CASA DE MÁSCARAS
de Péricles Prade
No de Paginas:146
Arquiteto do maravilhoso, mestre da lógica do delírio, Péricles Prade nos apresenta agora este Casa de Máscaras, seu novo livro de poemas. A trajetória poética de Péricles teve início em 1963, com Este interior de serpentes alegres. Em 1970 surge o primeiro livro de ficção em prosa, intitulado Os milagres do cão Jerônimo, que parece ser, na obra do autor, o único em que os contos ainda têm uma estrutura que lembra sua forma tradicional. Pois a partir de Alçapão para gigantes (1980), Péricles Prade ingressa definitivamente no círculo mágico de suas criações, quando transcende os gêneros literários e tudo passa a ser, mais que poemas e contos, um universo de múltiplas dimensões dirigido por um feiticeiro com diabólica sensibilidade para a poesia como linguagem do oculto e do sagrado.
Já foi dito que a obra de Péricles Prade é um caso isolado na literatura brasileira. É verdade. Mas ela, a obra, é também contagiante. Seus livros convidam ao delírio, e para falar sobre eles é preciso dar um salto para muito além do racional e dizer coisas que soam loucas. Dá vontade de gritar: “Omphalos! Umbigo do mundo! Esfera cujo centro está em toda a parte e a circunferência em nenhuma!”. E há também uma tendência, quando se procura estender os braços para apalpar referências ao redor, de dizer que se trata de uma literatura de nonsense e logo, logo Lewis Carroll nos vem à mente. Tudo bem, até acho que Péricles tem alguma coisa de Carroll, como tem alguma coisa de quase tudo, mas numa outra direção, sempre numa outra direção.
Os dois volumes de Alice são divertimentos lógicos, brincadeiras geniais de um matemático para agradar as suas queridas meninas. Alice pode dialogar com os personagens de seu mundo, pode tentar compreendê-los. Mas o universo de Péricles Prade é, a bem dizer, impenetrável, porque tem múltiplos referenciais, infinitas raízes que estão no solo do Mito e da Magia e que podem ser Alquimia, Cabala, pinturas de Bosch, poemas de Saint-John Perse, singularidades do Caos, gárgulas, leoas feridas, T.S. Eliot, arabescos de um tapete persa, arquétipos e figuras hieráticas, As mil e uma noites, seres imaginários de Borges, jaulas amorosas, Rilke, humor cáustico e cruel, tarântulas, serpentes, corvos, Kafka, unicórnios e, por certo, máscaras. Enfim, uma intertextualidade inesgotável que se expande de livro para livro. E a gente pode igualmente, sem muito esforço, perceber a habilidade com que o autor se apropria das epígrafes, transformando-as em meros complementos de seu discurso.
Perdoe o esforçado leitor por eu não saber dizer com exatidão, como é da praxe das orelhas de livros, do que trata este Casa de Máscaras. Sei apenas que é poesia de sutil transcendência. Em compensação, posso aconselhá-lo a ter cautela e guardar este exemplar em lugar especial de sua biblioteca, pois as criações literárias de Péricles Prade parecem ter caído da árvore onde Deus se esconde, escreveu Silveira de Souza .
Um Lançamento
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