A
divulgação do balanço da Petrobras na noite de quarta-feira, 22, serviu
para ofuscar a aprovação definitiva, por parte da Câmara dos Deputados,
do PL 4.330, que abre a possibilidade de terceirização das
atividades-fim. O balanço da Petrobras apresentou baixas contábeis de R$
51 bilhões, decorrentes de perdas por corrupção (R$ 6 bilhões) e
principalmente da reavaliação de alguns ativos da empresa (R$ 44,3
bilhões), devido à queda no preço do petróleo e à redução na velocidade e
volume de investimentos que devem adiar a entrada em operação de
algumas plataformas e refinarias. Com esta baixa contábil e a revisão
dos valores dos ativos, a Petrobras registrou no balanço de 2014 um
prejuízo de aproximadamente R$ 21 bilhões, mesmo com o crescimento de
30% do lucro (EBTIDA) da empresa. Na mesma noite, a Câmara dos Deputados
votou os destaques ao texto principal da PL 4.330, que versa acerca da
possibilidade de terceirização total no mercado de trabalho brasileiro. A
emenda aglutinativa, que incluia o destaque que possibilita a
terceirização das atividades-fim, foi aprovada com margem estreita de
votos, sendo 230 votos favoráveis e 203 contrários. O PT e o PC do B
foram os únicos dois partidos que votaram completamente unidos contra a
aprovação dos destaques. Agora, o projeto de lei segue para o Senado
para ser apreciado e votado.
Comentário: A
divulgação do balanço da Petrobras teve uma repercussão maior do que a
aprovação da terceirização pela Câmara dos Deputados, apesar de a
segunda pauta representar um impacto mais direto e relevante na vida da
maioria dos trabalhadores brasileiros. Do ponto de vista econômico, a
aprovação dos destaques possibilitando a terceirização total representa
um ataque direto aos direitos trabalhistas, desorganizando o mercado de
trabalho brasileiro e impondo reduções salariais para um grupo grande de
trabalhadores, que serão demitidos e recontratados como terceirizados.
Do ponto de vista político, apesar da derrota com a aprovação dos
destaques, a mudança operada na Câmara dos Deputados entre a aprovação
do texto base e a dos destaques revela o sucesso da pressão política
exercida pelos sindicatos, movimentos sociais e partidos de esquerda (em
particular PT e PC do B) sobre os parlamentares, que se dividiram na
votação. Encaminhado para o Senado, o clima para mudanças no PL é
grande, inclusive com a alteração na definição de que as atividades-fim
podem ser alvo de terceirização. No limite, a pressão política serviu
para dar base a um possível veto da presidenta Dilma, que dificilmente
veria seu veto derrubado em um legislativo tão pressionado e dividido.
Serviu também para demonstrar que, mesmo sendo minoria, os partidos de
esquerda em aliança com os movimentos sociais têm condições de
dificultar e barrar o avanço das forças conservadoras majoritárias hoje
no parlamento brasileiro.
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sexta-feira, 24 de abril de 2015
Divulgação de balanço da Petrobras ofusca aprovação do projeto sobre terceirização
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