Biblioteca Textos Fundamentais
Começamos bem o ano com cinco livros imperdíveis -
A Biblioteca Textos Fundamentais pretende publicar livros
introdutórios dedicados ao estudo de uma única obra.
Os livros serão especialmente escritos por consagrados
especialistas brasileiros e estrangeiros.
As seguintes áreas serão abordadas:
- textos literários adotados nos programas de acesso às
universidades;
- textos de valor intrínseco para uma formação humanista,
incluídos os clássicos do teatro universal;
- textos-chave da história da filosofia e das ciências humanas;
- filmes e óperas, ampliando assim o próprio conceito de “texto”.
Casa-Grande & Senzala
O Livro Que Dá Razão ao Brasil Mestiço e Pleno de Contradições
Formato: 11,7 X 21 cm
Número de Páginas: 200
Acabamento: Brochura
Casa-Grande & Senzala, o Livro Que Dá Razão
ao Brasil Mestiço e Pleno de Contradições, do reconhecido
antropólogo e crítico cultural Mario
Helio, apresenta uma das mais originais abordagens
da obra clássica de Gilberto Freyre.
Aliás, originalidade que começa pelo longo
subtítulo, que não deixa de evocar o artifício dos
romances do século XVIII, derramando-se como
a “prosa gorda” do autor de Nordeste, na caracterização exata, embora um tanto ambígua, de João
Cabral de Melo Neto.
Assim, o autor deste livro realizou uma autêntica
façanha intelectual, encontrando ângulos
inéditos para iluminar uma das obras mais bem
estudadas da cultura brasileira.
O leitor encontrará aqui um novo Gilberto
Freyre, surgindo através da força de sua obra-prima,
relida numa ótica surpreendente.
A sutileza da análise de Mario Helio é anunciada
desde o parágrafo de abertura deste livro:
“Gilberto de Mello Freyre nasceu no Recife,
Pernambuco, no dia 15 de março de 1900.
Talvez seja menos pueril do que parece atribuir
um tanto de importância biográfica e psicológica
aos termos grifados: sobrenomes, lugar
e ano de nascimento do autor de Casa-Grande
& Senzala.”
De fato, com rara sutileza, o autor demonstrou
a centralidade dessas circunstâncias e desses detalhes
na obra de Freyre, pois o gosto pelo arcaico,
enraizado no amor pela cidade do Recife, dialoga,
ainda que pelo avesso, com o espírito finissecular,
geralmente definido pela adesão à urgência do
aqui e agora.
Moderno, mas nunca modernista; universal,
porém sem o desejo provinciano de ser cosmopolita,
Freyre tornou verdadeira experiência
existencial o conceito-chave de seu entendimento
da forma de convívio tipicamente brasileira.
Desse modo, em sua escrita e em sua vida,
Freyre também soube encontrar o equilíbrio de
antagonismos. A importância de sua obra depende
dessa habilidade.
Mario Helio ofereceu ainda uma seleção de
passagens incontornáveis de Casa-Grande & Senzala,
permitindo ao leitor uma visão panorâmica
dos pressupostos e da riqueza da linguagem de
Gilberto Freyre.
Por fim, o autor selecionou, com critério e
oportunidade, os principais títulos para o estudo
da obra-prima de Freyre. Este livro, portanto, nasce
como uma referência indispensável ao conhecimento
pleno de Casa-Grande & Senzala.
Esaú e Jacó
Olhares sobre a leitura
Formato: 11,7 X 21 cm
Número de Páginas: 200
Acabamento: Brochura
Esaú e Jacó, Olhares sobre a Leitura, da destacada
professora de teoria da literatura Henriqueta Do
Coutto Prado Valladares, apresenta uma introdução
tão detalhada quanto ampla de um dos títulos
mais importantes da literatura brasileira, constituindo
um guia ideal ao pleno entendimento do
penúltimo romance de Machado de Assis.
Detalhada, de fato, é a interpretação de Prado
Valladares dedicada à caracterização dos recursos
estilísticos que estruturam o romance.
Ampla, porém, é a perspectiva que informa a
leitura do desenvolvimento da trama dos dois gêmeos
e, sobretudo, rivais irreconciliáveis.
Vejamos.
De um lado, após explorar de modo inovador
as relações entre a vida e a obra do Bruxo do
Cosme Velho, a autora ofereceu um panorama
completo das mais importantes interpretações
do romance. Afinal, "um livro clássico suscita
uma verdadeira avalanche de textos críticos e
que não cessa de sensibilizar leitores ao longo de
diversos tempos".
