Galeria Aecio Sarti
inaugura galeria
com a exposição
“O Muro da Minha Rua”
na Rua Harmonia 293 – Vila Madalena
Galeria estará focada no trabalho do artista plástico Aecio Sarti,
que vive e trabalha em Paraty e utiliza lona reciclada como base para suas pinturas.
O artista plástico Aecio Sarti trabalha a partir da reutilização de material bem conhecido: a lona que cobre os caminhões de carga. Ao criar figuras humanas na própria tessitura da lona, que oferece rico processo de reaproveitamento, o artista se vale da memória material que o encerado carrega em sua função protetora.
Ele vive e trabalha em Paraty há 6 anos, onde pinta à beira do cais com as portas de seu ateliê abertas. Esta proximidade com o público, proporcionada por um artista que retrata em sua obra muitas das pessoas que cruzam o seu destino, foi decisiva para que Carolina Coutinho o conhecesse e decidisse trocar o mercado financeiro pelo mercado das artes.
Estreando como marchand do artista, Carolina Coutinho abre a Galeria Aecio Sarti, dia 19 de outubro, com a exposição inédita “O Muro da Minha Rua”. São 15 trabalhos inspirados na estória emocionante de Fernando dos Santos, que os convidados irão conhecer na data da abertura.
Aecio coloca-se no papel deste menino simples para levar para a tela a sua visão infantil e poética da vida e ainda presta uma homenagem especial a duas mulheres que inspiram o seu trabalho: Cesarina Riso, que abriu a sua maravilhosa Galeria Villa Riso, no Rio de Janeiro, com uma exposição do artista, e Daisy Justus, psicanalista e escritora autora do texto “Aecio Sarti, as lonas e as diferentes faces do amor”.
na Rua Harmonia 293 – Vila Madalena
horario de funcionamento
de 3ª a sexta das 10:00 as 20:00
sabados das 10:00 as 20:00
domingos das 13:00 as 17:00
Sobre o artista
Aecio Sarti nasceu em Aracajú no dia 24 de fevereiro de 1959. Autodidata, pintava sobre madeira e vendia seus trabalhos em feiras de arte. Aos dezesseis anos passou a estudar pintura na cidade de São José dos Campos com o Mestre Fabiano. Aos dezoito anos, em sua primeira exposição, foi considerado pintor revelação da região. Partiu para os Estados Unidos, onde estudou no Colorado Institute of Art, em Denver. De volta ao Brasil abandonou a sua arte, o que mais tarde resultou em um vazio profundo. Certo dia pela manhã, depois de ter sonhado que estava voando, viu seu filho pequeno pintando com a alegria e liberdade de um menino. Abriu sua caixa de tintas guardadas por quase vinte anos e pintou o quadro “Sonho de Liberdade”. Em 2002 passou a viver exclusivamente de sua arte. Um ano depois foi para a Espanha, onde expôs na Embaixada do Brasil, em Madri, depois em Santiago de Compostela, Pontevedra e outras cidades da Galícia. Foi premiado no salão “Integration Art Show”, em Miami. Vive em Paraty há 6 anos. Sempre em contato com os turistas que visitam a região, tem obras espalhadas em todo o mundo, como as telas enviadas recentemente para colecionadores de Washington D.C., Israel, Lisboa e Bali.
Aecio Sarti, as lonas e as diferentes faces do amor
Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Não mata. Clarice Lispector
O processo de criação se faz, em geral, a partir de um isolar-se, de um não-saber no sentido de abandono das certezas adquiridas e das verdades, de um deixar-se tomar por aquilo que surpreende, de uma falta de compromisso com qualquer coisa alheia ao desejo, ou melhor, ao inapreensível. E que, exatamente, por essa condição de inacessibilidade leva o artista a querer investigar e alcançar. Deste modo a arte é em sua quase totalidade atravessada pelo viés da transgressão, resultado da ação de Thanatos, potência criativa que subverte e transforma a ordem estabelecida. O trabalho do artista vem propor modificações as mais diversas, seja pela inovação, seja pela exploração de antigos materiais, na ousadia de sugestão a inusitados olhares, ou ainda na reedição de antigos temas.
A série de pinturas que Aecio Sarti ora nos apresenta é feita a partir da reutilização de material bem conhecido – a lona que cobre os caminhões de carga. Ao criar figuras humanas na própria tessitura da lona, que oferece rico processo de reaproveitamento, o artista se vale da memória material que o encerado carrega em sua função protetora.
