terça-feira, 2 de outubro de 2012

A Busca pela Bem-Aventurança Eterna




A Busca pela Bem-Aventurança Eterna


Bhakti-tirtha Swami



A superação de conceitos niilistas e monistas até a teologia das cinco disposições de serviço devocional.



            Um ponto chave enfatizado em escrituras de diferentes caminhos é o desenvolvimento de nossa relação com Deus. Infelizmente, as pessoas frequentemente têm informação limitada sobre o objeto de seu amor – o que Deus gosta e não gosta, Suas atividades, Sua morada – e como se conectar com o Senhor. Existe disponível muita e detalhada informação sobre esses tópicos, e nós iremos compartilhar um pouco dela nesta discussão. Fique bem atento; serão expostas certas coisas que irão emergir posteriormente em sua consciência, nos momentos em que forem mais necessárias.



Quatro Caminhos Universais



            Como nos conectamos com a meta suprema? Que caminho nos levará de volta ao lar? Para começar, todos os caminhos caem em quatro categorias filosóficas: materialismo, niilismo, impersonalismo e personalismo. É importante manter em mente essas quatro escolas de pensamento conforme examinamos o que está dentro do universo material, o que está fora do universo material, e o que está no reino espiritual.



            A filosofia do materialismo é basicamente uma filosofia ateísta. O materialismo sustenta que um ser humano não passa de uma entidade física sem alma. A existência é simplesmente uma questão de estar em diferentes ambientes, que produzem uma personalidade correspondente. A vida é vista como uma questão de simplesmente comer, dormir, procriar e se defender, ou, como declarado por Charles Darwin, sobrevivência dos mais aptos. Essa filosofia produz um egoísmo grosseiro, e se baseia em exploração e manipulação, em vez de uma vida em harmonia com a natureza. Esta é a filosofia ateísta que as forças de opressão adotam e tentam propagar ao redor do mundo.



            Em segundo, há a filosofia do niilismo. De acordo com esta filosofia, o envolvimento material produz ansiedade, relacionamentos materiais trazem dor, e buscas materiais causam estresse, frustração e depressão. Esta ideia está profundamente conectada com a filosofia do budismo, na qual a meta é tentar alcançar o nirvana: liberdade do ego, liberdade de um foco no mundo material e liberdade do bombardeio de interferências sensuais. Esta filosofia nos diz o que a realidade não é, mas tem pouca informação sobre o que a realidade é.



            A terceira filosofia é a do impersonalismo. O impersonalismo nos retira da região material e nos põe na consciência cósmica, ou samadhi. Nesta consciência, as pessoas experimentam a universalidade de toda a criação e sentem certa unidade com Deus, pensando que elas mesmas são Deus. O foco é em se fundir na energia de Deus e se tornar uno com a luz de Deus. A filosofia do impersonalismo tenta abranger todos os elementos materiais básicos, mas explica apenas uma dimensão da Divindade, sendo, portanto, incompleta. Ela mostra como somos unos com Deus, mas negligencia totalmente a explicação de como somos diferentes de Deus, e isto é essencial. É esta diferença que experimentamos, e que prevalece como fundamental para o desenvolvimento espiritual. Se somos diferentes de Deus, então podemos desenvolver uma atitude de serviço a Ele. Do contrário, o serviço amoroso se torna um tanto impossível.



            A filosofia do personalismo reconhece que o materialismo traz dor e confusão, mas que uma pessoa deve superar essas dificuldades e tornar-se livre do bombardeio sensual. A filosofia do personalismo inclui aspectos do materialismo, do niilismo e do impersonalismo. Mas ela vai além. Ela reconhece que há certas atividades que não são materiais.



            Consideremos uma analogia. Um homem tem uma cavidade que está lhe causando dor de dente. Ele não consegue nem mesmo apreciar o cheiro da comida sem que seu dente doa. O materialismo é como um dente dolorido; ele causa muita dor e sofrimento. O homem tenta superar a dor mentalmente e também toma medicação, a qual interrompe a dor por um tempo. Este nível é como o niilismo: apesar de ele estar livre da dor causada pelo dente, seu estado é, na melhor das hipóteses, de neutralidade. Conforme o homem se foca em desfrutar o aroma da comida, ele está num nível parecido com o impersonalismo; ele pode desfrutar da energia da comida. Uma vez que o homem muda de ideia e vai ao dentista e fica curado da dor de dente, não apenas ele pode cheirar a comida, mas pode, de fato, desfrutar de comê-la. Este nível é análogo ao personalismo. A eliminação da causa que gerava seu sofrimento permite a ele ter um relacionamento direto com a comida. Às vezes, quando nos encontramos em uma situação ruim, pensamos que “positivo” significa a eliminação do negativo. No entanto, acabar com nossa situação material negativa é apenas o início. O estágio seguinte é encontrar alguma ocupação espiritual positiva para substituir a atividade material.



