terça-feira, 25 de agosto de 2009

O PROJETO LAZARUS



O PROJETO LAZARUS




Aleksandar Hemon


Tradução:Maira Parula


Páginas:304




"O projeto Lazarus é uma crônica notável sobre perda, desesperança e crueldade impulsionada por um eloquente incômodo existencial. É cheio de humor e de piadas. E é, ao mesmo tempo, inexplicavelmente triste."
The New York Times



O primeiro livro do bósnio Aleksandar Hemon, o premiado E o Bruno?, lançado em 2000, deu ao autor uma boa dose de intimidade para tratar os anseios do homem em uma situação de exílio forçado. O segundo, As fantasias de Pronek, carimbou-o como um especialista no tema: a partir de um dos personagens do livro anterior, o alter ego Josef Pronek, Hemon contou os desencontros de um refugiado da Guerra da Bósnia em um país sedutor como os EUA, e o autor foi comparado a Joseph Conrad e a Vladimir Nabokov. Neste terceiro livro, O projeto Lazarus, Hemon confirma seu talento para escrever sobre as dores acidentais. A obra é uma corajosa continuação da sua visão sobre a decadência do imigrante no mundo pós-moderno – “Lar é o local que só descobrimos a distância”, escreve.
Escolhido pela New Yorker como melhor ficção de 2008 e finalista do National Book Award, O projeto Lazarus narra a história de Vladimir Brik, um escritor bósnio atormentado pela crise de identidade que a condição de imigrante lhe oferece. Desencantado pela vocação de escritor, pelo país natal e principalmente pela América – “(...) eu desperdiço meu voto, pago impostos de má vontade, compartilho minha vida com uma esposa americana e me esforço para não desejar uma morte bem dolorosa a um presidente idiota” –, Brik ganha uma bolsa que permite financiar a pesquisa para um novo livro, a história de Lazarus Averbuch, uma obsessão de Brik. Sobrevivente de um pogrom na Moldávia, em 1903, o jovem imigrante judeu fora assassinado friamente pela polícia de Chicago, em 1908, por sua ligação suspeita com os anarquistas.
A história de Lazarus é narrada em paralelo – o livro se alterna entre 1908 e 2004 em quase todos os capítulos. As pistas da trama policial são deixadas já na abertura: “O dia e o lugar são as únicas coisas de que tenho certeza: 2 de março de 1908, Chicago. Afora isso só restam as brumas da história e da dor, em que mergulho agora.” O leitor conhece Lazarus através dos depoimentos de sua irmã protetora, Olga, e das cartas que ela escreve à família.
Além das cartas de Olga, outro artifício narrativo de Hemon são os trechos de reportagens jornalísticas que usa para descrever a morte de Lazarus: “(...) o anarquista não pronunciou uma palavra. Ele lutou obstinadamente, seus lábios cruéis cerrados e os olhos demonstrando uma determinação terrível de ser vista. Ele morreu sem dizer uma imprecação, sem uma súplica ou oração.”
As referências ao personagem bíblico ressuscitado por Jesus Cristo, Lázaro, são exploradas por Hemon como pequenas charadas ao longo da trama: “Talvez (Lázaro) nunca tenha morrido de novo. Ele pode ainda estar por aí, ainda ressuscitado, completamente esquecido, exceto pelo fato de ser o coelhinho branco da cartola de Cristo”, diz Brik. Com a ironia refinada que as situações extremas permitem, o narrador permeia a obra de sarcasmo: “Rora em geral fumava um cigarro de filtro vermelho, bem superior à merda que nós fumávamos, que eram uns cigarros que por algum motivo sempre tinham o nome de algum rio da Iugoslávia propenso a transbordar na primavera.”
Aleksandar Hemon escreve a história a partir de um ponto de vista privilegiado. Assim como o narrador, Vladimir Brik (outro alter ego na sua bibliografia, depois de Josef Pronek), Hemon é também um imigrante bósnio que, de passagem por Chicago, viu-se impedido de voltar a Sarajevo por conta da eclosão da guerra, em 1992. É o próprio autor quem parece dizer aos seus leitores, pela voz de Brik: “O livro me transformaria em outra pessoa, de um jeito ou de outro: ou eu poderia obter o direito ao egocentrismo orgásmico (e o dinheiro necessário para tal) ou poderia adquirir a minha segurança moral pelos processos virtuosos da insegurança ou da autorrealização.”
Outros ingredientes fazem referência a sua própria vida: o fato de Brik escrever para um jornal (Hemon escreve para o periódico bósnio BH Dani), o de ter ganho uma bolsa para financiar o livro (Hemon ganhou o prêmio “Genius” da Fundação MacArthur), o de ser casado com uma americana e o de contar com um amigo de infância fotógrafo. Na trama, Brik vai à Bósnia, Ucrânia e Moldávia em busca de informações sobre o passado de Lazarus, acompanhado do amigo e fotógrafo Rora, responsável, aliás, pelas grandes sacadas de humor da narrativa. O mesmo se deu na vida real: para ilustrar O projeto Lazarus, Hemon convidou o fotógrafo Velibor Bozovic, amigo de longa data, para percorrer o Leste Europeu enquanto fazia pesquisas para o livro. O resultado da parceria são as belíssimas imagens de Sarajevo tomadas por Bozovic que acompanham a obra, junto às da Chicago Historical Society.
UM LANÇAMENTO

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