quarta-feira, 20 de maio de 2015

Inflação em queda e desemprego em alta

Após um repique inflacionário no início do ano, provocado pela combinação dos efeitos da alta das tarifas públicas (preços administrados) e da desvalorização cambial, a inflação volta para sua trajetória descendente sazonal no mês de maio, com o IGP-M ficando em 0,41% contra 1,16% do mês anterior. A queda maior se verificou no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que representa 60% do índice total e diz respeito aos produtos no atacado, variando de 1,41% para 0,39% em maio, com forte queda dos produtos agropecuários. Já o IPC-Fipe arrefeceu sua trajetória de elevação, passando de 1,04% na primeira semana do mês para 0,83% nesta segunda prévia, o que pode indicar uma desaceleração da inflação no varejo também. Já no campo do emprego, as notícias negativas seguem dando a tônica no primeiro trimestre de 2015, com o emprego industrial caindo 0,6% em março e marcando uma série de três quedas consecutivas neste início de ano. Na comparação com o mesmo trimestre de 2014, a queda foi de 4,6%, atingindo todos os setores analisados pela pesquisa. A folha de pagamentos, por sua vez, apresentou uma ligeira expansão mensal de 0,1% na comparação de março com o mês imediatamente anterior, mas segue negativa no acumulado de 12 meses, quando marca redução de 2,8%.

Comentário: Espera-se que a queda da inflação se acentue nos próximos meses, mesmo que ainda possa se verificar alguma inércia do choque inicial de preços verificado no primeiro trimestre do ano. Esta desaceleração tem relação direta com a estabilização da taxa de câmbio, o fim dos impactos secundários dos aumentos nos preços administrados e a desaceleração da atividade econômica, que alivia qualquer pressão de demanda advinda do mercado de trabalho. Este último fator está refletido exatamente no aumento das taxas de desemprego e na queda da renda média do trabalho e das famílias, que tende a se acentuar este ano, jogando um papel decisivo para a ancoragem das expectativas inflacionárias em 2016. Alguns economistas já admitem abertamente que um desemprego maior e a queda nos salários reais são a base do projeto liberal de desenvolvimento que está sendo proposto atualmente, em conjunto com medidas de liberalização comercial (através de acordos bilaterais) e políticas de incentivo ao capital privado, particularmente no setor financeiro e de mercados de capitais. A promessa é que a combinação de inflação e salários em queda (juntamente as outras medidas citadas) irá incentivar os empresários a investirem, gerando uma nova onda de crescimento econômico no futuro. Por enquanto, a única parte visível da proposta liberal é o desemprego, pois as expectativas empresariais e as perspectivas para o investimento privado seguem em níveis historicamente baixos. 

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