segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O caso Thomas Quick de Hannes Råstam

O caso Thomas Quick

de Hannes Råstam

Título Original:     Fallet Thomas Quick
Tradutor:     Jaime Bernardes

Gênero:     Reportagem
Páginas:     462
Formato:     16 x 23 cm

 

UM HOMEM CONDENADO POR OITO ASSASSINATOS QUE ELE NUNCA COMETEU.
Intrigado após entrevistar “o pior assassino em série” da Suécia, Råstam pesquisou com afinco o caso Thomas Quick. Leu cada uma das páginas de todas as investigações, analisou todos os interrogatórios e todas as histórias contadas por Sture Bergwall, o verdadeiro nome de Quick. Encontrou ambiguidades, furos, depoimentos estranhos e vereditos questionáveis e acabou descobrindo que o pior e mais inimaginável assassino em série de todos os tempos era, na verdade, uma fraude.
Neste livro, o autor descreve detalhadamente como Thomas Quick foi transformado em assassino em série e como os juízes puderam condená-lo por oito assassinatos que, na realidade, ele não cometeu. O caso Thomas Quick, lamentavelmente, não é ficção. É a história verdadeira de um estranho destino humano e de uma tragédia jurídica quase inacreditável.

ENTENDA O CASO

Nos anos 1990 ele confessou mais de 30 assassinatos, com direito a mutilações, estupros e canibalismo. As vítimas incluíam homens, mulheres e crianças, com perfis variados. Os crimes haviam sido cometidos em vários locais diferentes da Suécia e da Noruega.




Mas após ser condenado por oito dos crimes, Quick assumiu sua identidade verdadeira, Stüre Bergwall, e passou a negá-los.

Uma investigação realizada por um jornalista local questionando as condenações sem provas levou a novos julgamentos, com a absolvição por cinco deles.
Ele ainda espera a revisão das últimas três condenações, e poderá se ver livre após 21 anos confinado em uma clínica psiquiátrica forense de Säter, a 170 quilômetros de Estocolmo.
O caso vem ganhando as manchetes dos jornais suecos nos últimos meses. De "Hanibal Lecter sueco", como foi apelidado na época de suas confissões, Quick/Bergwall passou a ser descrito como "o serial killer que nunca o foi".
"Ele certamente será inocentado de todos os oito assassinatos (pelos quais foi condenado inicialmente)", disse à BBC Brasil, com convicção, o advogado Thomas Olsson, que assumiu a defesa de Bergwall após a retratação das confissões.


Para advogado, funcionários do hospital psiquiátrico de Säter induziram as confissões de Bergwall
Bergwall foi preso pela primeira vez em 1990, após roubar um banco fantasiado de Papai Noel, supostamente para conseguir dinheiro para comprar drogas. Ele já havia sido anteriormente acusado de molestar meninos e de tentar esfaquear um amante.
Segundo Olsson, ao ser levado à clínica psiquiátrica de Säter, em 1991, Bergwall "estava passando por uma crise existencial e tinha pensamentos suicidas".
"Na clínica, ele foi objeto de técnicas psiquiátricas extremamente experimentais baseadas principalmente na terapia de recuperação de memória por sugestão e também teve acesso a narcóticos controlados, principalmente benzodiazepínicos (tranquilizantes)", relata o advogado.
Segundo ele, "sob essas circunstâncias Bergwall foi levado a confissões com o objetivo de satisfazer o pessoal da clínica". "O resto foi como um moto-perpétuo", diz.
Bergwall confessou seu primeiro "assassinato" em 1992. A suposta vítima era Johan Asplund, um menino de 11 anos que havia desaparecido em novembro de 1980 no caminho para a escola. O caso de Asplund era um dos mais famosos mistérios criminais da Suécia.
Ele disse ter estuprado o garoto e o asfixiado acidentalmente, antes de desmembrar o corpo e escondê-lo para que ninguém o encontrasse. De fato, o corpo nunca foi encontrado, mesmo com as descrições dos locais feitas por Bergwall, mas ele foi condenado pelo crime em 2001.
Segundo seus defensores, tudo o que Bergwall buscava era atenção. Com a confissão do assassinato de Asplund e os holofotes da mídia local sobre si, ele passou a confessar seguidos assassinatos, com detalhes.

"O caso vem ganhando uma enorme repercussão na Suécia", comenta à BBC Brasil o repórter policial Eric Tagesson, que vem cobrindo o caso para o jornal Aftonbladet, o mais lido da Suécia.
"A história esteve em evidência por quase 20 anos, e sempre houve especulações sobre se ele era um mentiroso ou um serial killer", afirma.
Segundo o jornalista, "o problema é que ele foi condenado somente com base em suas confissões. Em nenhum dos casos havia qualquer prova técnica real", diz. "Agora, com as revisões dos processos, parece óbvio que o promotor Christer vad der Kwast e a polícia tinham o mesmo objetivo – conseguir condenações, custasse o que custasse."
O atual advogado de Bergwall também critica o papel do defensor público do réu à época das condenações, Claes Borgström, que ficou famoso posteriormente como o advogado das duas mulheres que acusam o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, de estupro na Suécia.
"A razão pela qual ele foi condenado foi, pura e simplesmente, que o promotor omitiu informações que mostravam que ele não poderia ter cometido os assassinatos, que policiais e especialistas fizeram falsos testemunhos e que o advogado de defesa, Claes Borgström, tinha uma causa comum com o promotor. Em suma: a corte foi enganada", diz Olsson.
A BBC Brasil tentou entrar em contato com Borgström para que ele comentasse o caso, mas não obteve resposta. Em declarações recentes à Sveriges Radio, a rádio pública sueca, o defensor público disse ter sido vítima de calúnia e negou ter sido negligente no caso.
"Se você defende uma pessoa que confessa o crime, deve seguir essa linha, a não ser que se torne óbvio que essa confissão é incorreta. Eu fui cauteloso durante o julgamento em levantar algumas questões importantes para eliminar o risco de que algo não estava correto", disse.
"Quando Bergwall começou a retirar suas confissões, o quadro mudou. Mas isso não significa que eu tenha sido cúmplice da condenação de um inocente", afirmou.


O AUTOR
Hannes Råstam trabalhou, entre 1993 e 2011, como jornalista investigativo da STV, o canal público de televisão da Suécia, onde realizou muitos documentários sobre casos jurídicos, incluindo o de Thomas Quick. Ele recebeu vários prêmios pela sua atividade jornalística, entre eles o Grande Prêmio de Jornalismo, todos os anos, entre 1998 e 2005. Internacionalmente, recebeu o Prix Itália (2001), o Guldnymfen de Monte Carlo (2006) e o FIPA d’Or, da França (2006).

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