Van Rijn
de Sarah Emily Miano
447 pag
Por meio de duas perspectivas narrativas "uma a partir do próprio diário de Van Rijn Rembrandt, e outra do ponto de vista do jovem editor Pieter Blaeu" Sarah Emily Miano apresenta a história desse grande pintor obscuro, mostrando sua rotina de criação, suas manias e, principalmente, sua relação com a arte.
Quando Pieter conhece uma poeta chamada Clara, cujo interesse por Rembrandt se iguala ao dele, uma história de amor tem início ao tentarem desvelar e compreender o misterioso homem - da ascensão à fama e riqueza até o declínio de popularidade e a pobreza. Não por acaso era o grande mestre na arte de revelar e ocultar.
Uma aula histórica, em que o leitor pode aprender acerca de várias personalidades artísticas e políticas da época. É notável a técnica da autora em descrever o processo criativo do pintor. Outra característica marcante do livro é o modo como Sarah aborda as paisagens, pois a todo instante o leitor tem a impressão de que um quadro está sendo descrito.
Escrito com intensa força imaginativa, Van Rijn não apenas dá vida ao mais misterioso de todos os pintores, mas também ao extraordinário e encantado mundo da Amsterdã do século XVII. Romance esplendidamente cativante e sugestivo, de uma autora que se encontra no seleto grupo dos novos e brilhantes talentos.
REMBRANDT HARRNENSZOON VAN RIJN, pintor e gravador holandês, nasceu no dia 15 de julho 1606, em Leyden. Famosoáe rico aos trinta anos, morreu incompreendido e na miséria aos 63. Em seu testamento deixou "algumas roupas de linho ou lã minhas coisas de pintor" e os quadros que marcaram um dos pontos culminantes na história da pintura.
Dono de um moinho à beira do rio Reno, seu pai, Harmen Gerritz, foi um homem pobre. Seu tempo era dedicado ao trabalho, à mulher - Neeltgen van Zuytbrouck -, aos cinco filhos e ao rio Reno, que se chama em holandês Rijn. Amou o rio, incorporou seu nome e passou a assinar. Harmen Gerritz van Rijn. Em casa, todos moíam o grão, só o quinto filho gostava mais de pintar do que moer e não queria deixar a escola. Fazendo sacrifícios, o pai Harmen matriculou Rembrandt na Universidade de Leyden, mas n ao conseguiu mantê-lo ali mais que nove meses.
Aos quinze anos Rembrandt larga a universidade, mas Van Swanenburgh não permite que largue a pintura. Jacob Isaaksz van Swanenburgh ensina as técnicas básicas, o preparo das tintas, a montagem das telas, a disciplina do desenho. Em 1623, a conselho do professor, Rembrandt vai para Amsterdam, a fim de "alargar os horizontes". Passa quase quatro anos freqüentando o atelier do pintor romanista Pieter Lastman, a primeira grande influência sobre a arte do moço Rembrandt. Lastman era um pintor da moda, formado na Itália. Desenvolvia no aluno o gosto pelos efeitos violentos e dramáticos, e o amor pela representação de enfeites, jóias e tecidos.
Desprezado pelos contemporâneos, chegou - por isso mesmo - à imortalidade.
Em 1627 Rembrandt volta a Leyden e instala seu próprio atelier, com Jan Lievens. No ano seguinte chama Gerard Dou - um menino de catorze anos - para trabalhar com eles. As primeiras águas-fortes são desta época.
O atelier vai muito bem, com encomendas particulares. Bock, o comerciante de arte, oferece um contrato vantajoso e Rembrandt resolve instalar-se em Amsterdam, em 1631. Um ano depois já é pintor famoso, um dos mais caros e procurados da cidade. Retrata os ricos e bem-sucedidos burgueses, pois pertence à moda enfeitar com o próprio retrato a parede da sala. Se o retrato é assinado por Rembrandt, aumenta o respeito pelo retratado.
É em 1632 que pinta um dos seus quadros mais famosos: A Lição de Anatomia do Doutor Tulp, que faz imediato sucesso e provoca dezenas de encomendas de retratos em grupo.
1634 é importantíssimo na vida do pintor. Neste ano atinge o auge da fama e prosperidade. No mesmo ano casa-se com Saskia van Uylenburgh - jovem, bonita, de boa família. Freqüenta a melhor sociedade e traz um bom dote. Instalam-se numa enorme casa na Jodenbreestraat, que transformam em centro de reunião social e em museu de objetos raros, móveis antigos, louças preciosas, tecidos caros e jóias belíssimas. O antigo e o modemo conseguem conviver naquela casa.
Seu atelier é um dos maiores da Europa e o mais famoso. Tem muitos alunos (entre eles Bol, Koninck, Flinck) e uma clientela tão entusiasmada como rica.
Essa tranqüilidade é perturbada pela morte precoce dos filhos. De quatro, três falecem antes de um ano; apenas o quarto, Tito, atingirá a idade adulta. Por fim, em 1642, morre-lhe a esposa, Saskia.
1642: ano do primeiro fracasso. Um quadro que fizera por encomenda - A Mudança de Guarda da Companhia
do Capitão Frans Bonninck Cocs, hoje conhecido como A Ronda Noturna - é recusado pelo capitão porque, em primeiro lugar, "encomendara o seu retrato e não o retrato da Companhia"; em segundo lugar, porque aquela não era uma cena de mudança de guarda e sim "o cenário de uma ópera-bufa"; e, em terceiro lugar, porque o preço era "muito alto". Os debates prejudicam Rembrandt. É acusado de pintar o que lhe agradasse.
Isto era verdade. Os burgueses esperavam ver as paredes de suas casas cobertas por quadros que retratassem o dono da casa, a dona da casa, os filhos, os criados, as roupas, os objetos de uso, os móveis, os animais de estimação, até a comida - como se a imagem pudesse perpetuá-los e preservar para sempre os seus haveres. Enquanto os clientes queriam retratos e não críticas, imagens do rosto e do corpo e não análises de suas almas, Rembrandt retratava o que queria, o que ele via e sentia. E entre centenas de retratos, pintados nos anos de 1630 a 1645, Rembrandt chegou inclusive a pintar auto-retratos - como se alguém comprasse o retrato de outro homem - e os retratos dos rabinos da rua onde morava - como se alguém comprasse o retrato de um judeu. No entanto, de tempos em tempos, Rembrandt sentava-se diante do espelho e - num exercício de estilo e investigação - retratava-se, procurando nos olhos e na boca o sinal do tempo, da paixão, da vida. Em seu próprio rosto, ele retratava principalmente a passagem do tempo e das dificuldades do dia-a-dia.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Van Rijn
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