Um dos grandes nomes do cancioneiro nacional, Chico César, quebra o silêncio e mostra sua versatilidade em seu novo álbum, “Estado de Poesia” (Urban Jungle/Natura Musical). No próximo dia 24 de junho (quarta), o músico sobe ao palco do Centro Cultural Rio Verde, às 22h, para o show de lançamento do disco em São Paulo, na série Natura Musical.
“Estado de Poesia” une a riqueza dos ritmos brasileiros à sonoridade universal. Num mesmo registro fonográfico, samba, forró, frevo, toada e reggae se misturam e dão vida ao novo disco de Chico. O CD tem produção do próprio artista, em parceria com Michi Ruzitscha, e produção executiva da Urban Jungle, distribuição pela Pommelo Distribuições e distribuição digital pelo Laboratório Fantasma.
Na apresentação, o público poderá conferir as canções do novo trabalho, como “Da Taça”, disponível para download gratuito no portal “Natura Musical” (www.naturamusical.com.br), e músicas de trabalhos anteriores do paraibano radicado em São Paulo, como “Mama África” e “Pensar em Você”, além de momentos em duo com os músicos convidados, Lívia Mattos e Escurinho.
O projeto que inclui gravação do álbum e turnê de lançamento por cinco capitais (João Pessoa, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador) foi contemplado pelo edital nacional do Natura Musical. “O programa foi criado para valorizar a música brasileira em várias vertentes: da preservação do legado à revelação de talentos, mas também para contribuir com a realização e ampliação do acesso a iniciativas especiais de nomes consagrados, aquelas que nossa comissão de especialistas do meio musical considera de fato emblemáticas. A beleza e diversidade do novo álbum de Chico César, que há oito anos não lançava um disco de inéditas, nos diz que estamos cumprindo nossos objetivos”, diz Fernanda Paiva, gerente de apoios e patrocínios da Natura.
Serviço:
Natura apresenta Chico César em “Estado de Poesia”
Local - Centro Cultural Rio Verde
Endereço – Rua Belmiro Braga, 119 – Vila Madalena
Data: 24 de junho
Horário: 22h
Valor dos ingressos: R$ 40
Duração do show: 90 min
Capacidade da casa: 400 lugares
Classificação: 18 anos
Compra de ingressos pela internet: https://www.ingresse.com/ chicocesarlancamentodocdestado depoesia
O que é “Estado de Poesia”?
Conheci Chico César numa noite de agosto de 1996 em Natal. Ele ia lá para dar um show e eu para o lançar meu livro sobre Luiz Gonzaga. No restaurante onde fora organizado o encontro, entoamos um duelo – “duelo” não convém, melhor dizer “desafio”, sendo a cena no Nordeste e entre dois nordestinos - em que cada um clamava a admiração pela obra do outro. Terminado o troca-troca de elogios, jantamos e nos tornamos amigos para sempre.
A partir de então e não sei por que, Chico e eu passamos a nos encontrar regularmente de maneira totalmente inesperada, nos lugares mais improváveis… como da vez em que, para um documentário, eu estava filmando o ensaio de uma escola de samba em São Paulo e lá estava o Chico na ala dos bateristas! Mas também havia encontros devidamente programados, nos shows do Chico fosse na França fosse no Brasil… E havia os encontros virtuais, quando me chegavam os novos CDs do Chico, que sempre proporcionavam um grande momento de felicidade: sou fã desse paraibano universal!
Ora eis que, de repente, não houve mais encontros – nem acidentais nem previstos nem virtuais: Chico que nunca passava mais de dois – no máximo três - anos sem nos presentear com um disco novo, calou a produção. Não que lhe secara a inspiração. Ele partira para outras: presidência da Funjope e depois secretaria da cultura da Paraíba. Só podia ser bom para a cultura do estado. Mas, para mim, que dieta cruel regada a saudades. Felizmente para matá-las havia seus deliciosos CDs na minha discoteca.
