quinta-feira, 18 de junho de 2015

Natura apresenta Chico César no show de lançamento do disco “Estado de Poesia”, dia 24 de junho, no Centro Cultural Rio Verde


Um dos grandes nomes do cancioneiro nacional, Chico César, quebra o silêncio e mostra sua versatilidade em seu novo álbum, “Estado de Poesia” (Urban Jungle/Natura Musical). No próximo dia 24 de junho (quarta), o músico sobe ao palco do Centro Cultural Rio Verde, às 22h, para o show de lançamento do disco em São Paulo, na série Natura Musical.
 “Estado de Poesia” une a riqueza dos ritmos brasileiros à sonoridade universal. Num mesmo registro fonográfico, samba, forró, frevo, toada e reggae se misturam e dão vida ao novo disco de Chico. O CD tem produção do próprio artista, em parceria com Michi Ruzitscha, e produção executiva da Urban Jungle, distribuição pela Pommelo Distribuições e distribuição digital pelo Laboratório Fantasma.
Na apresentação, o público poderá conferir as canções do novo trabalho, como “Da Taça”, disponível para download gratuito no portal “Natura Musical” (www.naturamusical.com.br), e músicas de trabalhos anteriores do paraibano radicado em São Paulo, como “Mama África” e “Pensar em Você”, além de momentos em duo com os músicos convidados, Lívia Mattos e Escurinho.

O projeto que inclui gravação do álbum e turnê de lançamento por cinco capitais (João Pessoa, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador) foi contemplado pelo edital nacional do Natura Musical. “O programa foi criado para valorizar a música brasileira em várias vertentes: da preservação do legado à revelação de talentos, mas também para contribuir com a realização e ampliação do acesso a iniciativas especiais de nomes consagrados, aquelas que nossa comissão de especialistas do meio musical considera de fato emblemáticas. A beleza e diversidade do novo álbum de Chico César, que há oito anos não lançava um disco de inéditas, nos diz que estamos cumprindo nossos objetivos”, diz Fernanda Paiva, gerente de apoios e patrocínios da Natura.

Serviço:
Natura apresenta Chico César em “Estado de Poesia”
Local - Centro Cultural Rio Verde
Endereço – Rua Belmiro Braga, 119 – Vila Madalena
Data: 24 de junho
Horário: 22h
Valor dos ingressos: R$ 40
Duração do show: 90 min
Capacidade da casa: 400 lugares
Classificação: 18 anos

O que é “Estado de Poesia”?
Conheci Chico César numa noite de agosto de 1996 em Natal. Ele ia lá para dar um show e eu para o lançar meu livro sobre Luiz Gonzaga. No restaurante onde fora organizado o encontro, entoamos um duelo – “duelo” não convém, melhor dizer “desafio”, sendo a cena no Nordeste e entre dois nordestinos -  em que cada um clamava a admiração pela obra do outro. Terminado o troca-troca de elogios, jantamos e nos tornamos amigos para sempre.

A partir de então e não sei por que, Chico e eu passamos a nos encontrar regularmente de maneira totalmente inesperada, nos lugares mais improváveis… como da vez em que, para um documentário, eu estava filmando o ensaio de uma escola de samba em São Paulo e lá estava o Chico na ala dos bateristas! Mas também havia encontros devidamente programados, nos shows do Chico fosse na França fosse no Brasil… E havia os encontros virtuais, quando me chegavam os novos CDs do Chico, que sempre proporcionavam um grande momento de felicidade: sou fã desse paraibano universal!

Ora eis que, de repente, não houve mais encontros – nem acidentais nem previstos nem virtuais: Chico que nunca passava mais de dois – no máximo três - anos sem nos presentear com um disco novo, calou a produção. Não que lhe secara a inspiração. Ele partira para outras: presidência da Funjope e depois secretaria da cultura da Paraíba. Só podia ser bom para a cultura do estado. Mas, para mim, que dieta cruel regada a saudades. Felizmente para matá-las havia seus deliciosos CDs na minha discoteca.

