segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Cronica da Urda - Esse Velho Companheiro






Esse Velho Companheiro


De quem será que a escritora vai falar desta vez? Um velho amigo de escola, um antigo namorado? Nada disso, vou falar é de um já velho companheiro de todos nós, que atende pelo nome de PLÁSTICO.
Olho ao meu redor, e verifico quanta coisa de plástico faz parte do nosso dia-a-dia: aqui, ao meu redor, tenho canetas, capas de livros, invólucros de papel-ofício, porta-clips, a estrutura do computador, tudo de plástico; lá na cozinha o plástico abunda, desde a garrafa do leite até os potinhos onde se guardam coisas na geladeira. E aí me ponho a pensar em como surgiu esse material sem o qual, agora, ficaria bem difícil viver.
Em 1966, quando eu estava com 14 anos, lembro bem de ter lido uma velha, velhíssima Seleções do Reader’s Digest, datada de uns 20 anos antes, onde havia uma reportagem sobre o descobrimento de um novo material. Falava-se num material muito maleável, que poderia, inclusive, ser transformado em película e folhas. Creio que os cientistas de época não conseguiram vislumbrar o alcance do uso que teria o plástico, pois, uma das poucas utilidades previstas na reportagem era de que aquele material novo poderia ser usado, por exemplo, para embrulhar queijos. Como, nas minhas contas, 20 anos antes de 1966 dá 1946, acho que temos a data aproximada da descoberta do plástico.
Nessa época de 1966, o plástico já estava ficando conhecido; com ele, já se fabricavam bonecas, brinquedos, alguns utensílios de cozinha, que eram quebradiços e que exalavam um cheiro terrível caso acontecesse de queimar. E, mais ou menos então, fez-se uma revolução na indústria das embalagens, que culminou com o luxo extremo de se substituir as velhas garrafas de leite, que tinham de ser areadas todos os dias, por moderníssimos sacos de plástico. Como, na ocasião, a maioria das pessoas ainda se abastecia das garrafas de leite de vaca do vizinho, virou coisa chique ter-se leite “de pacote”, e cada saquinho de leite era lavado e pendurado no varal, para ser reaproveitado.
Reaproveitavam-se os sacos de leite das mais diversas formas: para se levar lanche para a escola, para se carregar mudas de flores de uma casa para outra, e por aí afora. Mas houve uma idéia para o reaproveitamento dos sacos de leite que foi genial: cortados em tirinhas, eles se transformavam em linha de crochê. E virou moda chique, chiquíssima, se fazer bolsas de tiras de sacos de leite. Eu tive uma delas, redonda bolsa a tiracolo para usar na missa, feita por mim mesma com grossa agulha de crochê. As bolsas de saco de leite eram uma questão de status, deixavam bem clara a evolução das famílias, que usavam o leite “de pacote” e já não precisavam arear, todos os dias, as garrafas. É claro que, algum tempo depois, tais bolsas saíram da moda, pois o progresso foi acabando com as vacas dos vizinhos, e o consumo do leite “de pacote” tornou-se popular, o que popularizou, também, as bolsas de crochê de saco de leite. Não tinha mais graça usar o que já não era novidade, o que qualquer um, agora, tinha acesso. Algumas velhinhas adeptas do crochê, porém, nunca abandonaram os sacos de leite: Dona Noca, amiga da minha mãe, que faleceu há três ou quatro anos, lá na praia de Armação, até a sua morte muito produziu com seu crochê feito de tirinhas de tais sacos.
Bem, de 1946 a 1995 há um intervalo de quase cinqüenta anos, e nesse tempo, o material novo que se supunha fosse bom para embrulhar queijos, demonstrou ser de uma utilidade espantosa. Você, que está lendo este texto, dê uma olhadinha ao seu redor e pense na sua vida: como você faria para viver, hoje, sem a presença do plástico?
Ah! O plástico, esse velho companheiro!



Blumenau, 29 de Outubro de 1995

Urda Alice Klueger

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