quarta-feira, 19 de março de 2014

Galeria Marília Razuk apresenta individuais de Maria Laet e Débora Bolsoni, como parte da programação paralela da SP-Arte



          

Sem título (Pele), 2013, de Maria Laet e Estante sobre pilotis, 2013, de Débora Bolsoni

Situação de Água, de Maria Laet


Nesta sua primeira individual na Galeria Marilia Razuk, a artista carioca Maria Laet apresenta um conjunto de aproximadamente 12 obras, entre fotografia, monotipia, gravura, desenho e vídeo.
Nesta mostra a artista lida com questões da memória - através de traços, marcas essenciais, como o sopro, as digitais da mão, o gesto humano, e a persistência ou o desaparecimento dessa memória. Também trata da noção de limite, tendo este como um espaço de continuidade, indefinição, troca, encontro e desencontro.
O título “Situação de água” aponta de maneira poética para duas direções; tendo a água como elemento que deixa sua marca na memória das coisas, de maneira silenciosa, lenta e persistente, e ao mesmo tempo algo sem limite nele mesmo, procura o movimento, e encontra diálogo no embate com o mundo. 
Em suas ações, a artista está sempre em busca desta linha tênue e invisível que separa coisas, pessoas. Linha que pode ser ultrapassada e tocada, promovendo o toque, a troca. Mas aqui nada se conclui. Como a água que não deixa ver seus limites, que transborda, há aqui esta ausência de borda, de fim. 
Habitar este lugar delicado e nos aproximar dele, recordar sua existência, eis o que se dá nas obras aqui reunidas de Maria Laet.

Sobre a artista
Maria Laet nasceu no Rio de Janeiro, concluiu mestrado na Camberwell College of Art, em Londres (2008). Fez residência artística na Schloß Balmoral, Alemanha (2009), e no Carpe Diem Arte e Pesquisa em Lisboa (2010). Participou de exposições como ‘From the margin to the edge’, Somerset House, Londres (2012); 18th Biennale of Sydney: ‘all our relations’, Art Gallery NSW e MCA, Sydney (2012); ‘Convite à Viagem’, Rumos Itaú Cultural, São Paulo, Belém, Recife, Rio de Janeiro (2012); ‘O lugar da linha’, Museu de Arte Contemporânea, Niterói e Paço das Artes, São Paulo (2010). Tem trabalhos em coleções como Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro; MAC, Niteroi; FRAC Lorraine, França; Museum of Fine Arts, Ghent, Belgium.


Dentro Fora, de Débora Bolsoni

Dentro Fora 
reúne um conjunto de esculturas, desenhos e um objeto fotográfico produzidos entre 2013 e 2014 pela artista Débora Bolsoni (Rio de Janeiro, 1975).
O título da exposição, Dentro Fora, refere-se a ideia de um espaço não fechado, uma zona intercambiante de projeção de uma “interioridade explodida” que se transforma em espacialidade.
Para a artista, a dicotomia entre interioridade e mundo exterior está tão focada nas operações de apropriação dos objetos/cenas encontrados no mundo (“mundo ready made”) como sempre foi. Não é uma questão meramente contemporânea.
Também por isso a questão presente no título, ao contrário do que comumente possa parecer, já não é mais a das relações entre o dentro e o fora do território da arte e tampouco alude à ideia de um olhar de “alguém que está fora” desse território ou circuito.
Para a ocupação projetada para a Galeria Marília Razuk, Débora Bolsoni instalou diversos objetos que variam continuamente em sua escala e materialidade.
Realizadas em ferro, areia de fundição, alumínio, azulejos, madeira, nylon, borracha, isopor e tecidos, as esculturas e objetos de parede formam um conjunto diversificado de soluções construtivas e ocupações espaciais característicos da produção da artista. São objetos que revelam encontros inusitados entre diversos materiais, que entram em acordos provisórios em prol de uma leve geometria.
O primeiro trabalho que encontramos na entrada da exposição foi colocado num dos degraus da escada de acesso à galeria. Trata-se de uma “mini fachada” – apoiada sobre uma pequena mesa, que a artista associa ao seu repertório da chamada “arquitetura vernacular” – formas de construção que vão se instituindo e se disseminando como modelos construtivos ao longo do tempo na cultura e paisagem urbanas.
Este trabalho oferece uma passagem para o primeiro conjunto de esculturas e objetos de parede que se localiza na sala que a artista chama de “sala das maquetes” – são peças que, numa escala imaginária, referem-se a objetos de outras dimensões ( um edifício, as fundações de um imóvel e um monumento).
Na sala principal, um objeto em forma de uma poltrona, construído com blocos de feltro recheados de areia, está voltado para uma parede com a série de desenhos  “Sinédoques do Tindiba.” Sobre a poltrona encontra-se uma desempenadeira de parede feita de madeira que sugere uma latência performativa – como se ela contivesse em si o potencial de um gesto realizado a partir da empunhadura deste objeto.
A série de desenhos “Sinédoques do Tindiba” reúne vários blocos de desenhos apresentados no formato de uma estante de leitura. São anotações, reflexões, desenhos de uma escultora sobre o universo dos objetos com os quais ela se relaciona e que projeta como intervenções no mundo concreto. Mãos, dorsos e pernas, são índices de uma experiência em que corpo, paisagem, arquitetura e cultura se misturam.
Numa das paredes da sala principal, vemos o objeto fotográfico intitulado “Largo de dentro”. Trata-se de um backlight modificado feito a partir do registro de uma instalação num estranho espaço que é a um só tempo a fachada e o interior de uma casa – novamente a noção de ambiente interior e exterior que se confundem.
Ainda na sala principal, também realizada com areia, a escultura intitulada Tadzio faz alusão à passagem do tempo que contemplamos numa praia. Trata-se de um pequeno balde de areia emborcado em uma estrutura de ferro que o suporta em condição de equilíbrio. Seu título se refere ao jovem rapaz Tadzio - personagem do romance Morte em Veneza de Thomas Mann cuja caracterização no filme de Luccino Viscontti, aparece com roupa de banho com listras pretas e brancas.
Ao mesmo tempo em que várias peças da exposição remetem ao mobiliário doméstico como a estante, a poltrona, o abajur, a mesa, ou a gaiola, a experiência da paisagem ou natureza é evocada. Em boa parte pela presença da areia que espelha a noção de um universo formado por “chuva de átomos”- onde não existe uma forma fixa, estável.
 Esta exposição também corresponde a um dos segmentos da pesquisa que Débora Bolsoni concluiu este ano junto ao programa de pós-graduação em artes visuais da ECA-USP, apresentada na forma de um livro-mestrado.
Intitulado Urbanismo geral o trabalho reúne uma coletânea de textos, registros de obras e interlocuções que a artista mantém com seu universo de referencias. O repertório de trabalho de Débora Bolsoni está em grande parte referenciado no universo dos materiais, equipamentos e soluções construtivas encontradas na construção civil, que lhe fornecem subsídios para a sua produção. Da mesma forma a artista discute o quanto a paisagem e as transformações urbanas ainda nos formam, o quanto elas são formadoras de subjetividades.


Situação de Água, de Maria Laet, e Dentro Fora, de Débora Bolsoni

Abertura: 27 DE MARÇO ÀS 19H00

Período expositivo: 27 de março a 30 de abril
Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 10h30 às 19h/ sábado das 12h às 17h.
Galeria Marilia Razuk

SALA 1 - Dentro Fora
Rua Jerônimo da Veiga, 131

SALA 2 - Situação de Água -  Rua Jerônimo da Veiga, 62 - Itaim Bibi - São Paulo.

Tel: + 55 11 3079-0853

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