Nós matámos o Cão-Tinhoso
No ano do seu
cinquentenário, Nós matámos o Cão-Tinhoso,
obra primeira do moçambicano Luis Bernardo Honwana é um dos títulos que integra
a mais recente coleção Bolso Cotovia.
Publicado em inglês no auge da
guerra colonial (1969), e obtendo reconhecimento internacional desde então, Nós matámos o Cão-Tinhoso (constituído
por mais seis contos, além do que dá nome à obra), não deixa dúvidas em relação
à sua importância no panorama cultural e intemporalidade da mensagem. Missivas
tão belas à humanidade como a que está contida neste excerto-envelope do conto As mãos dos pretos:
«“Deus fez os pretos porque tinha de os haver.
Tinha de os haver, meu filho, Ele pensou que realmente tinha de os haver...
Depois arrependeu-se de os ter feito porque os outros homens se riam deles e
levavam-nos para as casas deles para os pôr a servir como escravos ou pouco
mais. Mas como Ele já os não pudesse fazer ficar todos brancos porque os que já
se tinham habituado a vê-los pretos reclamariam, fez com que as palmas das mãos
deles ficassem exactamente como as palmas das mãos dos outros homens. E sabes
porque é que foi? Claro que não sabes e não admira porque muitos e muitos não
sabem. Pois olha: foi para mostrar que o que os homens fazem é apenas obra de
homens... Que o que os homens fazem é feito por mãos iguais, mãos de pessoas
que se tiverem juízo sabem que antes de serem qualquer outra coisa são homens.
Deve ter sido a pensar assim que Ele fez com que as mãos dos pretos fossem
iguais às mãos dos homens que dão graças a Deus por não serem pretos”.
Depois de dizer
isso tudo, a minha mãe beijou-me as mãos.
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