A obra do artista paranaense João Turin é o tema da exposição que o
fotógrafo Maringas Maciel apresenta na Fnac Curitiba desta terça-feira (6/1) até
28 de fevereiro. Batizada como “João Turin – Vida, Obra, Arte”, a mostra traz as
fotos que ilustram o livro sobre a vida e obra do escultor, escrito pelo crítico
de arte José Roberto Teixeira Leite, recém-lançado.
Turin destacou-se no cenário artístico nacional e internacional como grande
representante da escultura animalista. Tornou-se conhecido pelo seu traço muito
particular, ganhando destaque acima de tudo pelas onças, tigres, leões, tapires,
cobras, cães e outros animais, ferozes ou domésticos, que imortalizou no bronze.
Estes personagems eram representados ora em repouso, ora em acirrados combates,
sempre com agudo senso de observação, e assumindo evidentes conotações
simbólicas.
EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA - João Turin – Vida, Obra, Arte
FNAC CURITIBA – de 6 de janeiro a 28 de fevereiro de 2015
Entrada franca. A exposição pode ser visitada no mesmo horário do
ParkShopping Barigui: diariamente, das 11h às 23h.
Endereço: Park Shopping Barigui - Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza,
600 – www.agendafnac.com.br
Sobre o artista: Por José Roberto Teixeira Leite – autor do livro
“João Turin – Vida, Obra, Arte”
Nascido em Porto de Cima, um lugarejo de Morretes, no litoral do Estado,
filho de imigrantes italianos, João Turin descobriu a escultura menino ainda, de
modo singular: recobria pernas, tronco e braços com argila, deixava-a secar e
depois a removia, para brincar com os moldes do próprio corpo assim obtidos. Aos
nove anos mudou-se com os pais para Curitiba, onde seria sucessivamente
ferreiro, marceneiro e torneiro antes de descobrir a verdadeira vocação. Nos
primos anos do Séc. XX, depois de ter sido seminarista e de freqüentar a Escola
de Artes e Indústrias de Mariano de Lima, Turin era presença constante nas
passeatas de intelectuais e operários que, inspiradas na utopia
anarco-socialista de Giovanni Rossi na Colônia Cecília, de tempos em tempos
sacudiam as ruas da pacata capital; mas essa experiência de agitador social na
mocidade não teve desdobramentos futuros.
Em 1905, com bolsa de estudos do Governo do Paraná, João Turin parte para
Bruxelas e se matricula na Real Academia de Belas Artes, onde já se encontra o
amigo Zaco Paraná, passando a estudar com o mesmo professor deste, o famoso
Pierre-Charles Van der Stappen, vulto proeminente dos grupos de vanguarda belgas
Lês Vingt e Libre Esthétique. A opção de um e outro escultores por Bruxelas,
destino pouco usual para artistas brasileiros, não foi casual: deveu-se aos
engenheiros belgas que trabalhavam na ferrovia do Estado, como François Gheur e
Alphonse Solheid, os quais viram, nos dois adolescentes, o estofo de futuros
artistas. Depois de deixar a Real Academia, em 1909, Turin ainda permaneceu
cerca de dois anos em Bruxelas, além de visitar a Itália, Holanda, Espanha e
Portugal, até se transferir a Paris em fins de 1911. Na capital francesa, onde
viveu os próximos dez anos, expôs algumas vezes no Salom des Artistes Français,
tendo obtido, no ano de 1912, menção honrosa, com “Exílio”.
Mas eram tempos de guerra, e fora uma ou outra comissão – como a que se lhe
apresentou em 1917, para executar um relevo em pedra destinado a uma igreja de
Loireau, na Normandia – não havia clientes nem encomendas, muito menos para
artistas estrangeiros. Não é de estranhar assim que pouco se saiba dos duros
anos parisienses de Turin, durante os quais conheceu contudo Rodin, Modigliani,
Isadora Duncan, Claude Debussy (de quem fez a efígie em baixo-relevo) e outras
personalidades.
Em fins de 1922 o artista retorna ao Brasil e de novo se fixa em Curitiba.
Deixara em Montparnasse, no ateliê da Rue Vercingentorix cedido a Brecheret, boa
qualidade de obras, pois sua intenção, que nunca se concretizou, era voltar a
Paris o mais breve possível. Integrado em definitivo ao discreto ambiente
artístico-cultural da capital paranaense, João Turin doravante produzirá grande
número de monumentos, estátuas, bustos, relevos e inclusive pinturas, cerâmicas
e ilustrações, detacando-se entre os monumentos os dedicados a Gomes Carneiro
(1927, Lapa), Rui Barbosa (1936, Praça Santos Andrade) e à República (1938,
Praça Tiradentes), os dois últimos em Curitiba. Seria ainda um dos idealizadores
em 1923, junto aos pintores João Ghelfi e Lange de Morretes, do chamado estilo
paranista de ornamentação arquitetônica, baseado na estilização do pinheiro e de
outros elementos da fauna e da flora paranaenses e concretizado em capitéis,
ânforas, floreiras e outros objetos utilitários.
O que de melhor produziu não são os monumentos, bustos e retratos,
convencionais por sua própria natureza, mas as numerosas representações de
animais, boa parte delas conservada na Casa João Turin em Curitiba, nas quais, a
despeito da fidelidade anatômica e das proporções corretas (o que nem sempre se
observa quando trata a figura humana), não é tanto o animal em si que importa,
mas sim o que simboliza, tanto que para representar o Marumbi, maciço da Serra
do Mar localizado próximo à cidade natal, não encontrou forma melhor que a de
dois tigres em furioso embate, magníficos de força, agilidade e beleza.
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