Mostra no Museu da Casa Brasileira (MCB) revela o arquiteto chefe de obra e suas técnicas inovadoras para a industrialização da arquitetura brasileira
Abertura: 20 de julho, às 19h30
Visitação: 21 de julho a 19 de setembro
O Museu da Casa Brasileira (MCB), instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura, abre no dia 20 de julho a mostra “A arquitetura de Lelé: fábrica e invenção”. Maquetes, fotografias, desenhos, filmes e animações em vídeo revelam a obra deste arquiteto comprometido com uma visão integral da arquitetura, diretamente ligada ao canteiro de obras e resultante da atuação interdisciplinar entre as equipes técnicas envolvidas nas etapas de construção.
Em mais de 50 anos de carreira, iniciada ao lado de Oscar Niemeyer e Darcy Ribeiro nos canteiros de obras de Brasília, João Filgueiras Lima, conhecido como Lelé*, foi um dos que mais longe levou as propostas do Movimento Moderno. Ele promoveu a melhoria das condições de vida em nossas cidades através de uma arquitetura produzida em série e eticamente comprometida com a construção de uma espacialidade adequada ao homem e ao ambiente em que está inserida.
A curadoria é de Max Risselada, arquiteto e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Tecnologia de Delft, da Holanda, que dá apoio à mostra. Curador de exposições em que se destacam grandes painéis cronológicos comparativos (historic wall), foi responsável pelas premiadas mostras da representação holandesa na 4° Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 2000 - “Além do Modernismo, três momentos da arquitetura holandesa do pós-guerra (1945-1999)” e “Adolf Loos e Le Corbusier: Raumplan versun Plan Libre”. A co-curadoria é de Giancarlo Latorraca, diretor Técnico do MCB e organizador do livro “João Filgueiras Lima – Lelé”, publicado em Lisboa (Editorial Blau/Instituto Lina Bo e P. M. Bardi, 2000).
“Apresentar a obra de Lelé é fundamental para o Museu da Casa Brasileira como instituição que se dedica às questões da arquitetura e do design, inerentes à construção do nosso habitat”, afirma Giancarlo Latorraca. “Seu apuro técnico e grande inventividade, ao propor soluções que evidenciam a possibilidade de melhoria da qualidade de vida através da arquitetura produzida em larga escala, pode atender às demandas de construção de infraestrutura coletiva nas dimensões do nosso país.”
A exposição inicia com um painel cronológico de suas centenas de obras, elucidando o processo de racionalização do canteiro presente na trajetória do arquiteto, em sua serie de fábricas implantadas ao logo dos anos. Em destaque na mostra os sistemas e tecnologias desenvolvidos para a construção de passarelas que marcam a paisagem da cidade de Salvador; hospitais e centros de reabilitação do aparelho locomotor; e a sede em vários cidades do Tribunal de Contas da União, construídas entre 1992 e 2009, na penúltima fábrica do arquiteto, a do Centro de Tecnologia da Rede Sarah (CTRS) – o nome Sarah é uma homenagem à esposa do presidente Juscelino Kubitschek.
Idealizada e criada inicialmente pelas conversas entre Lelé e o médico ortopedista Aloysio Campos da Paz, com a colaboração efetiva do economista Eduardo Kertész e do antropólogo Roberto Pinho, as unidades da Rede Sarah representam uma experiência pioneira em busca de um modelo hospitalar de atendimento público exemplar para tratamento do aparelho locomotor. Trata-se de uma solução de excelência, que atendeu inicialmente a região de Brasília e, depois, outras cidades do país.
No modelo inicial experimentado com muito sucesso em Brasília, em 1981, Lelé propôs enfermarias coletivas, maior mobilidade dos pacientes e solários para banhos de sol, como auxílio no tratamento. Para isso, foi criada uma cama-maca móvel, desenvolvida por um centro de design de mobiliário e produção de equipamentos hospitalares integrados à arquitetura proposta, o EquipHos.
A continuidade desta experiência se deu com a criação do CTRS em Salvador para a construção de outros hospitais, iniciando com a unidade local. Através de pesquisas para o uso de argamassa armada, metalurgia, marcenaria com aglomerados e compensados, e injeção de plástico, houve consequente refinamento tecnológico. Foram evoluindo os sistemas de ventilação e iluminação natural com os diferentes sheds desenvolvidos para as coberturas, dutos de captação de ar com refrigeração através de pulverização de água, e estabelecimento de sistemas mistos de ventilação adaptados aos locais de implantação das unidades.
