terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A LITERATURA E A MODA: A ESTRANHA RELAÇÃO ENTRE AS PALAVRAS E AS ROUPAS




Na Casa da Palavra Mário Quintana (Santo André – SP), o filósofo e escritor Brunno Almeida Maia (UNIFESP) e o chapeleiro Eduardo Laurino (FASM), ministram oficina gratuita sobre a relação entre a literatura, a moda e a filosofia.



“Um guarda roupa não é somente um móvel imaculado e consagrado em um quarto, ele é, também, um espaço de reminiscências, de memórias, de temporalidades. Quantos segredos, histórias, personagens e cenas aquela roupa, um vestido esquecido no fundo do armário, é capaz de resguardar? Ao retornar para as mãos que o tocam, revela não somente o passado, mas o cheiro do silêncio – como em um porta-retratos indesejado - capaz de presentificar uma emoção esquecida, um amor vivido ou mal resolvido, a última dança até o calo que se fez no pé, o gole de bebida que dissolvendo a garganta, refez o percurso da alma, o cheiro das tardes de domingo, do bolo no forno à espera de quem se gosta, do suspiro desinteressado ao contemplar uma paisagem, como em Proust, a busca pelo tempo perdido. Um vestido esquecido é como um livro que um dia foi prazer, e hoje agradece ao corpo que o criou: dançando, andando, se despindo, se rasgando, se odiando, ou apenas sentado, curioso e inquisitivo, observando o desfilar de personagens que compuseram a sua silenciosa história.” – Brunno Almeida Maia.

“O que a literatura e a moda possuem em comum no processo de criação e na investigação do pensamento?”. A partir desta inquietação, o filósofo e escritor Brunno Almeida Maia (UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo) e o chapeleiro Eduardo Laurino (FASM – Faculdades Santa Marcelina) ministram - a partir do dia 26 de março de 2015 (quinta-feira), das 19h às 22h - a oficina gratuita “A literatura e a moda: a estranha relação entre as palavras e as roupas”. Destinada a todos que desejam pensar e estudar a moda, para além das fronteiras disciplinares, a atividade, com dez encontros, acontece na Casa da Palavra Mário Quintana, em Santo André (SP). Com vagas limitadas, as inscrições devem ser feitas, pessoalmente, a partir do dia 10 de março de 2015.

Ministrada na cidade de São Paulo, em 2013 e 2014, nas Oficinas Culturais Oswald de Andrade, na Oficina Casa da Palavra Mário de Andrade, na Faculdade Paulista de Arte (FAP) e na Escola São Paulo, e na cidade de Campinas, em janeiro de 2015, na Oficina Cultural Hilda Hilst, a pesquisa é resultado das investigações de Almeida Maia sobre a história da moda, a partir do ponto de vista da literatura, da filosofia, da discussão de gêneros e da escrita de si como criação de liberdade. Com linguagem híbrida, transitando entre a diversidade de narrativas e literalidades nos campos da moda, da filosofia, da sociologia e da literatura, a oficina faz uso de plataformas visuais, imagéticas e sonoras, e traça uma possível relação entre o ato de tecer, bordar e costurar (tradição material) com o ato de narrar e contar histórias (tradição oral), como transformação e escrita de si do individuo durante o narrar e o tecer.

Para resgatar a relação entre o pontilhado da agulha no tecido e da tinta de caneta no papel, os ministrantes passarão por um “guarda roupas” de escritores, filósofos e pensadores, que se debruçaram sobre a questão, como Virginia Woolf, Honoré de Balzac, Gustave Flaubert, Marcel Proust, Oscar Wilde, Marina Colasanti, Machado de Assis, Platão, Ovídio, Clarice Lispector, Roland Barthes, Charles Perrault, Charles Dickens, Peter Stallybrass, Homero, Gilles Deleuze, entre outros.

“Ao longo das pesquisas sobre o tema, percebi o vínculo entre o tecer e o narrar na história das mulheres. Desde os mitos gregos, passando pelo início da filosofia com Platão, até as escritoras contemporâneas, como Clarice Lispector, contar uma  história, seja ela no corpo (roupa) ou na escritura, está ligado historicamente a uma questão de gênero”, discorre Almeida Maia. De uma família formada por mulheres costureiras, o escritor rememora parte de sua infância: “Ouvia a minha avó materna contando sobre o seu atelier em Minas Gerais. Que ali era ponto de encontro das conversas que corriam as cidades. Ao fazer um vestido, uma camisa, uma blusa, ela não apenas costurava identidades, mas perpetuava a tradição oral, por meio de ‘causos’ e a capacidade de contar e recontar uma nova trama”. 