Até que chegou aquele convite para escrever um texto sobre o novo disco do Chico. Eu: Oba! Claro que aceito! Mas antes me conte o que você andou fazendo durante seis anos…
Chico: Contar para quê, se tudo está dito no disco? Já fala o titulo do disco (e da faixa 3) “Estado de poesia”, por ter sido gerado nesses seis anos que fiquei em meu estado, a Paraíba, como gestor público na área da cultura. Estado de poesia é um estado alterado de dentro para fora, é como vi meu estado de origem e como me vi. O disco tem um lado A, que fala mais das coisas internas, do amor pela moça que veio morar em São Paulo comigo agora, uma paraibana. As musicas têm a ver com isso tudo. “Para viver em estado de poesia / me entranharia nestes sertões de você / para deixar a vida que eu vivia /de cigania antes de te conhecer… E tem um lado B que é um olhar mais social, pra fora, pro mundo. “Negam que aqui tem preto, negão / negam que aqui tem preconceito de cor / negam a negritude e essa negação nega / a atitude de um negro amor…”
Lado A - lado B ou as duas faces de um Chico César de volta à música, seu mais certo lugar. Tão longo silêncio poderia ter prejudicado o fio da inspiração. No entanto, será o fruto do fogo da paixão? Da experiência na gestão cultural? Da maturidade? Da trégua de seis anos? Sem dúvida tudo junto: a escrita de Chico atinge aqui um grau impressionante de sofisticação, de criatividade, de sensibilidade, de beleza, em suma, de perfeição.
E isso, tanto no canto de amor como no grito de protesto. Pois se o amor dá asas ao Chico, sua consciência de cidadão lhe dá garras para denunciar o racismo endêmico no Brasil (Negão), os limites da liberdade (Miaêro, num ritmo que relembra a morna caboverdeana), a mercantilização da vida (Guru), o problema da pobreza e da droga (Sumaré, samba à la Adoniran Barbosa), a dificuldade de ser gay numa sociedade repressiva (Alberto, frevo em homenagem a Santos Dumont) e, única musica a não ser exclusivamente do Chico, Quero viver, parceria póstuma com letrista e poeta tropicalista Torquato Neto, que se suicidou em 1972 deixando paradoxalmente essa ode à vida que Chico musicou e arranjou num estilo bem Jackson do Pandeiro.
Samba, forró, frevo, toadas, reggae, morna, a voz cabocla de Chico César se apropria de uma vasta escala das formas rítmicas com maestria e inegável sotaque harmônico nordestino levado por um time maciço de músicos paraibanos da gema: Xisto Medeiros no baixo, Gledson Meira na bateria, Helinho Medeiros no piano. Contrastando esses acentos rurais, as percussões delicadamente urbanas de Simone Sou (salvo em Negão onde entra Felipe Roseno), o acordeon moldavo (isso mesmo!) de Oleg Fateev, a guitarra de Michi Ruzitschka e um punhado de convidados especiais: as vozes de Escurinho em Sumaré, de Seu Pereira em Alberto, de Lazzo Matumbi em Negão, o trombone de Raul de Souza em Miaêro e…
Haveria ainda muito que se dizer sobre essa nova produção de uma infinita riqueza. Mas o Chico me disse que eram 50 linhas e acho que já passei… então resumindo, nada se perde, tudo se transforma e Chico transformou o silêncio dos anos de gestor em gênio puro. Confirmo: sou fã de carteirinha desse paraibano que, não há duvida, está profundamente em estado de poesia!
PS.: Última hora: o acréscimo de um bônus ao disco. Reis do agronegócio, parceria do Chico com Carlos Rennó é um protesto indispensável contra a criminalidade agro-industrial. Uma melodia linda e singela, um longo poema descrevendo com palavras simples a gravidade dos fatos, o som sóbrio do violão acústico e o canto despojado sumamente emocionante do Chico, tem algo do Bob Dylan dos anos 60 nesta música que deveria ser ensinada nas escolas.
Dominique Dreyfus (jornalista e pesquisadora francesa, autora do livro “Vida do Viajante”, uma biografia de Luiz Gonzaga.
Sobre o programa Natura Musical
O programa patrocina novos talentos, artistas consagrados em momentos emblemáticos da carreira e projetos de preservação de legado e formação musical em todo o Brasil, por meio de diferentes frentes, como os Editais Públicos, que selecionam projetos de diferentes formatos e estágios da produção cultural por meio das Leis Rouanet e do Audiovisual em todo o Brasil, e da Lei do ICMS em São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e no Pará; por Seleção Direta, que contempla propostas adequadas ao conceito do programa e de grande relevância e inovação, sem a obrigatoriedade das leis de incentivo; e pelos Festivais.
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