O resultado é uma notável melhoria de qualidade no tratamento e cura dos pacientes, com significativa redução dos índices de contaminação hospitalar. Foram eliminados os sistemas fechados de ventilação através de condicionamento de ar tradicional, sem trocas diretas com o ambiente externo. O conforto ambiental proposto por Lelé, além dos jardins integrados, inclui intervenções de painéis, também produzidos em série, do artista Athos Bulcão, colaborador do arquiteto ao longo de sua carreira. Lelé une, como poucos, a tecnologia e o aspecto sensorial contribuindo para a humanização dos ambientes.
“O CTRS foi a experiência mais longa de um processo de fabricação unindo projeto e produção desenvolvido por Lelé. O centro esteve ativo de 1992 a 2009 e contou com a base dos conhecimentos tecnológicos adquiridos nas décadas anteriores”, constata o curador Max Risselada. “O arquiteto havia feito experiências anteriores com fábricas, embora por períodos mais curtos, nas quais depurou seu domínio sobre a argamassa armada”.
Serão apresentados hospitais, centros de reabilitação e postos de atendimento avançados construídos em Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro, Brasília, Macapá e Belém. Uma animação em vídeo mostra o projeto e a construção do hospital do Rio de Janeiro, inaugurado em maio de 2009, décima e última unidade da Rede Sarah. Trata-se de um complexo de 52.000 m² dedicado à reabilitação, para adultos e crianças com paralisia cerebral, e patologias ligadas à medicina do aparelho locomotor.
Também estão em exibição as sedes em Salvador, Aracajú, Cuiabá, Teresina, Vitória e Belo Horizonte do Tribunal de Contas da União e a do Tribunal Regional Eleitoral, da Bahia, projetos resultantes da tecnologia e dos sistemas desenvolvidos, entre 1992 e 2009, no CTRS.
As passarelas, construídas no período de funcionamento da Fábrica de Equipamentos Comunitários (FAEC, 1985-1989), em Salvador, foram aprimoradas tecnicamente já na fábrica do CTRS. São equipamentos de infraestrutura urbana fundamentais para a cidade, estabelecendo a conexão entre as encostas por sobre as tradicionais avenidas de fundo de vale, muitas vezes conectadas a paradas e terminais de ônibus ou também junto ao acesso de edifícios de intenso uso público. A flexibilidade do sistema projetado, com utilização de cobertura e elementos de argamassa armada associados a uma treliça metálica, são hoje marca registrada da cidade de Salvador.
Atualmente, Lelé preside o recém-lançado Instituto Brasileiro de Tecnologia do Habitat (IBTH), com sede em Salvador, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. O primeiro projeto já está na prancheta: o Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região da Bahia. São 100 mil m2 de construção. A ideia é criar um centro de pesquisas como o CTRS para fazer pesquisas, principalmente com pré-fabricados de argamassa armada.
João da Gama Filgueiras Lima, Lelé, nasceu em 10 de janeiro de 1932, no Rio de Janeiro. Formou-se em 1955 pela Escola de Belas Artes (RJ).
*Apelido adotado na juventude por jogar futebol na posição de meia direita, a mesma posição de Lelé, então um conhecido jogador do Vasco da Gama.
Patrocínio: Usiminas
Serviço
Exposição: “A arquitetura de Lelé: fábrica e invenção”
Abertura: 20 de julho, às 19h30
Visitação: 21 de julho a 19 de setembro, de terça a domingo, das 10h às 18h
Local: Museu da Casa Brasileira
Endereço: Av. Faria Lima, 2705 - Jardim Paulistano Tel. 3032-3727
Ingresso: R$ 4,00 - Estudantes: R$ 2,00 – Gratuito domingos e feriados
Acesso a portadores de deficiência física.
Visitas orientadas: 3032-2564 agendamento@mcb.org.br
Site: www.mcb.org.br
Estacionamento: de terça a sábado até 30 min. grátis, até 2 horas R$ 8,00, demais horas R$ 2,00. Domingo: preço único de R$ 12,00.
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