quinta-feira, 26 de março de 2015

Ofensiva liberal atinge Petrobras, BNDES e política macroeconômica

Ofensiva liberal atinge Petrobras, BNDES e política macroeconômica: As atuais dificuldades observadas na economia brasileira abriram espaço para um ataque amplo e irrestrido por parte das hostes liberais, que reputam o momento atual ao fracasso das políticas econômicas desenhadas no primeiro governo Dilma Roussef. Valendo-se de seu amplo apoio e espaço nos meios de comunicação, o ataque tem como objetivo desconstruir e eliminar qualquer resquício de política de desenvolvimento econômico ativo, tendo agora encontrado apoio no coração do governo federal com Joaquim Levy no comando da economia. A defesa do retorno do tripé macroeconômico em sua concepção menos flexível e mais estrita se contrapõe ao suposto abandono da política de metas inflacionárias e a flexibilização do tripé macro conduzido no primeiro governo Dilma, enquanto o ataque à Petrobras (que inclui debates sobre privatização e abertura do pré-sal para exploração por empresas estrangeiras) e ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) completam o quadro de desconstrução principais dos instrumentos utilizados para promover o desenvolvimento nacional nos últimos anos. Ilustrativo deste verdadeiro “programa” liberal é a edição de hoje do jornal “Valor Econômico”, onde alguns de seus principais jornalistas e colunistas atacam de forma coordenada o BNDES e seu papel de promotor do desenvolvimento, a chamada “nova matriz macroeconômica” e os instrumentos de gestão ativo da taxa de câmbio, além de criticar integrantes do governo que se contrapõe a interpretação liberal dos fatos. A conclamação para a presidente “admitir erros” se insere neste quadro, pois apenas quando Dilma afirmar categoricamente que estratégia adotada em seu primeiro governo levou o país ao cenário atual a vitória liberal estará completa.
Comentário: A avaliação de que os resultados econômicos negativos do final do governo Dilma se devem exclusivamente a erros na concepção da política econômica, que teria supostamente priorizado o desenvolvimento por meio da ação do Estado, representa uma simplificação banal da complexidade do momento que vivemos. Em primeiro lugar, relega a segundo plano análises de caráter mais estrutural, que demonstram a desconstrução gradual do parque produtivo nacional e o fim de um ciclo de consumo e de bens duráveis como fatores determinantes para a desaceleração econômica. Em segundo lugar, parte do princípio de que o Brasil estaria excluido do contexto internacional marcado pelo recrudescimento da concorrência externa, recessão e baixo crescimento nos principais países do mundo, além da instabilidade macroeconômica causada por medidas pouco usais de política monetária em países como Estados Unidos (EUA), Japão e no bloco do Euro. Por fim, retira de sua análise todas as considerações acerca de eventos exógenos, como a seca brasileira recente ou as rápidas alterações nos preços das commodities, em particular do petróleo, devido a introdução de uma nova tecnologia como o gás de xisto nos EUA. Criar e disseminar a interpretação de que todo o problema do Brasil se resume a adoção de uma política econômica “heterodoxa” e a utilização de instrumentos de Estado para promover o desenvolvimento faz parte de uma estratégia mais geral de eliminar do debate qualquer alternativa que não aquela proposta pelos liberais e pelos mercados financeiros. Caso vitoriosa, esta estratégia representará a supressão da vontade expressa nas urnas pela vontade expressa nos mercados, supostamente amparada por “leis econômicas naturais”, impossíveis de serem violadas. No pior cenário, a construção no imaginário popular de que “só há uma alternativa” poderá atrasar em décadas a adoção de qualquer estratégia de desenvolvimento econômico e social que não parta do princípio de que o Estado deve ser mínimo e o mercado deve promover os ajustes necessários, por meio do sistema de preços. Governos de esquerda, desta forma, estariam limitados a gerir as sobras orçamentárias para promover projetos (sempre frágeis e questionados) de proteção social, deixando a gestão do projeto de desenvolvimento mais amplo para as forças privadas.

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