O caso Thomas Quick
de Hannes Råstam
Título Original: Fallet Thomas QuickTradutor: Jaime Bernardes
Gênero: Reportagem
Páginas: 462
Formato: 16 x 23 cm
UM HOMEM CONDENADO POR OITO ASSASSINATOS QUE ELE NUNCA COMETEU.
Intrigado após entrevistar “o pior assassino em série” da Suécia, Råstam pesquisou com afinco o caso Thomas Quick. Leu cada uma das páginas de todas as investigações, analisou todos os interrogatórios e todas as histórias contadas por Sture Bergwall, o verdadeiro nome de Quick. Encontrou ambiguidades, furos, depoimentos estranhos e vereditos questionáveis e acabou descobrindo que o pior e mais inimaginável assassino em série de todos os tempos era, na verdade, uma fraude.
Neste livro, o autor descreve detalhadamente como Thomas Quick foi transformado em assassino em série e como os juízes puderam condená-lo por oito assassinatos que, na realidade, ele não cometeu. O caso Thomas Quick, lamentavelmente, não é ficção. É a história verdadeira de um estranho destino humano e de uma tragédia jurídica quase inacreditável.
ENTENDA O CASO
Nos anos 1990 ele confessou mais de 30 assassinatos, com direito a mutilações, estupros e canibalismo. As vítimas incluíam homens, mulheres e crianças, com perfis variados. Os crimes haviam sido cometidos em vários locais diferentes da Suécia e da Noruega.
Mas após ser condenado por oito dos crimes, Quick assumiu sua identidade verdadeira, Stüre Bergwall, e passou a negá-los.
Uma investigação realizada por um jornalista local questionando as condenações sem provas levou a novos julgamentos, com a absolvição por cinco deles.
Ele ainda espera a revisão das últimas três condenações, e poderá se ver livre após 21 anos confinado em uma clínica psiquiátrica forense de Säter, a 170 quilômetros de Estocolmo.
O caso vem ganhando as manchetes dos jornais suecos nos últimos meses. De "Hanibal Lecter sueco", como foi apelidado na época de suas confissões, Quick/Bergwall passou a ser descrito como "o serial killer que nunca o foi".
"Ele certamente será inocentado de todos os oito assassinatos (pelos quais foi condenado inicialmente)", disse à BBC Brasil, com convicção, o advogado Thomas Olsson, que assumiu a defesa de Bergwall após a retratação das confissões.
Para advogado, funcionários do hospital psiquiátrico de Säter induziram as confissões de Bergwall
Segundo Olsson, ao ser levado à clínica psiquiátrica de Säter, em 1991, Bergwall "estava passando por uma crise existencial e tinha pensamentos suicidas".
"Na clínica, ele foi objeto de técnicas psiquiátricas extremamente experimentais baseadas principalmente na terapia de recuperação de memória por sugestão e também teve acesso a narcóticos controlados, principalmente benzodiazepínicos (tranquilizantes)", relata o advogado.
Segundo ele, "sob essas circunstâncias Bergwall foi levado a confissões com o objetivo de satisfazer o pessoal da clínica". "O resto foi como um moto-perpétuo", diz.
Bergwall confessou seu primeiro "assassinato" em 1992. A suposta vítima era Johan Asplund, um menino de 11 anos que havia desaparecido em novembro de 1980 no caminho para a escola. O caso de Asplund era um dos mais famosos mistérios criminais da Suécia.
Ele disse ter estuprado o garoto e o asfixiado acidentalmente, antes de desmembrar o corpo e escondê-lo para que ninguém o encontrasse. De fato, o corpo nunca foi encontrado, mesmo com as descrições dos locais feitas por Bergwall, mas ele foi condenado pelo crime em 2001.
Segundo seus defensores, tudo o que Bergwall buscava era atenção. Com a confissão do assassinato de Asplund e os holofotes da mídia local sobre si, ele passou a confessar seguidos assassinatos, com detalhes.
"O caso vem ganhando uma enorme repercussão na Suécia", comenta à BBC Brasil o repórter policial Eric Tagesson, que vem cobrindo o caso para o jornal Aftonbladet, o mais lido da Suécia.
"A história esteve em evidência por quase 20 anos, e sempre houve especulações sobre se ele era um mentiroso ou um serial killer", afirma.
Segundo o jornalista, "o problema é que ele foi condenado somente com base em suas confissões. Em nenhum dos casos havia qualquer prova técnica real", diz. "Agora, com as revisões dos processos, parece óbvio que o promotor Christer vad der Kwast e a polícia tinham o mesmo objetivo – conseguir condenações, custasse o que custasse."
O atual advogado de Bergwall também critica o papel do defensor público do réu à época das condenações, Claes Borgström, que ficou famoso posteriormente como o advogado das duas mulheres que acusam o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, de estupro na Suécia.
"A razão pela qual ele foi condenado foi, pura e simplesmente, que o promotor omitiu informações que mostravam que ele não poderia ter cometido os assassinatos, que policiais e especialistas fizeram falsos testemunhos e que o advogado de defesa, Claes Borgström, tinha uma causa comum com o promotor. Em suma: a corte foi enganada", diz Olsson.
A BBC Brasil tentou entrar em contato com Borgström para que ele comentasse o caso, mas não obteve resposta. Em declarações recentes à Sveriges Radio, a rádio pública sueca, o defensor público disse ter sido vítima de calúnia e negou ter sido negligente no caso.
"Se você defende uma pessoa que confessa o crime, deve seguir essa linha, a não ser que se torne óbvio que essa confissão é incorreta. Eu fui cauteloso durante o julgamento em levantar algumas questões importantes para eliminar o risco de que algo não estava correto", disse.
"Quando Bergwall começou a retirar suas confissões, o quadro mudou. Mas isso não significa que eu tenha sido cúmplice da condenação de um inocente", afirmou.
O AUTOR
Hannes Råstam trabalhou, entre 1993 e 2011, como jornalista investigativo da STV, o canal público de televisão da Suécia, onde realizou muitos documentários sobre casos jurídicos, incluindo o de Thomas Quick. Ele recebeu vários prêmios pela sua atividade jornalística, entre eles o Grande Prêmio de Jornalismo, todos os anos, entre 1998 e 2005. Internacionalmente, recebeu o Prix Itália (2001), o Guldnymfen de Monte Carlo (2006) e o FIPA d’Or, da França (2006).
um lançamento
Nenhum comentário:
Postar um comentário