domingo, 18 de abril de 2010

LITERATURA POLICIAL


UM TIRO NO PEDANTISMO INTELECTUAL

"Não há nada que antes não tenha sido outra coisa, pensava Mma Ramotswe."
(personagem de Alexander McCall Smith,
a única mulher detetive particular em toda Botsuana)

Antes que alguém já saia torcendo o nariz para o tema, mais nos compensa repensar o quanto esse crime compensa. Se para alguns de nossos intelectuais os romances policiais estariam fadados a carregar eternamente o rótulo de subliteratura, para a maioria de intelectuais e escritores, tal colocação não passa de claro preconceito criado a partir de uma outra grande distorção - a de que toda a literatura que envolve crime e mistério é de baixa qualidade. A verdade é que tais intelectuais vivem de dar tiros no próprio pé, e esquecem que muitos de nossos autores clássicos produziram seus contos e romances de mistério, de inconteste qualidade e importância. São livros recheados com todos os elementos execrados pelos tão exigentes detratores. Nas tramas, o crime, os processos, as deduções e as investigações.

Não é preciso ter tanta acuidade de detetive para lembrar de Emile Zola que nos brindou com obras como "Tereza Raquim", "Germinal" e a "Besta Humana" que, certa feita, escreveu que "toda a obra de arte é um pedaço da natureza, visto através de um temperamento". Dessa forma, os elementos policialescos e os crimes em si, fazem parte de nosso dia-a-dia, uma realidade que, nem por ser trágica e incluir muitas vezes elementos repugnantes, deve ser ignorada pelo artista. Talvez seja por isso mesmo que no início do século passado, Enrico Ferri, psicólogo e criminalista, professor da Universidade de Roma e de Bruxelas, afirmou que "Besta Humana" e ainda "Crime e Castigo", de Dostoievsky eram, para a psicopatologia e para a antropologia criminal, "um meio de propaganda, mil vezes mas rápido que a observação estritamente erudita". Citando aqui Dostoievsky, lembramos que no universo da literatura russa, temos Leon Tolstoi que além de romances perfeitos como Anna Karenina e Guerra e Paz, escreveu contos de fina ironia e sátira onde a figura da lei era colocada em cheque. Basta conferir "O Custo Da Justiça".

LITERATURA POLICIAL
ONDE ENCONTRAR

Nas boas casas e livros do ramo, e mais aqui e ali e vez por outra tanta no acolá. Pode ser encontrada de diversas formas e, dificilmente, um leitor pode correr o risco de dizer que nunca leu esse tipo de livro. Segundo o escritor Ignácio de Loyola Brandão, o gênero policial pode ser encontrado até na Bíblia. Basta ler Caim e Abel. "Gosto e leio muitas histórias policiais e acho que, como todo o gênero, tem produções boas e más. Mas é um estilo extremamente fascinante e muito importante na formação de um escritor, pois com os bons policiais você aprende muito em relação à arte da narrativa. Na verdade, o que existe é um grande preconceito por parte dos falsos intelectuais que se postam contra a literatura policial. Meus autores prediletos no gênero são George Simenon, Raymond Chandler, Patrícia Highsmith e Agatha Christie”.

A Ediouro lançou um “catatau” especialíssimo organizado por Flávio Moreira da Costa - "Os 100 melhores contos de crime e mistério". Jornalista desde os 15 anos, o gaúcho Flávio Moreira da Costa foi crítico de cinema, música e literatura. Redator, editor e tradutor, tem hoje cerca de 30 livros publicados. Segundo ele , "o homem é o único animal que mata seu semelhante por razões que não sejam sua própria sobrevivência". Temos aqui uma ficção que beira a realidade, tratando de um assunto por demais comentado em nossos dias, sobretudo devido à crescente globalização do crime. Os textos registram uma faceta da humanidade sempre presente e cada vez mais visível e ameaçadora. A antologia, organizada com brilhantismo, pode ser considerada a mais completa da literatura de crime e mistério até hoje publicada no país. A primeira história da coletânea é do Antigo Testamento - A história de Sansão, depois passamos por Sófocles - Édipo Rei. Mil e uma noites, Perrault, Voltaire, Honoré de Balzac, Robert Louis Stevenson, Apollinaire, Guy de Maupassant, Kafka, Dickens, Edgard Allan Poe...

