Sem título (Pele), 2013, de Maria Laet e Estante sobre pilotis, 2013, de Débora Bolsoni
Situação de Água, de Maria Laet
Nesta sua primeira individual na Galeria Marilia Razuk, a artista carioca Maria Laet apresenta um conjunto de aproximadamente 12 obras, entre fotografia, monotipia, gravura, desenho e vídeo.
Nesta
mostra a artista lida com questões da memória - através de traços,
marcas essenciais, como o sopro, as digitais da mão, o gesto humano, e a
persistência ou o desaparecimento dessa memória. Também trata da noção
de limite, tendo este como um espaço de continuidade, indefinição,
troca, encontro e desencontro.
O
título “Situação de água” aponta de maneira poética para duas direções;
tendo a água como elemento que deixa sua marca na memória das coisas,
de maneira silenciosa, lenta e persistente, e ao mesmo tempo algo sem
limite nele mesmo, procura o movimento, e encontra diálogo no embate com
o mundo.
Em
suas ações, a artista está sempre em busca desta linha tênue e
invisível que separa coisas, pessoas. Linha que pode ser ultrapassada e
tocada, promovendo o toque, a troca. Mas aqui nada se conclui. Como a
água que não deixa ver seus limites, que transborda, há aqui esta
ausência de borda, de fim.
Habitar
este lugar delicado e nos aproximar dele, recordar sua existência, eis o
que se dá nas obras aqui reunidas de Maria Laet.
Sobre a artista
Maria
Laet nasceu no Rio de Janeiro, concluiu mestrado na Camberwell College
of Art, em Londres (2008). Fez residência artística na Schloß Balmoral,
Alemanha (2009), e no Carpe Diem Arte e Pesquisa em Lisboa (2010).
Participou de exposições como ‘From the margin to the edge’, Somerset
House, Londres (2012); 18th Biennale of Sydney: ‘all our relations’, Art
Gallery NSW e MCA, Sydney (2012); ‘Convite à Viagem’, Rumos Itaú
Cultural, São Paulo, Belém, Recife, Rio de Janeiro (2012); ‘O lugar da
linha’, Museu de Arte Contemporânea, Niterói e Paço das Artes, São Paulo
(2010). Tem trabalhos em coleções como Gilberto Chateaubriand, Rio de
Janeiro; MAC, Niteroi; FRAC Lorraine, França; Museum of Fine Arts,
Ghent, Belgium.
Dentro Fora, de Débora Bolsoni
Dentro Fora reúne um conjunto de esculturas, desenhos e um objeto fotográfico produzidos entre 2013 e 2014 pela artista Débora Bolsoni (Rio de Janeiro, 1975).
O título da exposição, Dentro Fora,
refere-se a ideia de um espaço não fechado, uma zona intercambiante de
projeção de uma “interioridade explodida” que se transforma em
espacialidade.
Para
a artista, a dicotomia entre interioridade e mundo exterior está tão
focada nas operações de apropriação dos objetos/cenas encontrados no
mundo (“mundo ready made”) como sempre foi. Não é uma questão meramente contemporânea.
Também por isso a questão presente no título, ao contrário do que comumente possa parecer, já não é mais a das relações entre o dentro e o fora do território da arte e tampouco alude à ideia de um olhar de “alguém que está fora” desse território ou circuito.
Para
a ocupação projetada para a Galeria Marília Razuk, Débora Bolsoni
instalou diversos objetos que variam continuamente em sua escala e
materialidade.
Realizadas em ferro, areia de fundição, alumínio, azulejos, madeira, nylon, borracha, isopor e tecidos, as esculturas
e objetos de parede formam um conjunto diversificado de soluções
construtivas e ocupações espaciais característicos da produção da
artista. São objetos que revelam encontros inusitados entre diversos
materiais, que entram em acordos provisórios em prol de uma leve
geometria.