E, por isso mesmo, trata-se de um clássico!
Assim, o leitor pode conhecer as múltiplas facetas
do romance através das análises desenvolvidas
por sucessivas gerações de exegetas; gerações
fascinadas com a presença de eventos decisivos da
história brasileira na narrativa machadiana: a crise
da Monarquia; a abolição da escravatura; a Proclamação
da República.
De outro lado, Prado Valladares compreendeu
Esaú e Jacó a partir de um olhar que singulariza sua
escrita. Ora, o texto de Machado de Assis coloca
em cena um inesperado cruzamento de teorias
sobre a leitura, assim como propõe leituras céticas
e desestabilizadoras de teorias hegemônicas.
Assinale-se, aqui, a sutil análise que a autora
forneceu da célebre passagem do romance: "o leitor
atento, verdadeiramente ruminante, tem quatro
estômagos no cérebro, e por eles faz passar e
repassar os atos e os fatos, até que deduz a verdade,
que estava ou parecia estar escondida".
Prado Valladares ensinou a decifrar passagens
similares com uma saudável desconfiança, pois, na
letra do texto machadiano, a ideia de "verdade" é
sempre colocada sob suspeição.
O que não se deve duvidar, contudo, é da
importância deste livro para um exame inovador
de Esaú e Jacó.
Grande Sertão: Veredas
Travessias
Formato: 11,7 X 21 cm
Número de Páginas: 136
Acabamento: Brochura
Grande Sertão: Veredas, Travessias, do renomado
crítico e teórico Eduardo F. Coutinho, oferece
um completo e complexo panorama da vida e
da obra de Guimarães Rosa. O destaque é naturalmente
concedido à obra-prima do autor, mas,
ao mesmo tempo, o crítico esmiuçou o conjunto
da produção rosiana, traçando suas origens e seus
diálogos com distintas tradições literárias.
Entre tantos diálogos possíveis, dada a vastidão
dos interesses culturais e dos conhecimentos linguísticos
de Rosa, este livro resgata um percurso
fundamental, geralmente negligenciado. Trata-se
da inserção rosiana na literatura latino-americana
como um todo – e esse é um dos aspectos mais
relevantes da bela interpretação aqui desenvolvida.
Na aguda percepção de Coutinho, o autor de
Sagarana inventou uma forma própria; forma capaz
de tornar produtiva a oscilação constitutiva
das culturas latino-americanas. De fato, Rosa demonstrou
a vitalidade da "presença de uma tensão
entre tendências opostas que se expressavam através
de pares antinômicos do tipo: regionalismo x
universalismo, objetivismo x subjetivismo, consciência
estética x engajamento social".
A riqueza da linguagem rosiana tanto resultou
dessa tensão quanto ajudou a superá-la, através da
invenção de um universo ficcional único.
Desse modo, Grande Sertão: Veredas é um livro
que abriu novos caminhos, enraizando-se num
espaço e tempo determinado, e, por isso mesmo,
alcançando uma universalidade poucas vezes atingida
por uma obra literária – independentemente
de latitudes ou idiomas.
O relevante e detalhado estudo analítico do
romance é enriquecido pela análise inspirada de
uma passagem-chave, precisamente o momento
em que, próximo ao final da narrativa, Riobaldo
descobre o segredo que poderia ter transformado
sua história; porém, como costuma acontecer,
o mistério se esclarece tarde demais. A análise
dessa passagem ajuda a caracterizar o estilo de
todo o texto.
Por fim, Eduardo F. Coutinho concluiu seu
estudo com sugestões de leitura para quem
deseje aprofundar o conhecimento de Grande
Sertão: Veredas, tornando este livro um título indispensável
para a compreensão da grandeza de
Guimarães
Rosa.
Iracema
Contemporâneo da Posteridade?
Formato: 11,7 X 21 cm
Número de Páginas: 136
Acabamento: Brochura
Iracema, Contemporâneo da Posteridade? apresenta
um estudo indispensável para o entendimento
inovador da obra de José de Alencar; estudo assinado
por um dos mais finos e agudos críticos
literários brasileiros: Ivo Barbieri.
Aliás, o subtítulo deste livro dá bem a medida
da inteligência do crítico.
