PÓ E MEMÓRIA
de EMANUEL MEDEIROS VIEIRA
“O homem é feito visivelmente para pensar; é toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever é pensar bem”
(Blaise Pascal)
A morte sempre ganha: tem mais tempo.
Pessimismo?
Driblamos a Indesejada até quando for possível.
Pó e memória.
Mas celebramos o pássaro cantante, um instante, o arco-íris, um relâmpago de encantamento.
E passamos – passamos.
Os sonhos de juventude, transformaram-se em dores na coluna?
Tanto ruído, tanta matéria, tanta agitação!
“Credibilidade é a única moeda válida neste vasto mercado repleto de ruído”.
A vida?
Definam-me urgentemente o que é a vida – por favor, um náufrago sorridente pede socorro.
Até a caminho da forca, pode-se apreciar a paisagem – alguém escreveu.
O pássaro cantante sorri para mim.
Mesmo que esteja cercado de mortos e de fotos, rebelo-me contra o oblívio.
Existe um menino que não pode estar perto de mim.
Mas também somos feitos daquilo que perdemos.
E o tempo se vai – sempre.
O mar, o trapiche, um fogão de lenha, um menino, boné, morango, amora, trapiche, mar, mãe pão feito em casa – repito-me, eu sei.
É como querer segurar um instante diante desta máquina descartável – nosso mundo.
Queria escrever: meus valores não pertencem a ele, mas soaria retórico e discursivo.
“Humanismo beato”, reclama um promotor interno.
É apenas uma prosa poética, uma manhã, um mês de julho – parece tão pouco e é tudo.
(Salvador, julho de 2013)
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