sexta-feira, 29 de agosto de 2014

GUIGNARD – Sonhos e Sussurros


GUIGNARD – Sonhos e Sussurros

Solo de tempo contido na precisão do espaço

E trama e tece teia de poesia linha e luz

Sobre Ouro Preto que amanhece agora.

Amílcar de Castro

 


Balões, 1947 (óleo sobre madeira, 50 x 40,5cm)



O ano de 1944 mudou a vida de Guignard. Convidado por Juscelino Kubitscheck,

então prefeito de Belo Horizonte, para criar um curso de arte moderna na

cidade, ele foi para Minas Gerais - e de lá nunca mais saiu. A sinergia que se

estabeleceu entre o artista e a paisagem resultou na criação de uma visualidade

tão particular, que desde então, podemos dizer que a paisagem mineira e a

paisagem de Guignard são uma coisa só.

Setenta anos depois a Galeria Almeida e Dale inaugura, no dia 23 de Setembro, a

exposição GUIGNARD–Sonhos e Sussurros, com curadoria de Denise Mattar. A mostra

apresentará cerca de 40 obras de Alberto da Veiga Guignard,  um dos maiores

artistas que o Brasil já produziu e um professor que influenciou gerações de

artistas. Na seleção das obras a curadora priorizou a apresentação de trabalhos

emblemáticos do artista, refazendo o percurso que vai dos retratos vigorosos da

década de 1930 às encantadas paisagens dos anos 1960.

Guignard nasceu em Nova Friburgo, RJ em 1896, mas residiu na Suíça, França e

Alemanha, de 1907 a 1929. Estudou na Academia de Munique e participou da Bienal

de Veneza e do Salon d’Automne, em Paris. Voltou ao país em 1930, após a morte

de seus familiares, fixando residência no Rio de Janeiro. Quase como um

estrangeiro, Guignard encantou-se com o brilho da luz tropical e com a

exuberância da nossa vegetação, pintando árvores, paisagens e flores. Durante

um período residiu em Itatiaia, onde reencontrou a atmosfera rarefeita das

montanhas. Além da paisagem, os retratos foram um tema privilegiado pelo

artista, e Guignard pintou mulheres, homens, crianças, ricos e pobres, sempre

transcendendo a mera figuração. Os vasos de flores foram outra constante; neles

Guignard ia da exuberância das orquídeas e antúrios à delicadeza de miosótis e

violetas, entremeadas pela beleza de flores idealizadas. Nas festas de São

João, suas lembranças de infância, flutuavam balões povoando os céus com cores.

A ida a Minas determinou uma nova visualidade na obra do artista e, num

processo de depuração, Guignard tornou-se cada vez mais etéreo. Entre brumas e

névoas, criou paisagens reais e imaginárias nas quais o ser humano e suas

criações eram representados em escala mínima, desaparecendo na grandiosidade

das montanhas. Esse percurso será apresentado na exposição que, destaca a

poética do artista, mostrando que, entre nuances e mudanças, o Guignard de 1960

já está contido nos anos 1930. O artista faleceu em Ouro Preto em 1962.

“Em Guignard a figuração é um suporte para a pura emoção estética, toda a obra

do artista é uma experiência espiritual. Seus universos são etéreos, instáveis

e luminosos. Nas paisagens de sonho nada se revela, tudo é sussurro, e, apesar

de marcada por profunda melancolia, a obra de Guignard é doce.” diz a curadora

Denise Mattar.

O artista foi também um exemplo de superação. Nasceu com lábio leporino e

falava com dificuldade, mas apesar disso foi um importante professor. Deu aulas

na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, na mesma cidade, criou um grupo

que ficou conhecido como “A Nova Flor de Abacate”. Em Belo Horizonte, ensinou

na Escola de Belas Artes que, após a sua morte, recebeu o nome de Escola

Guignard. Foram seus alunos: Iberê Camargo, Amílcar de Castro, Mary Vieira,

Farnese Andrade, Alvaro Apocalipse, Yara Tupinambá, entre centenas de outros. 

Os depoimentos de seus alunos são sempre emocionados, ressaltando que, mais do

que técnica, Guignard ensinava a olhar.

Pela essência poética de sua obra, Guignard despertou a atenção de Cecília

Meireles e Carlos Drummond de Andrade, que escreveram poemas para ele; de

artistas como Portinari, Amílcar de Castro, Carlos Zílio, e de críticos como

Frederico Morais,  Olívio Tavares de Araújo, Roberto Pontual, Walter Zanini,

Lélia Coelho Frota, Sonia Salztein e Rodrigo Naves, entre outros.

A exposição GUIGNARD – Sonhos e Sussurros ficará em cartaz até 29 de Novembro,

com visitação de segunda a sexta das 10 às 18h, sábados das 10 às 14h.


As rochas, de espuma

As conchas, de luar

O sonho pousado,

em ramagens de ar (...)

Levai-me a esse reino

Do Rei Guignard     

        Cecília Meireles, 1947

(...)

cantando em passarinhos e folhagens

em cores mais sutis que própria cor,

de vez, Guignard, que pintas o teu sonho

e na raiz do sonho, vela o amor

 Carlos Drummond de Andrade, 1962



GUIGNARD  – Sonhos e Sussurros, na galeria Almeida e Dale



Visitação: De 24 de setembro a 29 de novembro
De segunda a sexta das 10h às 18h, sábado das 10h às 14h

Rua Caconde 152, 01425-010, São Paulo SP
Telefone: (11) 3882-7120/ 3051-2311





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