O que que é isto,
Napoleão?
Napoleão, o que que é isto? Eu te conheço desde pequeno, a ti, menino
nascido quase que dentro das águas da grande enchente de 1983, mais blumenauense
impossível, chegado a este mundo sob o signo da Justiça e filho da classe
trabalhadora – pois, nas minhas contas, profissionais liberais também são
trabalhadores, e bem sei o quanto o teu pai batalhou na sua banca de advogado,
defendendo aos mais necessitados, aos mais carentes, aos mais injustiçados – o
que é que deu em ti, Napoleão?
Um filho do Dr. Acácio Bernardes só tinha que ser alguém do bem – como me
lembro do Dr. Acácio, que além da defesa dos que mais precisavam dele, dava seu
tempo por ideais políticos de primeira grandeza – acompanhei sua caminhada
dentro da senda de Leonel Brizola, sendo até candidato a governador deste Estado
de Santa Catarina numa luta progressista contínua – tua mãe, ainda lá nos tempos
da ditadura, tinha aquela fibra que têm as heroínas e ia junto com teu pai
recepcionar Brizola quando esse chegava ao Estado, em época em que a esmagadora
maioria dos brasileiros vivos teria medo de se expor assim. Ninguém me contou
tal coisa; ela própria mo relatou faz muito tempo, lá dentro da Caixa Econômica,
onde eu trabalhava, lembro até perto de qual arquivo de aço
conversávamos.
Não vou nem entrar no mérito do teu tio, tradicional comunista, alguém de
tal respeitabilidade que teve a coragem de se manifestar, faz poucos dias,
contra as tuas atitudes.
Eu hoje sou o que se chama uma blumenauense antiga, e é deste patamar que
me dirijo a ti. Vi-te crescer, inteligente e culto como se esperava que fosse
alguém da tua família; alegrei-me sobremodo quando te vi, aos 17 anos, estreando
na política, candidato a vereador, acompanhei tua vida, tua carreira, soube-te
professor da FURB ainda tão jovem, tudo foi tão rápido na tua vida! Trinta anos
e já prefeito, e tinha a certeza de que levarias adiante o legado inesquecível
do Dr. Acácio Bernardes - e agora me diz, Napoleão, o que que é isto? Que estás
a fazer com o funcionalismo e com os professores da nossa cidade? Teu pai foi
professor, tu também o foste, e imagino que da vida já sabes muito – por que os
teus ouvidos moucos com os que precisam falar e precisam ouvir? O que aconteceu
contigo? Não és o Napoleão que eu pensava e imaginava?
Que acontece contigo, Napoleão? Sei que és apoiado por poderosa irmandade
– nas minhas contas, irmandades servem para o auto apoio, a ajuda recíproca, o
aprimoramento de caráter – como uma poderosa irmandade pode permitir que um dos
seus expoentes esmague sob os pés coisas como caráter, integridade e ética? Onde
está o Napoleão que eu imaginava que tu eras, o Napoleão que o Dr. Acácio e a
Dona Célia criaram para o bem, para a Justiça, para a
fraternidade?
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