sábado, 5 de março de 2011

EVOÉ



EVOÉ
Carnaval em Madureira, 1924 - Tarsila do Amaral.

CARNAVAL CARIOCA
(...)
Eu mesmo... Eu mesmo, Carnaval...
Eu te levava uns olhos novos
Pra serem lapidados em mil sensações bonitas,
Meus lábios murmurejando de comoção assustada
Haviam de ter puríssimo destino...
É que sou poeta
E na banalidade larga dos meus cantos
Fundir-se-ão de mãos dadas alegrias e tristuras, bens e males,
Todas as coisas finitas
Em rondas aladas sobrenaturais.
Ânsia heróica dos meus sentidos
Pra acordar o segredo de seres e coisas.
Eu colho nos dedos as rédeas que param o infrene das vidas,
Sou o compasso que une todos os compassos,
E com a magia dos meus versos
Criando ambientes longínquos e piedosos
Transporto em realidades superiores
A mesquinhez da realidade.
Eu bailo em poemas, multicolorido!
Palhaço! Mago! Louco! Juiz! Criancinha!
Sou dançarino brasileiro!
Sou dançarino e danço! E nos meus passos conscientes
Glorifico a verdade das coisas existentes
Fixando os ecos e as miragens.
Sou um tupi tangendo um alaúde
E a trágica mixórdia dos fenômenos terrestres
Eu celestizo em eurritmias soberanas,
Ôh encantamento da Poesia imortal!...
Onde que andou minha missão de poeta, Carnaval?
Puxou-me a ventania,
Segundo círculo do Inferno,
Rajadas de confetes
Hálitos diabólicos perfumes
Fazendo relar pelo corpo da gente
Semiramis Marília Helena Cleópatra e Francesca.
Milhares de Julietas!
Domitilas fantasiadas de cow-girls,
Isoldas de pijama bem francesas,
Alzacianas portuguesas holandesas
Geografia
Êh liberdade! Pagodeira grossa! É bom gozar!
Levou a breca o destino do poeta,
Barreei meus lábios com o carmim doce dos dela...
(...)
Carnaval ... Porém nunca tive intenção de escrever sobre ti... Morreu o poeta e um gramofone escravo Arranhou discos de sensações...

(MARIO DE ANDRADE - Poesias completas. São Paulo & Belo Horizonte: Martins & Itatiaia, 1980.)

EM ATENÇÃO AO CARNAVAL
peço socorro a outro mestre poeta -
ASCENSO FERREIRA

FILOSOFIA
A José Pereira de Araújo - "Doutorzinho de Escada"

Hora de comer, - comer!
Hora de dormir, - dormir!
Hora de vadiar, - vadiar!

Hora de trabalhar?
-Pernas pro ar que ninguem é de ferro!

Voltaremos as postagens normais passado o tríduo momesmo, mas sempre buscando melhorar com mudanças editoriais que facilitem nossos leitores e
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Eduardo Cruz

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