto, pelo afortunado momento
em que estaremos liberados, então compreenderemos radha-krishna-pranaya-vikritir .
Tentem compreender que Krishna e Radha não estão no âmbito material. A
análise de Jiva Gosvami, em resumo, é que Krishna é o Brahman Supremo, e
o Brahman Supremo não pode aceitar algo material, logo Radha não está
no âmbito material.
Existe uma excelente canção, de autoria de Rupa Gosvami.
radhe jaya jaya madhava-dayite
gokula-taruni-mandala-mahite
damodara-rati-vardhana-veshe
hari-nishkuta-vrinda-vipineshe
vrishabhanudadhi-nava-shashi- lekhe
lalita-sakhi guna-ramita-vishakhe
karunam kuru mayi karuna-bharite
sanaka-sanatana-varnita- charite
(Radhika-stava)
Esta canção foi cantada por Rupa Gosvami, aquele a de fato ter compreendido Radha e Krishna. Então, ele diz radhe jaya jaya, “todas as glórias a Radharani”; madhava-dayite,
“a qual é muito querida a Krishna”. Todos estão tentando amar Krishna,
mas Krishna está tentando amar Radharani, de modo que podemos tentar
compreender quão grandiosa Ela é. Todas as entidades vivas, no universo
inteiro, estão tentando amar Krishna – krishna-prema. O Senhor Chaitanya disse que prema-pumartho mahan, isto é, “a meta mais elevada é amar Krishna”. E Rupa Gosvami descreveu: “Estás distribuindo krishna-prema, ó Chaitanya”. Assim, embora krishna-prema
seja algo valiosíssimo, Krishna está buscando por Radharani. Apenas
vejam o quanto Radharani é grandiosa! Apenas tentemos entender a
grandeza de Radharani! Ela é grandessíssima, em razão do que temos que
oferecer os nossos respeitos: radhe jaya jaya madhava-dayite.
Como Ela é? Gokula-taruni-mandala-mahite. Taruni significa “mocinhas”. Vocês podem ver nas pinturas que elas, as gopis,
são todas mocinhas. De todas as mocinhas, entretanto, Radharani é a
mais bela. Ela é encantadora às mocinhas também, pois Ela é belíssima. Damodara-rati-vardhana-veshe: Ela sempre Se veste tão bem que Damodara, Krishna, atrai-Se pela beleza dEla. Hari-nishkuta-vrinda-vipineshe :
Ela é o único objeto amável de Krishna, e Ela é a rainha de Vrindavana.
Caso vocês forem a Vrindavana, vocês verão que todos estão adorando
Radharani. Rani significa “rainha”. Todos lá estão sempre falando: “Jaya Radhe!”. Todos os devotos em Vrindavana são adoradores de Radharani. Vrishabhanudadhi-nava-shashi- lekhe: Ela apareceu como a filha do rei Vrishabhanu. Lalita-sakhi guna-ramita-vishakhe: Suas companheiras são Lalita-sakhi e Vishakha-sakhi. Então, em nome dos devotos puros de Krishna, Rupa Gosvami está orando, karunam kuru mayi karuna-bharite.
“Ó minha adorável Radharani, sois plena de misericórdia, em virtude do
que estou implorando por Vossa misericórdia. Visto que sois deveras
misericordiosa, muito facilmente concedeis Vossa misericórdia. Não
deixarei, portanto, de implorar por Vossa misericórdia”. Neste ponto,
alguém talvez dissesse: “Rupa Gosvami, és tão grandioso, és um estudioso
erudito, uma personalidade tão santa, e está implorando pela
misericórdia de uma mocinha comum? Como é isso?”. Portanto, Rupa Gosvami
diz, sanaka-sanatana-varnita- charite: “Não se trata de uma
moça comum. Apenas grandes personalidades santas, como Sanaka-Sanatana,
podem descrever tal moça, logo Ela não é uma moça qualquer”.
Assim,
a lição é que não devemos tratar Radharani como uma garota comum, ou
Krishna como um homem comum. Eles são a Suprema Verdade Absoluta. Na
Verdade Absoluta, todavia, existe a potência de prazer, a qual é exibida
nas relações de Radha e Krishna, e todas as gopis são expansões de Radha.
Se gostou deste material, também gostará destes: Sagrado Feminino, Uma Introdução às Deusas Védicas e Seus Segredos, Srimati Radharani: Gênero, Divindade e Amor na Forma da Deusa Dourada, Radharani, o Lado Feminino de Deus, A Harmonia Interna de Sitadevi.
Do Blog Volta ao Supremo. Leia outros artigos em www.voltaaosupremo.com.
Nenhum comentário:
Postar um comentário