Até que chegou aquele convite para escrever um texto sobre o novo disco do Chico. Eu: Oba! Claro que aceito! Mas antes me conte o que você andou fazendo durante seis anos…

Chico: Contar para quê, se tudo está dito no disco? Já fala o titulo do disco (e da faixa 3) “Estado de poesia”, por ter sido gerado nesses seis anos que fiquei em meu estado, a Paraíba, como gestor público na área da cultura. Estado de poesia é um estado alterado de dentro para fora, é como vi meu estado de origem e como me vi. O disco tem um lado A, que fala mais das coisas internas, do amor pela moça que veio morar em São Paulo comigo agora, uma paraibana. As musicas têm a ver com isso tudo. “Para viver em estado de poesia / me entranharia nestes sertões de você / para deixar a vida que eu vivia /de cigania antes de te conhecer… E tem um lado B que é um olhar mais social, pra fora, pro mundo. “Negam que aqui tem preto, negão / negam que aqui tem preconceito de cor / negam a negritude e essa negação nega a atitude de um negro amor…”

Lado A - lado B ou as duas faces de um Chico César de volta à música, seu mais certo lugar. Tão longo silêncio poderia ter prejudicado o fio da inspiração. No entanto, será o fruto do fogo da paixão? Da experiência na gestão cultural? Da maturidade? Da trégua de seis anos? Sem dúvida tudo junto: a escrita de Chico atinge aqui um grau impressionante de sofisticação, de criatividade, de sensibilidade, de beleza, em suma, de perfeição.

E isso, tanto no canto de amor como no grito de protesto. Pois se o amor dá asas ao Chico, sua consciência de cidadão lhe dá garras para denunciar o racismo endêmico no Brasil (Negão),  os limites da liberdade (Miaêro, num ritmo que relembra a morna caboverdeana), a mercantilização da vida (Guru),  o problema da pobreza e da droga (Sumaré, samba à la Adoniran Barbosa),  a dificuldade de ser gay numa sociedade repressiva (Alberto, frevo em homenagem a Santos Dumont) e, única musica a não ser exclusivamente do Chico, Quero viver, parceria póstuma com letrista e poeta tropicalista Torquato Neto, que se suicidou em 1972 deixando paradoxalmente essa ode à vida que Chico musicou e arranjou num estilo bem Jackson do Pandeiro.

Samba, forró, frevo, toadas, reggae, morna, a voz cabocla de Chico César se apropria de uma vasta escala das formas rítmicas com maestria e inegável sotaque harmônico nordestino levado por um time maciço de músicos paraibanos da gema: Xisto Medeiros no baixo, Gledson Meira na bateria, Helinho Medeiros no piano. Contrastando esses acentos rurais, as percussões delicadamente urbanas de Simone Sou (salvo em Negão onde entra Felipe Roseno), o acordeon moldavo (isso mesmo!) de Oleg Fateev, a guitarra de Michi Ruzitschka e um punhado de convidados especiais: as vozes de Escurinho em Sumaré, de Seu Pereira em Alberto, de Lazzo Matumbi em Negão, o trombone de Raul de Souza em Miaêro e…

Haveria ainda muito que se dizer sobre essa nova produção de uma infinita riqueza. Mas o Chico me disse que eram 50 linhas e acho que já passei… então resumindo, nada se perde, tudo se transforma e Chico transformou o silêncio dos anos de gestor em gênio puro.  Confirmo: sou fã de carteirinha desse paraibano que, não há duvida, está profundamente em estado de poesia!

PS.: Última hora: o acréscimo de um bônus ao disco. Reis do agronegócio, parceria do Chico com Carlos Rennó é um protesto indispensável contra a criminalidade agro-industrial. Uma melodia linda e singela, um longo poema descrevendo com palavras simples a gravidade dos fatos, o som sóbrio do violão acústico e o canto despojado sumamente emocionante do Chico, tem algo do Bob Dylan dos anos 60 nesta música que deveria ser ensinada nas escolas.

Dominique Dreyfus (jornalista e pesquisadora francesa, autora do livro “Vida do Viajante”, uma biografia de Luiz Gonzaga.
Sobre o programa Natura Musical
O programa patrocina novos talentos, artistas consagrados em momentos emblemáticos da carreira e projetos de preservação de legado e formação musical em todo o Brasil, por meio de diferentes frentes, como os Editais Públicos, que selecionam projetos de diferentes formatos e estágios da produção cultural por meio das Leis Rouanet e do Audiovisual em todo o Brasil, e da Lei do ICMS em São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Bahia e no Pará; por Seleção Direta, que contempla propostas adequadas ao conceito do programa e de grande relevância e inovação, sem a obrigatoriedade das leis de incentivo; e pelos Festivais.

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