quarta-feira, 19 de outubro de 2011

evento - artigo - Chão de letras: as literaturas e a experiência da escrita

No próximo sábado, 22 de outubro, a Editora UFMG lança, em Belo Horizonte, o livro Chão de letras: as literaturas e a experiência da escrita, da professora da Faculdade de Letras da UFMG,Lucia Castello Branco. O evento acontece na Quixote Livraria e Café, das 11 às 15 horas.
(rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)



Livro: Chão de letras: as literaturas e a experiência da escrita
De Lucia Castello Branco
Editora UFMG
242 páginas





Ideias sobre ‘ESCREVIVER’

Em livro da Editora UFMG, Lucia Castello Branco discute o conceito de letra em literatura e a experiência da escrita

Jornalista Itamar Rigueira Jr.

Para que servem as letras? Para compor palavras, é certo. E para que mais? Lucia Castello Branco, professora da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG, tenta responder a essa pergunta no livro Chão de letras: as literaturas e a experiência da escrita (Editora UFMG), que será lançado esta semana em Belo Horizonte. A obra reproduz tese apresentada em 2008 no concurso para professor titular, reunindo textos inéditos e outros produzidos ao longo de vários anos.

Lucia se inspira e apoia em Manoel de Barros, Clarice Lispector, Maria Gabriela Llansol, Marguerite Duras, Sigmund Freud, Jacques Lacan, Maurice Blanchot e Roland Barthes para especular também sobre o que significa pensar a literatura pelo viés da experiência e não da história da própria literatura. Não por acaso ela nomeia um dos textos do livro com o neologismo “escreviver”.

“Interessa-me a singularidade da vivência de cada um. A experiência da escrita é por si só fundadora”, afirma a autora. “Como disse a teórica portuguesa Silvina Rodrigues Lopes, a grande experiência do homem não é a da linguagem, mas a da escrita. E, como toda experiência, pela própria definição, deve ser arriscada”.

O livro reflete, de acordo com Lucia Castello Branco, uma preocupação relativamente recente de apurar o conceito de letra no campo da literatura. Ela lembra que a letra sempre foi um conceito para a matemática, para a psicanálise e, de certa forma, para as artes plásticas. E não para o campo das letras, como ocorre com palavra, narrativa, significante.

Intrigava a autora que os teóricos da literatura não tratassem desse tema, com exceção de Maurice Blanchot e Roland Barthes. “A letra, como conceito, fica na borda entre o simbólico, que pode ser transmitido, e o real, aquilo que escapa do simbólico, e que não se diz”, reflete a autora.

Antes e depois de Llansol

Além dos filhos, Lucia Castello Branco dedica Chão de letras à escritora portuguesa Maria Gabriella Llansol. Na obra, no pensamento e na personalidade da autora de Um beijo dado mais tarde, Lucia encontrou inspiração e motivação para “uma nova forma de escrita”. Sua experiência como escritora e professora divide-se, revela, entre antes e depois de conhecer Llansol – literária e pessoalmente.

Se os textos téoricos eram poéticos demais, e dar aulas estava “sufocante”, Lucia descobriu a possibilidade de escrever e ensinar com eficácia e prazer. “Ela me transmitiu isso, uma liberdade e uma mistura que o meu texto – o teórico e o poético – sempre pediu. Além disso, sua escrita está sempre no limite, ela não se deixa banalizar”, conta a pesquisadora, que conheceu Maria Gabriela Llansol no início dos anos 90, em Portugal. Reclusa, a escritora concordou em dar uma entrevista a Lucia, e elas se corresponderam ainda por 16 anos, até a morte da autora portuguesa, em 2008. Em disciplina optativa sobre ela na graduação da Fale, Lucia vez por outra lê trechos de uma das 26 cartas de Llansol que tem em seu poder e que pretende publicar em livro um dia.

Em Chão de letras, Lucia Castello Branco argumenta também que a tarefa de lidar com um texto literário é delicada e séria. Ela diz que muitas vezes o leitor age com avidez, esquecendo que “o texto é um corpo com suas próprias leis, e nele há lugares que devem permanecer fechados”. É nesse sentido que ela pede delicadeza. Quanto à seriedade da tarefa, trata-se de lembrar sempre que “a leitura pode elevar ou degradar o objeto”.

Mas se o livro é guiado por questões como a do conceito de letra e a da experiência singular da literatura, a autora afirma também um desejo a motivar a obra, como deve sempre acontecer: “Quero deixar a escrita me levar. Não é de um saber consciente que se trata, não há um esquema, nem em literatura, nem em teoria. A própria escrita faz uma operação ao longo do processo, e me submeto a ela”.


LANÇAMENTO DA

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