segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Nós matámos o Cão-Tinhoso

Nós matámos o Cão-Tinhoso 




No ano do seu cinquentenário, Nós matámos o Cão-Tinhoso, obra primeira do moçambicano Luis Bernardo Honwana é um dos títulos que integra a mais recente coleção Bolso Cotovia.

Publicado em inglês no auge da guerra colonial (1969), e obtendo reconhecimento internacional desde então, Nós matámos o Cão-Tinhoso (constituído por mais seis contos, além do que dá nome à obra), não deixa dúvidas em relação à sua importância no panorama cultural e intemporalidade da mensagem. Missivas tão belas à humanidade como a que está contida neste excerto-envelope do conto As mãos dos pretos:
«“Deus fez os pretos porque tinha de os haver. Tinha de os haver, meu filho, Ele pensou que realmente tinha de os haver... Depois arrependeu-se de os ter feito porque os outros homens se riam deles e levavam-nos para as casas deles para os pôr a servir como escravos ou pouco mais. Mas como Ele já os não pudesse fazer ficar todos brancos porque os que já se tinham habituado a vê-los pretos reclamariam, fez com que as palmas das mãos deles ficassem exactamente como as palmas das mãos dos outros homens. E sabes porque é que foi? Claro que não sabes e não admira porque muitos e muitos não sabem. Pois olha: foi para mostrar que o que os homens fazem é apenas obra de homens... Que o que os homens fazem é feito por mãos iguais, mãos de pessoas que se tiverem juízo sabem que antes de serem qualquer outra coisa são homens. Deve ter sido a pensar assim que Ele fez com que as mãos dos pretos fossem iguais às mãos dos homens que dão graças a Deus por não serem pretos”.
     Depois de dizer isso tudo, a minha mãe beijou-me as mãos.

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