BRASÍLIA
REVISITADA
de EMANUEL MEDEIROS
VIEIRA
PARA CLARICE E LUCAS, MEUS
FILHOS — QUE AQUI NASCERAM
Não, não quero falar da
cidade estigmatizada, dos poderes – podres ou não.
Não a urbe oficial, dos altos
tecnocratas, dos políticos que só conhecem o aeroporto, carros oficiais,
palácios, ministérios, o Congresso, restaurantes chiques, e boates de “moças de
luxo” –– caras, da mais antiga profissão..
A cidade que amo é
outra,
Das chuvas de janeiro (que
agora pararam) de tantas mangas, dos verdes belos, das goiabas crescendo, da
Clarice, do Lucas, dos piqueniques improvisados, do Parque da Cidade, e de tanta
gente honrada que aqui labuta e corre atrás dos seus sonhos.
Mudar essa imagem eu sei que
não vou.
Mas creio que o meu papel é o
de “evangelizador laico”.
Se mudar uma só visão, um só
olhar estereotipado, ficaria compensado.
EIS-ME DE VOLTA,
PROVISORIAMENTE, DA PRIMEIRA PARA A ÚLTIMA CAPITAL.
Não, os poderes já não me
interessam.
CADA MOMENTO É UM LUGAR ONDE
NUNCA ESTIVEMOS.
E tento redescobrir cada
momento.
O que é o tempo,?,
pergunto-me sempre – desde que iniciei no ofício de tecer
palavras.
Virgílio captou
magistralmente: “Sede fugit interea , fugit irreparabile tempus” (“mas ele foge:
irreparavelmente o tempo).
E Clarice Lispector pergunta:
“Oh Deus que faço desta/felicidade ao meu redor/que é eterna, eterna,eterna/e
que passará daqui a um instante/porque só nos ensina/a ser
mortal?”
Mas o que queria
dizer?
Que há uma cidade escondida,
além do olhar apressado.
Há uma cidade mais funda –
das linhas retas.
Algo que ficará, além das
celebridades vãs, da vida de gente que se atribui muita importância
– ministros e deputados que logo serão esquecidos.
Quem se lembra de Médici?
Quem se esquecerá do Dr. Oscar e de Lúcio Costa?
É por essa razão que dedico o
curto texto ao Lucas e a Clarice.
Não são “candangos”,
pioneiros.
Ele está com 10 anos, ela com
27.
E há algo de novo nos seus
olhares.
Esperança?
E enquanto escuto um
pássaro cantando, o sol batendo na mesa em que escrevo, não consigo evitar o
lugar-comum: há que celebrar a vida. Algo do nosso trabalho ficará – ficará. E
sei que toda a glória é finita, que é sempre assim (apenas passamos). E o tempo
foge.
sábado, 19 de outubro de 2013
BRASÍLIA REVISITADA de EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
Marcadores:
cronicas e outros textos,
seleções da Urda
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário