Fotografias em preto e branco captam o que sobrou das cidades salitreiras, espalhadas pelo deserto ao norte do Chile
No
dia 10 de fevereiro, terça-feira, a Galeria de Babel abre a exposição
“Salitreiras”, de Dimitri Lee, nas quais o fotógrafo exibe 16 trabalhos
produzidos nas cidades salitreiras, espalhadas pelo deserto na região
norte do Chile – redutos industriais que tiveram seu auge na primeira
metade do século XX e que são agora cidades-fantasma. A exposição fica
em cartaz na galeria até o dia 30 de março.
Em
uma viagem ao deserto do Atacama para testar uma nova máquina
panorâmica, Dimitri Lee tomou conhecimento sobre a história das cidades
salitreiras e decidiu averiguar. Encantado pelo que encontrou por lá e
atormentado pela falta de registros fotográficos da região, deu início a
uma série de viagens, munido de uma câmera 8 x 10 polegadas.
“Há
poucos registros fotográficos das salitreiras, e existem centenas
delas. Algumas estão em bom estado de conservação, outras
semi-conservadas e algumas são quase sítios arqueológicos, com apenas
algumas ruínas restantes”, detalha o fotógrafo. “Há na exposição uma
fotografia dos resquícios de uma torre, que é tudo o que resta de uma
dessas salitreiras”, conta ainda.
Essas
cidades industriais de exploração do salitre começaram atividade no
final do século XIX na região, com capital inglês e tecnologia alemã. “O
salitre serve para a produção de fertilizante e de pólvora. Rendeu
muito dinheiro em tempos de paz e mais ainda em guerra”, explica
Dimitri. Com o advento da amônia sintética, possibilitando a produção de
fertilizante industrial, as salitreiras entraram em colapso. Foi após
essa crise que a Bolívia acabou perdendo para o Chile sua saída para o
Oceano Pacífico.
Entre
2005 e 2011, Dimitri Lee fez incontáveis viagens à região. A opção pela
máquina 8 x10 tornou o processo mais lento. “Eu ficava hospedado nos
hotéis mais próximos, que ficam pelo menos 200 km distantes da região,
acordava de manhã e ia pra lá fotografar. Há quem diga que a qualidade
das 8 x 10 continuam superiores às câmeras digitais ainda hoje, mas eu
optei por essa técnica por gosto pessoal. Eu só conseguia carregar dez
chapas de filme por vez na mochila, então só tinha dez cliques a cada
ida às salitreiras. Quando você está com uma câmera digital, você vai
registrando direto. Com uma 8 x 10, é necessário observar muito
atentamente, pois cada clique envolve muito custo”, conta Dimitri.
As
fotografias foram impressas no MR Estúdio Digital em jato de tinta
piezográfica sobre papel de algodão. O estúdio é um dos pouquíssimos
proprietários no mundo de uma impressora de 160 cm para tinta
piezográfica, à base de carvão – apenas pigmento, sem corante. Essa
técnica confere às impressões maior riqueza de tons de cinza e também
muito mais durabilidade.
Embora
Dimitri Lee tenha feito esses registros imagéticos da região, não
enxerga seu trabalho como um documento histórico. “Eu fui pra lá como
turista. Não pertenço àquele local, não tenho conexão com essa história.
O meu registro é artístico”, diz. “Mas essa história ainda vai precisar
ser contada”, conclui.
A galeria
– Fundada em 1999 por Jully Fernandes, a Galeria de Babel consolidou
seu papel no cenário brasileiro de artes plásticas, sendo a primeira a
trabalhar exclusivamente com fotografia. A convite da Magnum Photos de
Nova York, na época dirigida por Mark Lubell, atualmente diretor do ICP –
International Center of Photography, de 2009 a 2011, a galeria
trabalhou em parceria na América Latina para venda de fine art prints e
projetos culturais.
A
Galeria de Babel inaugurou no final de 2014 seu novo espaço, instalado
na esquina da Alameda Lorena com a Rua Ministro Rocha Azevedo, na
charmosa Vila Modernista, construída pelo arquiteto Flávio de Carvalho.
Com adaptações feitas pelo arquiteto Stephan Steyer, a Babel se
apresenta como um cubo branco que integra seu entorno de maneira
harmônica, como uma galeria de vila. Os pisos originais, de cerâmica e
de taco, foram mantidos, bem como a escada de madeira.
A
Galeria de Babel participa de feiras de arte, como a SP-Arte, SP-Arte
Brasília, SP Arte/Foto e P/ARTE. Entre seus artistas representados estão
Araquém Alcântara, Steve McCurry, Elliott Erwitt, Ara Güler, Thomas
Hoepker, Luiz González Palma, Zoe Zapot, Dimitri Lee e Paolo Ventura.
Além de galeria, a Babel atua como agência e realiza inúmeras exposições
em parcerias com museus, galerias, institutos culturais, festivais,
feiras de arte e grandes leilões, onde os artistas são promovidos em
âmbito nacional e internacional, trabalhando ainda em projetos em
parceria com os maiores nomes da arquitetura e decoração.
O artista – Nascido
em São Paulo, em 1961, Dimitri Lee, autodidata, começou a carreira
trabalhando como assistente nos estúdios da Editora Abril em 1978, onde
atuou até 1980. Em 1981 montou estúdio próprio e começou a trabalhar com
publicidade, atendendo as principais agências do Brasil. Em 2000
começou a utilizar o formato panorâmico em projetos de expressão
pessoal. Embora tenha muita experiência em informática, tem resistência
no seu uso em fotografia, preferindo usar filme de grande formato. Entre
suas exposições de destaque estão “Templos Politeístas” (Cinemateca
Brasileira, São Paulo, 2006), exposição do acervo da MEP – Maison
Européenne de la Photographie, que possui cinco obras da série
“Salitreiras” (Paris, 2013), e “Exerianas” (Espaço Cultural Porto
Seguro, São Paulo, 2014).
Exposição “Salitreiras”, de Dimitri Lee, na Galeria de Babel
Abertura da exposição: 10 de fevereiro, às 19h30
Visita guiada às 18h30
Visitação: de 11 de fevereiro a 28 de março
De terça a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 17h
Vila Modernista (Alameda Lorena, 1257), Casa 2, Jardim Paulista – São Paulo
Telefone: (11) 3825.0507
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