Lonas que transportam paisagens internas criadas pela impiedosa ação do rigor de um uso constante e das variáveis do tempo, das marcas de nós atados, desatados e reatados, carimbos de histórias, registros táteis das diferentes pessoas que a manipularam trazendo a escritura de percursos, sucessos, acidentes e incidentes nas estradas, detalhados através de suas costuras, perfurações e remendos.
A lona traz agora o retrato de pessoas que, ao cruzarem outras estradas, são representações de novas histórias, de outros vínculos, de outros registros. A pele da lona depois de passar pelas mãos de Aécio nos oferece desenhos, imagens de amados e amantes, pinceladas que sugerem lágrimas e risos, gotas de dor e de amor, como deve ser, nos lembra Clarice Lispector, sentimentos traduzidos agora em cores de prazeres e de perdas, em superfície anteriormente molhada pela chuva e ressecada pelo calor do sol. Amarras de outros nós.
Múltiplas são as formas de afetividade e as configurações do desejo. Diversas são as modalidades da vida amorosa, desde os elos familiares, o amor à primeira vista até os vínculos sociais. O amor pode ser pautado em referências de fidelidade ou da multiplicidade sexual e afetiva, pode compor-se em cenário romântico, e ser atravessado tanto pela realização como pela ilusão amorosa. Ou ainda transcorrer em cenário pós-moderno, marcado pelo vazio das relações narcísicas. Aécio Sarti nos convida a ver em seus retratos quase inocentes as diferentes faces do amor. Retratos sem retoque, que conservam seus remendos, mas que assim mesmo têm seu requinte, porque nada disfarça o apuro do amor. Os personagens de suas telas falam de vínculos amorosos, através de suas figuras alongadas, tímidas por vezes, de gestos contidos em tons de suavidade, que remetem ao sonho em sua função de realização de desejo. Associações entre traços e imagens.
Uma pintura que, ao utilizar material tão específico, nos leva a questionar até mesmo a função da origem, ao lado da inserção da medida de transitoriedade do tempo. Com efeito, se a origem fosse o começo, não haveria possibilidade de inovações, de reutilizações. A origem é o que não se cessa de deduzir quando se atualiza um tempo de recomposição, de tal modo que ela se encontra produzida em um tempo reversivo. Sabemos que a cada vez que o “novo” se inscreve na vida, ou na obra de arte, simultaneamente, a origem se vê recomposta, nos autorizando a constituição de uma história que não é nem o passado nem o vivido.
A origem instiga nosso olhar para um conjunto de traços orientados por uma ficção e justamente pela condição de não ser concreta, como o é o começo, é que ela pode representar o ponto de retorno às fontes de toda a história. Um momento fora do tempo, inapreensível. Tempo da arte. Tempo do amor.
Neste clima de composição do ficcional, o olhar, a escuta, o toque, o sentir serão envolvidos pelo véu tecido pelas imagens nascidas da fusão complexa entre a imagem de si do próprio artista e a imagem de nós mesmos. Véu tecido também pelas representações simbólicas inconscientes que delimitam estritamente o quadro que envolve o laço amoroso.
Seja de que amor se trate, seja qual for a face que ele exiba, o amante só irá captar a realidade do amado através da lente transformadora da fantasia. E será mesmo deste lugar de amante que Aécio nos faz o convite para partilhar de sua fantasia, propondo-nos uma cumplicidade. Ao aceitá-la, ao tomá-la para nós mesmos, faremos nossa a sua fantasia, dela usufruiremos, para, quem sabe, assim realizarmos nossos próprios anseios.
Aécio veste seus amados e amantes com a roupa que o amor põe sobre os corpos, uma roupa que, da mesma forma que veste, deixa desnudo o amado quando o amante se vai. “Homens de gravata”, como ele mesmo gosta de chamar, mulheres vestidas de noiva, colares, brincos, flores, decotes, artefatos da sedução.
Paul Klee nos alertou que “a arte não reproduz o visível, ela faz visível”. Na sua pintura nos pedaços de lona Aecio Sarti faz visível o amor, a poesia, a fantasia. Um amor que ao mesmo tempo em que é fugidio por ser presente, tem todo tempo do mundo já que vem simbolicamente sustentado pela durabilidade do encerado, em sua gama de possibilidades. Aécio Sarti nos coloca diante do momento onde o olhar se traduz em laço amoroso, lugar do intervalo entre o eterno movimento de presença e ausência.
Talvez seja melhor deixar falar a própria arte. Reproduzimos as palavras do anjo Daniel em Asas do Desejo, filme do cineasta Win Wenders, diante de Marion, sua amada: “Foi somente o espanto de nós dois, o espanto diante do homem e da mulher, que fez de mim um ser humano”. Aecio Sarti soube ouvir os anjos.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
“O Muro da Minha Rua”
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