Em resenha publicada no calor da hora, em
janeiro de 1866, Machado de Assis entusiasmou-se com a tradução da sensibilidade indígena propiciada
pelo romance alencariano. Nas páginas de
Iracema, "tudo ali nos parece primitivo"; por isso,
o resultado do esforço não poderia ter sido mais
bem-sucedido: "o futuro chamar-lhe-á obra-prima".
O cuidadoso leitor ofereceu um apanhado
do enredo: "A fundação do Ceará, os amores de
Iracema e Martim, o ódio de duas nações adversárias,
eis o assunto do livro".
Ivo Barbieri, de igual modo, um dos nossos
mais respeitados machadianos, desenvolveu e
aprofundou a intuição do mestre, propondo uma
hipótese fascinante.
Nas suas palavras: "A tupinização da língua
portuguesa atestada pela incidência no texto de
inúmeros vocábulos de origem indígena é sinal
que indicia o processo geral de miscigenação.
Esse, o grande tema que atravessa praticamente
todos os planos da obra: argumento histórico,
fábula, projeções míticas, implicações ideológicas,
discurso e narrativa. De fato, o encontro
e cruzamento de duas culturas é o eixo que
tudo articula e o centro de gravitação para o
qual convergem componentes e procedimentos
ficcionais".
Na interpretação aqui proposta, Alencar tornou
Iracema autêntico ensaio ficcional, isto é, a
trama esboça uma teoria geral da miscigenação,
vista como traço próprio da cultura brasileira.
Além disso, o autor produziu uma notável síntese
biográfica do escritor de O Guarani, iluminando
sua obra – aqui, examinada em seu conjunto.
Há mais: Barbieri enfatizou tanto "a contribuição
antecipadora de José de Alencar relativamente
ao debate da questão ecológica" quanto
sua capacidade de "criar uma linguagem inaugural
e descortinar novos horizontes para a cultura
brasileira".
Este notável livro, portanto, desenha uma nova
interpretação da obra de José de Alencar, oferecendo
uma análise inspirada, e desde já incontornável,
de sua obra-prima, Iracema.
O Filho Eterno
O Duplo do Pai: O Filho e a Ficção de Cristovão Tezza
Formato: 11,7 X 21 cm
Número de Páginas: 160
Acabamento: Brochura
O Filho Eterno, O Duplo do Pai: O Filho e a
Ficção de Cristovão Tezza é um notável estudo de
Victoria Saramago, uma das vozes mais promissoras
da crítica e da literatura atuais. A jovem autora
apresentou um estudo completo do conjunto da
obra de um dos nomes definitivos da literatura
brasileira contemporânea, cuja consagração crescente
representa o justo reconhecimento de uma
literatura que se distingue pela força da linguagem
e pela originalidade da visão de mundo de
seu autor.
De fato, Cristovão Tezza escreveu o romance
mais premiado dos últimos anos, O Filho Eterno.
Nele, o autor enfrentou um delicado tema autobiográfico:
o nascimento de um filho portador da
síndrome de Down. Trata-se da história de Felipe,
o próprio filho de Tezza. Contudo, o autor
desenvolveu uma elaborada estrutura textual que
permitiu criar alguma distância entre vida e obra,
circunstância existencial e exercício literário, isto
é, invenção propriamente linguística.
No caso, o
inegável impulso autobiográfico foi matizado por
um agudo traço estilístico: o texto é dominado
por um narrador em terceira pessoa, embora às
vezes apareça, aqui e ali, uma "constrangida" voz
que evoca um narrador em primeira pessoa. Porém,
o predomínio quase absoluto do ponto de
vista externo metamorfoseou experiência individual
em obra de arte.
Na inspirada análise da autora, se o livro
possui elos com a tradição clássica do romance
de formação, isto é, do Bildungsroman, ao mesmo
tempo, o texto de Tezza engendra uma diferença
decisiva:
"É quando o pai se desliga dos clichês relacionados
a Bildung e à juventude na modernidade, é
quando abre mão do modelo clássico da formação
do artista, é quando enfim se reconhece sem
o comando da encenação que fora sua existência
até o momento, é aí que a verdadeira Bildung
pode afinal ter lugar."
Registre-se a ousadia do gesto: Victoria Saramago
analisou com rara argúcia a obra de um
clássico contemporâneo, fornecendo um modelo indispensável
não só para o entendimento pleno de
O Filho Eterno, mas para uma abordagem inovadora
da própria literatura brasileira contemporânea.
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