GUIGNARD – Sonhos e Sussurros
Solo de tempo contido na precisão do espaço
E trama e tece teia de poesia linha e luz
Sobre Ouro Preto que amanhece agora.
Amílcar de Castro
Balões, 1947 (óleo sobre madeira, 50 x 40,5cm)
O ano de 1944 mudou a vida de Guignard. Convidado por Juscelino Kubitscheck,
então prefeito de Belo Horizonte, para criar um curso de arte moderna na
cidade, ele foi para Minas Gerais - e de lá nunca mais saiu. A sinergia que se
estabeleceu entre o artista e a paisagem resultou na criação de uma visualidade
tão particular, que desde então, podemos dizer que a paisagem mineira e a
paisagem de Guignard são uma coisa só.
Setenta anos depois a Galeria Almeida e Dale inaugura, no dia 23 de Setembro, a
exposição GUIGNARD–Sonhos e Sussurros, com curadoria de Denise Mattar. A mostra
apresentará cerca de 40 obras de Alberto da Veiga Guignard, um dos maiores
artistas que o Brasil já produziu e um professor que influenciou gerações de
artistas. Na seleção das obras a curadora priorizou a apresentação de trabalhos
emblemáticos do artista, refazendo o percurso que vai dos retratos vigorosos da
década de 1930 às encantadas paisagens dos anos 1960.
Guignard nasceu em Nova Friburgo, RJ em 1896, mas residiu na Suíça, França e
Alemanha, de 1907 a 1929. Estudou na Academia de Munique e participou da Bienal
de Veneza e do Salon d’Automne, em Paris. Voltou ao país em 1930, após a morte
de seus familiares, fixando residência no Rio de Janeiro. Quase como um
estrangeiro, Guignard encantou-se com o brilho da luz tropical e com a
exuberância da nossa vegetação, pintando árvores, paisagens e flores. Durante
um período residiu em Itatiaia, onde reencontrou a atmosfera rarefeita das
montanhas. Além da paisagem, os retratos foram um tema privilegiado pelo
artista, e Guignard pintou mulheres, homens, crianças, ricos e pobres, sempre
transcendendo a mera figuração. Os vasos de flores foram outra constante; neles
Guignard ia da exuberância das orquídeas e antúrios à delicadeza de miosótis e
violetas, entremeadas pela beleza de flores idealizadas. Nas festas de São
João, suas lembranças de infância, flutuavam balões povoando os céus com cores.
A ida a Minas determinou uma nova visualidade na obra do artista e, num
processo de depuração, Guignard tornou-se cada vez mais etéreo. Entre brumas e
névoas, criou paisagens reais e imaginárias nas quais o ser humano e suas
criações eram representados em escala mínima, desaparecendo na grandiosidade
das montanhas. Esse percurso será apresentado na exposição que, destaca a
poética do artista, mostrando que, entre nuances e mudanças, o Guignard de 1960
já está contido nos anos 1930. O artista faleceu em Ouro Preto em 1962.
“Em Guignard a figuração é um suporte para a pura emoção estética, toda a obra
do artista é uma experiência espiritual. Seus universos são etéreos, instáveis
e luminosos. Nas paisagens de sonho nada se revela, tudo é sussurro, e, apesar
de marcada por profunda melancolia, a obra de Guignard é doce.” diz a curadora
Denise Mattar.
O artista foi também um exemplo de superação. Nasceu com lábio leporino e
falava com dificuldade, mas apesar disso foi um importante professor. Deu aulas
na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e, na mesma cidade, criou um grupo
que ficou conhecido como “A Nova Flor de Abacate”. Em Belo Horizonte, ensinou
na Escola de Belas Artes que, após a sua morte, recebeu o nome de Escola
Guignard. Foram seus alunos: Iberê Camargo, Amílcar de Castro, Mary Vieira,
Farnese Andrade, Alvaro Apocalipse, Yara Tupinambá, entre centenas de outros.
Os depoimentos de seus alunos são sempre emocionados, ressaltando que, mais do
que técnica, Guignard ensinava a olhar.
Pela essência poética de sua obra, Guignard despertou a atenção de Cecília
Meireles e Carlos Drummond de Andrade, que escreveram poemas para ele; de
artistas como Portinari, Amílcar de Castro, Carlos Zílio, e de críticos como
Frederico Morais, Olívio Tavares de Araújo, Roberto Pontual, Walter Zanini,
Lélia Coelho Frota, Sonia Salztein e Rodrigo Naves, entre outros.
A exposição GUIGNARD – Sonhos e Sussurros ficará em cartaz até 29 de Novembro,
com visitação de segunda a sexta das 10 às 18h, sábados das 10 às 14h.
As rochas, de espuma
As conchas, de luar
O sonho pousado,
em ramagens de ar (...)
Levai-me a esse reino
Do Rei Guignard
Cecília Meireles, 1947
(...)
cantando em passarinhos e folhagens
em cores mais sutis que própria cor,
de vez, Guignard, que pintas o teu sonho
e na raiz do sonho, vela o amor
Carlos Drummond de Andrade, 1962
GUIGNARD – Sonhos e Sussurros, na galeria Almeida e Dale
Visitação: De 24 de setembro a 29 de novembro
De segunda a sexta das 10h às 18h, sábado das 10h às 14h
Rua Caconde 152, 01425-010, São Paulo SP
Telefone: (11) 3882-7120/ 3051-2311
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