Personalismo versus Impersonalismo



            Concepções pessoais automaticamente contêm a compreensão impersonalista e vão além dela. O Senhor Supremo, sendo absoluto, pode existir pessoal e impessoalmente ao mesmo tempo. Existem três energias básicas do Divino: a energia externa, que mantém o universo material; a energia marginal, que é feita das entidades vivas; e a energia interna, que mantém o mundo espiritual. Devido ao nosso condicionamento, tendemos a ver o espiritual como o oposto do material. Para nós, material significa forma, logo espiritual deve significar amorfo. Material significa ativo, logo espiritual significa destituído de atividade. De maneira a alcançarmos uma verdadeira compreensão das atividades no mundo espiritual, devemos deixar essas ideias erradas de lado. Através do amor e da devoção, podemos ultrapassar a abordagem impessoal de Deus após muitas e muitas vidas nesta consciência cósmica. Nós, então, finalmente obtemos uma oportunidade de entrar em contato com as atividades extraordinárias do mundo espiritual.



            O mundo espiritual é nosso habitat natural. Os grandes professores estão constantemente nos falando sobre uma existência além desta que percebemos. Eles estão ansiosos para nos mostrar os meios para recuperarmos este precioso estado que perdemos. Por muitas vidas, a alma tem vagado dentro e fora de muitos ambientes e situações, inconscientemente desesperada por associação espiritual.



            Quando proferimos a oração “Pai nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, vem a nós o vosso reino, seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no céu”, compreendemos que o mundo material é um reflexo do mundo espiritual. O mundo material é, na verdade, um reflexo pervertido da realidade. No mundo material, temos muitos tipos de interações, mas elas são limitadas, dolorosas e, finalmente, frustrantes. No reino espiritual, nosso relacionamento é com o Senhor, e nossas atividades são sempre novas. Cada segundo no mundo espiritual torna-se um momento de prazer superior.



Há duas divisões principais no reino espiritual. Há o brahmajyoti, o qual às vezes é referido como a luz ou a refulgência, e há os planetas espirituais, onde as diferentes manifestações do Senhor e de Seus devotos residem. Está presente ali o aspecto pessoal de Deus. Alguns de vocês continuam buscando unidade, a luz impessoal, e a oportunidade de se fundirem com o Supremo. Este desejo se deve a certa contaminação material. É a primeira fase que experimentamos conforme começamos a nos conectar com a consciência superior. Conforme experimentamos a unidade cósmica, podemos ficar tão intoxicados e felizes que concluímos falsamente que não existe nada superior. Este é o nosso primeiro grande erro. Essas experiências são prazerosas, mas também são limitadas. Além da consciência cósmica está a oportunidade de intercâmbio pessoal com o Senhor.

            “Liberação” é um termo frequentemente utilizado nas escolas de pensamento impersonalista – liberação do mundo material para tornar-se uno com Deus, ou até mesmo tornar-se Deus. Novamente, nossa meta deve estar além da liberação. Nós devemos ser liberados incontáveis vezes antes de termos uma chance de realmente entrar no reino de Deus. Devemos viajar por muitas vidas e pagar impostos enormes – buscar austeridades, religiosidade e espiritualidade de diversos tipos – para irmos além da plataforma da liberação.



            Há uma fase intermediária de desenvolvimento na qual somos capazes de nos associarmos com uma forma individual de Deus, localizada na região do coração de cada ser vivo; este aspecto de Deus é conhecido como o paramatma. Esta é uma “unidade” superior, que é mais localizada e mais pessoal, um estágio que grandes iogues aspiram alcançar através de suas práticas ióguicas. Nós podemos então avançar espiritualmente em direção à associação suprema última com o Senhor Supremo no mundo espiritual.



            Voltando à analogia da dor de dente, uma vez que o cheiro da comida permeia o nariz de uma pessoa, o desejo de comer a comida irá, cedo ou tarde, tornar-se a meta mais desejada. Essa pessoa irá então tentar obter a comida e desfrutar dela de todas as maneiras possíveis. Similarmente, o impersonalismo eventualmente levará ao personalismo. A questão é: pegaremos a rota longa e lenta do desfrute dos sentidos ou a rota direta e rápida da rendição à vontade do Senhor? A segunda opção concede prazer eterno.