Oficina aborda, também, o conceito de “Escrita de Si”.

Auge da experiência da vida nas obras de artes, o século XX foi marcado pela questão da identidade na criação de diversos artistas da literatura, do teatro, da moda e das artes plásticas. A partir das vivências, paixões e desentendimentos com o mundo, os artistas e pensadores do modernismo - de Charles Baudelaire a
Samuel Beckett - produziram uma galeria de obras corporificadas, em que sujeito e objeto, sem divisão, são colocados diante de uma lírica do choque.

Partindo do estudo da relação do conceito de escrita de si (técnicas de subjetivação na escrita), do filósofo francês Michel Foucault e das análises de Walter Benjamin sobre a modernidade, suas cidades, fantasmagorias, personagens e espaços outros de subjetividades, a oficina relaciona, ainda, diferentes constelações literárias, como o romance ficcional, o conto, a crônica, a poesia, a historiografia da Moda, textos filosóficos, sociológicos e tratados de história da arte no ocidente, para buscar o entendimento de como estes suportes ajudam na construção da escrita de si no ato da criação ou na vida, através de uma estética da existência.

“O conceito de identidade aparece com o de individuo no século XIX. Ele pode ser tanto agente de criação, portanto, projeto de liberdade, como identificação de sujeitos nas relações de poder. Se o século XX apresentou uma galeria de artistas que buscaram outras identidades, a pós-modernidade é a ideia de que as identidades não são estáveis, nômades e vacilantes às constantes mudanças e demandas do mundo. Faz sentido ainda, falar de identidade no atual processo histórico?”, questiona o filósofo Brunno Almeida Maia, idealizador e um dos ministrantes da oficina.

Ao longo da oficina, paralelo aos debates teóricos, os estudantes construirão um caderno de artista/ diário visual (petit cahier), a partir de suas memórias, lembranças, desejos e vivências, como suporte linguístico e imagético para futuras criações, sejam elas nas áreas de moda, literatura, teatro, cinema, dança ou, simplesmente, no ato da recriação da vida.

Conhecido pelas suas criações na arte da chapelaria, Eduardo Laurino conta que o objetivo da discussão é passar, também, por histórias de vidas, memórias das costureiras brasileiras e deslocar a ideia de que literatura é ofício de escritor e moda de estilista. “Penso que tudo começa, nesta reflexão, quando construímos durante a oficina um diário visual. Ali, naquele petit cahier, a moda e a literatura se confundem, seja pelo desenho de um objeto artístico ou pelos desenhos das palavras de um poema”, conclui Eduardo Laurino, que será responsável pelo Laboratório de Criação da atividade.

SERVIÇO:

“A LITERATURA E A MODA: A ESTRANHA RELAÇÃO ENTRE AS PALAVRAS E AS ROUPAS”.

Casa da Palavra Mário Quintana – Santo André/ SP.

Endereço: Praça do Carmo, 171 - Centro – Santo André, SP. Próximo à estação de trem Prefeito Celso Daniel (Linha 10 Turquesa da CPTM).

Telefone: (11) 4427-7701/ 4437-3526.
Funcionamento: de terça a sexta, das 9h às 22h; sábados das 8h às 17h.

Ministrantes:
Brunno Almeida Maia (UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo).
Eduardo Laurino (FASM - Faculdades Santa Marcelina).

26 de março a 30 de abril de 2015* (terças e quintas-feiras, das 19h às 22h).
*Não haverá aula no dia 21 de abril, feriado nacional de Tiradentes.

Seleção: Primeiros inscritos.

30 vagas.

Oficina Gratuita.

Público-Alvo: Estudante, profissionais de moda, artes plásticas, fotografia,
cinema, teatro, literatura, filosofia, sociologia, dança e performances e
interessados nas temáticas abordadas, a partir de 16 anos de idade.

Material Didático Solicitado aos Alunos: Materiais para anotações, como caderno, lápis, caneta, borracha, pasta com elástico.


INSCRIÇÃO:

Pessoalmente: De 10 a 25 de março de 2015, somente por e-mail| casadapalavra@santoandre.sp.gov.br. O interessado deve encaminhar no corpo do e-mail, as seguintes informações: Nome Completo, Data de Nascimento, Idade, Profissão, Endereço Completo, Telefones para Contato, E-mail e Como Ficou Sabendo da Atividade.