UM REINADO DE RAINHAS E DETETIVES

Agatha Christie é certamente a mais conhecida escritora de romances policiais. É chamada de a Rainha do Crime, mas o que na verdade intriga a muitos é como uma mulher, saída da era vitoriana,conseguiu criar tramas e enredos tão verossímeis, e ao mesmo tempo, construir histórias passíveis de serem consideradas crimes perfeitos. Com seus mais de 80 livros publicados, incluindo romances, contos, peças e até obras a quatro mãos, ela é uma das autoras mais traduzidas em todo o mundo e o maior sucesso do teatro inglês depois de Shakespeare. Durante um certo período de sua carreira, tentando livrar-se do rótulo de escritora de livros policiais e indo de encontro aos seus críticos ferrenhos que a acusavam de reles comerciante, Agatha escreveu uma série de romances utilizando-se do pseudônimo literário de Mary Westmacott. Mas, mesmo assim, não conseguiu evitar de permear essas histórias com certa dose de suspense. Por certo não figuram na obra Hercule Poirot ou Miss Marple, seus mais famosos detetives. Mas, com certeza, foi Dame Agatha que abriu as portas para várias outras escritoras de mistério.

Mulheres como P. D. James, na verdade Phyllis Doroty James, que nasceu em Oxford, Inglaterra, em 1920. Trabalhou no Serviço Nacional de Saúde, no Serviço de Ciência Forense e no Departamento de Lei Criminal, onde aprendeu "coisas úteis" para seus livros. Iniciou sua carreira literária aos 42 anos, com a publicação de "Over her face", seguido por mais treze romances que consolidaram sua reputação como uma das principais escritoras de livros policiais da atualidade. Em 1991, recebeu da rainha Elizabeth o título de Baronesa James of Holland Park. Seu mais importante livro, que foi relançado no Brasil pela Cia das Letras é "A morte de um perito".










UM LANÇAMENTO

O CRÂNIO SOB A PELE
de P. D. James


Páginas
440

Cordelia Gray, a jovem e inexperiente detetive que herda uma agência de investigação após o suicídio do chefe, apareceu pela primeira vez na obra de P. D. James em 1972, no romance Trabalho impróprio para uma mulher. Dez anos depois, a autora voltou à personagem neste eletrizante O crânio sob a pele.

O primeiro caso de Cordelia à frente da Agência Pryde parece simples. Uma atriz de teatro vem sendo ameaçada de morte, e a detetive particular precisa descobrir quem está por trás das cartas anônimas. A investigação acontecerá na ilha de Courcy, ao largo da costa inglesa de Dorset, num castelo medieval que servirá de palco para a montagem de A condessa de Malfi, de John Webster. Clarissa Lisle, mesmo sob ameaça de morte, vai protagonizar o drama, e Cordelia viajará com ela em missão tripla: acompanhante, investigadora e guarda-costas.

Em pouco tempo, no entanto, a missão se complica. Um assassinato brutal acontece nos domínios do castelo, e a pretensa arma do crime, extraviada da extensa coleção de arte mortuária que decora as paredes do lugar, é um braço de bebê reproduzido em mármore. O pequeno grupo ali reunido, inclusive Cordelia, se torna suspeito do crime.

Ao mesmo tempo em que tem de responder ao inquérito da polícia, que logo chega à ilha para dar início à investigação, Cordelia segue por conta própria as pistas que levam à identidade e às reais motivações do assassino. Entre os convivas do fatídico fim de semana - um crítico teatral à beira da morte, uma prima distante e invejosa, uma governanta amargurada, um adolescente rejeitado, um marido indiferente, e um dândi fissurado em objetos fúnebres -, motivos para o crime não faltam.

Conforme as pistas vão sendo apresentadas, a trama se fecha cada vez mais sobre o tema da morte, que se mostra até mesmo anterior ao crime. Se de um lado há o medo generalizado de morrer - bem representado pela citação de T. S. Eliot que dá título ao livro: "Webster, de tão possuído pela morte/ Percebia o crânio sob a pele" -, há também o ponto de vista inverso, representado pelo fascínio de um colecionador de relíquias mortuárias. Nessa atmosfera, seria fácil concluir que "todos são capazes de matar", mas Cordelia se aferra às evidências físicas do crime para encontrar o assassino.

Como os grandes clássicos de P. D. James, O crânio sob a pele exibe uma trama de complexidade excepcional, num gênero muitas vezes marcado pela divisão simplista entre bem e mal.

A CRÍTICA
"Ricamente intricado e literário, O crânio sob a pele mostra P. D. James no auge de seu poder de contar histórias." - San Francisco Chronicle

UM LANÇAMENTO






Mas outras mulheres passaram a dominar a cena. Mulheres fortes e decididas como Patrícia Highsmith, que com o seu talentoso Mr. Ripley subverteu a idéia do criminoso ser sempre capturado. Ou ainda escritoras cuidadosas como Mary Higgins Clark (publicada pela Record) com tramas urdidas como um bom tricot. E ainda mulheres exóticas, de lugares distantes como a Nova Zelândia, a senhora Ngaio Marsh. A lista é intensa e imensa - Sara Paretsky, (Ed.Rocco), Ruth Rendell (Ed.Rocco), Lyza Cody,l Lillian O’Donnell, Patrícia Cornwell (Cia das Letras), ou ainda Antonia Fraser que além de ser autora de romances policiais é historiadora e muitas outras mais.

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