Cinco Tipos de Relacionamento com Deus






            Conforme mencionado, o mundo espiritual é pleno de atividades centradas nos intercâmbios amorosos com o Senhor. Existência significa atuar e interagir. A expressão última de toda essa atuação e interação é o amor. Amor envolve serviço. Amor não significa simplesmente conhecimento sobre alguém, tampouco culmina apenas em salvação. Novamente, amor significa serviço. Todas as atividades no mundo espiritual se baseiam em serviço ao Senhor. Escrituras antigas nos dizem que existem outros intercâmbios que podemos ter com Deus além dEle como nosso pai e nós como Seus filhos. Os Vedas detalham as atividades no reino de Deus e falam de cinco relacionamentos, ou rasas, que podemos ter com o Supremo.



            Podemos utilizar a analogia de um inválido deitado na cama. O relacionamento entre a cama na qual o inválido está deitado e o inválido em si seria considerado a primeira rasa, a rasa de neutralidade. Um empregado traz a refeição da pessoa. Este empregado está servindo na segunda rasa, a rasa de servidão, onde há certo intercâmbio, mas em um nível muito formal. Então o amigo da pessoa entra para fazer uma visita; esta é a terceira rasa, no humor de amizade, e envolve mais calor e intercâmbio pessoal. Então, a mãe da pessoa entra para conferir a situação, representando a rasa de maternidade ou paternidade, que carrega consigo um conjunto de emoções completamente diferentes e mais íntimas. Finalmente, o cônjuge da pessoa volta para casa e serve a pessoa na rasa conjugal, ou no humor íntimo de um amante. Conforme nos movemos do humor de neutralidade ao humor conjugal, a intimidade expressada entre o doador e o recipiente aumenta, assim como a natureza confidencial do intercâmbio.



            Outra analogia é a do juiz. A maioria das pessoas vê um juiz com respeito, reverência e temor. O colega de um juiz, que também é um juiz, vê o juiz como um amigo. Os dois compartilham mutuamente certo amor e respeito em um intercâmbio de amizade. Quando o juiz vai para casa, ele troca seu papel de juiz pelo de esposo e pai. Ele ajuda sua esposa a lavar os pratos e brinca de “upa cavalinho” no chão com seus netos, em um humor muito amoroso. A intimidade do amor impulsiona o relacionamento para além das barreiras da formalidade. Ele vai além do egoísmo e produz um intenso dar e receber de natureza mais pessoal.



            O reino espiritual é um plano de intimidade, de compartilhamento profundo, e de ausência de egoísmo. Assim como vivenciamos relacionamentos aqui; uma vez de volta ao plano espiritual, nossos relacionamentos serão similares, mas serão focados em Deus. No mundo material, somos todos constantemente movidos pela luxúria, a qual está literalmente forçando nossas ações e cobrindo grande parte de nossas atividades com cobiça. No reino espiritual, por estarmos em contato com a Personalidade Suprema, todas as nossas ações continuam sendo dirigidas, mas elas estão sendo inspiradas pelo amor. Há um gigantesco amor incondicional, tão poderoso que somos mergulhados nele, realizando-nos plenamente como almas espirituais puras.



            O relacionamento de amor intenso entre uma mãe, um pai e uma criança que vemos na Terra é possível somente porque existe no mundo espiritual, no plano da perfeição. O relacionamento material é um reflexo do espiritual. No mundo espiritual, nós agimos como pai, mãe ou amigo de Deus. Nós também podemos ter um relacionamento conjugal com o Senhor, no humor de marido e mulher. Todos esses relacionamentos são possíveis. Cada um de nós tem um relacionamento próprio específico. Uma vez de volta ao lar, este nosso relacionamento será plenamente manifesto. Este tipo de interação pessoal produz uma incrível e quase inconcebível sensação de êxtase, que aumenta conforme prestamos serviço ao Senhor Supremo e Seus associados. Quanto mais servimos Deus, mais Ele nos serve, nos encorajando a servir mais. Dessa forma, a reciprocidade sublime continua. Esta informação é muitíssimo confidencial. Para aqueles que não são comprometidos com um estilo de vida espiritual, descrições deste estado mais elevado são reveladas o mínimo possível. Conforme o desejo de uma pessoa por conhecer a verdade absoluta aumenta, mais conhecimento é revelado.



            Serviço é o êxtase mais elevado. O serviço pode se estender a um ponto no qual a pessoa considera que as sensações de êxtase estão interferindo em seu serviço. Este sintoma ocorre no mais elevado dos relacionamentos amorosos. A experiência de bem-aventurança no mundo espiritual é tão intensa que falar é como cantar, e andar é como dançar. Cada objeto no reino espiritual é vivo e possui personalidade. Há árvores que satisfazem qualquer desejo que você possa ter. Seus desejos, é claro, estão centrados no prazer de Deus; seus desejos não são apenas seus, mas também são dEle. E isto lhe dá ainda mais prazer. No reino espiritual, não existe morte, não existe doença, não existe velhice; essas ocorrências são todas parte deste mundo temporário de dor e limitações.