SOBRE OS MINISTRANTES:
BRUNNO ALMEIDA MAIA:
Nasceu na cidade de São Paulo, em 25 de janeiro de 1987. Filho da “geração pós-MTV” - como o definiu Alberto Guzik - transita pelas linguagens híbridas e pelas epistemologias nômades. Como estudante de Filosofia pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), dedicou-se à pesquisa sobre o autor francês Georges Bataille (1897-1962); ao estudo de gênero, sexualidade e diferenças no grupo INANNA da PUC-SP, e ministrou aulas sobre a relação entre a literatura e a moda, ao lado do estilista brasileiro Walter Rodrigues nas Oficinas Culturais Oswald de Andrade, e ao lado de Eduardo Laurino na Escola São Paulo, na Oficina Casa da Palavra Mário de Andrade, e na cidade de Campinas na Oficina Cultural Hilda Hilst. Em outubro de 2014 ministrou, na sede da Cia. De Teatro Humbalada a palestra “Como nasce o discurso da injúria?”, e em março deste ano o mini curso “É o corpo ob-sceno? Por uma Filosofia Inteiramente Outra”, no projeto “Periferia Trans”, contemplado pelo PROAC LGBT 2015. Autor de peças teatrais como “The Dark Room” (2002 e 2003), “Cale-se Para Sempre” (encenado em 2005), “O Anticristo” (2006), “Carmen” e “Inevitável” (2008) coordenou durante os anos de 2002 a 2007, o Espaço Cultural Alberto Levy (ECAL), em SP. Colaborou para veículos - colunista e produtor de moda - como o Portal BRRUN, Revistas Contigo, IstoÉ Gente, Lounge e Júnior, e o extinto Jornal da Tarde (JT). “O Teatro de Brunno Almeida Maia” (Editora Giostri, 2014), com duas peças teatrais inéditas: “Tristes Lembranças” e “IMUNO” é o seu primeiro livro publicado. Atualmente é articulista sobre cultura e filosofia na Revista Junior (Mix Brasil).

EDUARDO LAURINO:

Formado pela Faculdade Santa Marcelina em 2003, Eduardo Laurino é chapeleiro de sua marca homônima. A criação de acessórios cresceu concomitante ao seu desempenho como figurinista, em que obteve grande repercussão em espetáculos históricos como “A Galeria Metrópole”, última peça de Rubens de Falco, dirigida por Paulo Capovilla. O espetáculo “Espelho D`água” também foi assinado por Laurino, bem como toda a Mostra Contemporânea do SESI, que envolvia 6 espetáculos, 30 atores, dentre eles Élcio Nogueira, Débora Duboc e Renato Borghi, recebendo espectadores de todo o Estado de São Paulo. Como professor, segue uma trajetória de palestras e cursos em criação. Apresentou um conteúdo programático eficiente, e seu curso de laboratório criativo já foi ministrado no SENAC Faustolo, na Casa de Quem!, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, na Oficina da Palavra Casa Mário de Andrade e, mais recentemente, integrou o corpo docente do curso técnico em estilismo do SENAC Penha. Laurino já expôs os seus trabalhos no Solar da Marquesa de Santos, na FASM e na Exposição do Centenário da Imigração Japonesa, no ano de 2008.



SOBRE A CASA DA PALAVRA MÁRIO QUINTANA:

A Casa da Palavra Mário Quintana é um espaço da Prefeitura Municipal de Santo André dedicado a uma programação de cunho cultural. Foi criada em 1992, quando foi reformado um casarão original da década de 1920, e passou a ser usado como equipamento da Secretaria de Cultura. O seu trabalho de difusão e de formação cultural é voltado ao atendimento dos apreciadores e produtores da literatura, pesquisadores, pensadores, estudantes, artistas, poetas, etc.
Nossa proposta atual é torná-la cada vez mais um polo cultural da região, oferecendo um espaço onde a palavra pode ser articulada, onde as ideias podem fervilhar, e os escritores, artistas e pensadores possam se encontrar.
O espaço está voltado ao conhecimento, ao pensamento que se produz pela linguagem, a palavra escrita ou falada. Por isso, nossas atividades são direcionadas ao uso artístico ou científico que podemos fazer da palavra. Nela são realizados debates, encontros, cursos, palestras, oficinas e saraus. Sua programação está voltada ao conhecimento humanístico, à poesia, à literatura, à filosofia, etc.
Em nossa Casa existe um público das mais diversas idades, orientações e perfis. Temos poetas, contistas, filósofos, artistas, estudantes, músicos, jovens, escritores, leitores, adultos, idosos, etc.
Em geral, são pessoas de boa bagagem cultural, inclinados à reflexão, pessoas que querem ampliar seus conhecimentos, que acreditam que a cultura pode fazer diferença em nossa sociedade.

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