O
primeiro trabalho que encontramos na entrada da exposição foi colocado
num dos degraus da escada de acesso à galeria. Trata-se de uma “mini
fachada” – apoiada sobre uma pequena mesa, que a artista associa ao seu
repertório da chamada “arquitetura vernacular” – formas de construção
que vão se instituindo e se disseminando como modelos construtivos ao
longo do tempo na cultura e paisagem urbanas.
Este
trabalho oferece uma passagem para o primeiro conjunto de esculturas e
objetos de parede que se localiza na sala que a artista chama de “sala
das maquetes” – são peças que, numa escala imaginária, referem-se a
objetos de outras dimensões ( um edifício, as fundações de um imóvel e
um monumento).
Na
sala principal, um objeto em forma de uma poltrona, construído com
blocos de feltro recheados de areia, está voltado para uma parede com a
série de desenhos “Sinédoques do Tindiba.” Sobre a poltrona encontra-se uma desempenadeira de parede feita de madeira que sugere uma latência performativa – como se ela contivesse em si o potencial de um gesto realizado a partir da empunhadura deste objeto.
A série de desenhos
“Sinédoques do Tindiba” reúne vários blocos de desenhos apresentados no
formato de uma estante de leitura. São anotações, reflexões, desenhos
de uma escultora sobre o universo dos objetos com os quais ela se
relaciona e que projeta como intervenções no mundo concreto. Mãos,
dorsos e pernas, são índices de uma experiência em que corpo, paisagem,
arquitetura e cultura se misturam.
Numa das paredes da sala principal, vemos o objeto fotográfico intitulado “Largo de dentro”. Trata-se
de um backlight modificado feito a partir do registro de uma instalação
num estranho espaço que é a um só tempo a fachada e o interior de uma
casa – novamente a noção de ambiente interior e exterior que se
confundem.
Ainda na sala principal, também realizada com areia, a escultura intitulada Tadzio
faz alusão à passagem do tempo que contemplamos numa praia. Trata-se de
um pequeno balde de areia emborcado em uma estrutura de ferro que o
suporta em condição de equilíbrio. Seu título se refere ao jovem rapaz
Tadzio - personagem do romance Morte em Veneza de Thomas Mann cuja
caracterização no filme de Luccino Viscontti, aparece com roupa de banho
com listras pretas e brancas.
Ao
mesmo tempo em que várias peças da exposição remetem ao mobiliário
doméstico como a estante, a poltrona, o abajur, a mesa, ou a gaiola, a
experiência da paisagem ou natureza é evocada. Em boa parte pela
presença da areia que espelha a noção de um universo formado por “chuva
de átomos”- onde não existe uma forma fixa, estável.
Esta
exposição também corresponde a um dos segmentos da pesquisa que Débora
Bolsoni concluiu este ano junto ao programa de pós-graduação em artes
visuais da ECA-USP, apresentada na forma de um livro-mestrado.
Intitulado Urbanismo geral
o trabalho reúne uma coletânea de textos, registros de obras e
interlocuções que a artista mantém com seu universo de referencias. O
repertório de trabalho de Débora Bolsoni está em grande parte
referenciado no universo dos materiais, equipamentos e soluções
construtivas encontradas na construção civil, que lhe fornecem subsídios
para a sua produção. Da mesma forma a artista discute o quanto a
paisagem e as transformações urbanas ainda nos formam, o quanto elas são
formadoras de subjetividades.
Situação de Água, de Maria Laet, e Dentro Fora, de Débora Bolsoni
Abertura: 27 DE MARÇO ÀS 19H00
Período expositivo: 27 de março a 30 de abril
Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 10h30 às 19h/ sábado das 12h às 17h.
Galeria Marilia Razuk
SALA 1 - Dentro Fora - Rua Jerônimo da Veiga, 131
SALA 2 - Situação de Água - Rua Jerônimo da Veiga, 62 - Itaim Bibi - São Paulo.
Tel: + 55 11 3079-0853
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