            Podemos subir aos reinos celestiais muitas e muitas vezes, e desfrutar deles por milhares de anos, e ainda assim cairemos inevitavelmente. Podemos progredir até o ponto da liberação centenas e milhares de vezes, mas, até desenvolvermos liberdade da inveja e obtermos ajuda dos embaixadores do reino espiritual, não existe possibilidade de progresso tangível. O reino espiritual não pode ser alcançado por mérito próprio. No entanto, uma pessoa pode ter suficiente mérito e um desejo forte o suficiente para atrair um dos ajudantes necessários para guiá-la até o verdadeiro reino de Deus.



            Contato com um agente do Senhor do plano transcendental é uma experiência deveras incomum, visto que a maioria das almas simplesmente se enreda mais ainda nas ações e reações da vida material. Para ter uma oportunidade de quebrar o ciclo, é necessário um enorme volume de créditos piedosos adquiridos anteriormente em vidas passadas. O que de fato ocorre quando alguém consegue encontrar-se com um agente transcendental, ou mestre espiritual? Neste momento de grande fortuna, a pessoa recebe a oportunidade de compreender como escapar desta existência material e vivenciar as atividades do mundo espiritual. Nós devemos avidamente ouvir e seguir as instruções de tais agentes do Senhor dotados de poder.



A Satisfação no Intercâmbio Pessoal



            Nossos desejos nos trazem o que é necessário para o nosso crescimento. Tudo o que vivenciamos se baseia em nossos desejos, e nossos desejos se baseiam nos tipos de associação que mantemos e no tipo de vibrações que absorvemos. Se nos cercarmos de pessoas e atividades de vibrações superiores, a verdade naturalmente fará seu efeito. Este efeito irá variar de acordo com o grau de inveja que tivermos em nosso coração. Nós podemos ter intercâmbios pessoais com Deus, mesmo neste corpo. Quando isto acontece, o corpo físico não consegue suportar as experiências adequadamente. Existe toda uma ciência do êxtase que uma pessoa experimenta quando o amor por Deus de fato desperta. Por exemplo, há momentos em que se perde a consciência externa. Há momentos em que o corpo começa a sentir tamanha felicidade e amor em contato com o Reservatório do Amor que os membros começam a se retrair, como os de uma tartaruga.



            Uma pessoa que está começando a ter tais experiências, e está começando a ter uma consciência do passado, presente e futuro, e de outras dimensões, não revela tais sintomas, mas os mantém em segredo. As experiências são como “um barato” permanente e muito intenso, mas que é difícil de se compartilhar. Mesmo a experiência de entrar em contato com a energia universal é insignificante em comparação com a associação com o mundo espiritual em si. A experiência da unidade de consciência cósmica é como dor comparada à experiência das atividades transcendentais no plano espiritual. Poder-se-ia dizer que é como procurar por cacos de vidro em uma mina de diamantes.    



            Agora essas experiências podem soar muito incomuns. Isto acontece porque elas são incomuns. Elas estão vindo de outros planos. Apesar de poderem soar muito estranhas, há uma certa verdade que muitos reconhecem. Certa parte de nosso ser conhece intuitivamente essas verdades, e ouvi-las agora evoca certas emoções. Aqueles entre vocês que encontraram o conceito de se fundir com Deus e não se sentiram confortáveis com sua meta última de perda de identidade agora sabem o motivo. Este conceito é artificial. Todos nós temos identidade, moldada à imagem de Deus, e estamos consciente ou inconscientemente lutando para alcançar a perfeição desta identidade.



            Em experiências espirituais muito avançadas de diferentes tradições, encontramos referências à “noiva de Deus” ou a intercâmbios pessoais com o Senhor. Em tempos antigos, houve aqueles envolvidos na cristandade mística que falaram sobre ouvir Deus. Eles não estavam imaginando. Porque estavam livres de todos os obstáculos, eles conseguiam ser naturais. É natural conseguir se comunicar com o Pai. Toda esta discussão é simplesmente para ajudar-nos a obter uma maior compreensão de que existem níveis mais profundos que podemos buscar. Certas sementes foram plantadas para ajudá-los a gradualmente revitalizar sua consciência adormecida.





Este artigo é um excerto da obra Guerreiro Espiritual I: Desvelando Verdades Espirituais em Fenômenos Psíquicos
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