Vocabulário de Foucault
de Edgardo Castro
480 páginas
O LIVRO
Vocabulário de Foucault - Um percurso pelos seus temas, conceitos e autores, do argentino Edgardo Castro. Organizado em cerca de 300 verbetes minuciosamente pesquisados, o livro apresena e mapeia os principais temas do pensador francês. Há entradas para outros filósofos - Deleuze, Derrida, Descartes etc - mas também para assuntos como Democracia, Desejo, e Liberalismo, entre muitos outros.
UM TRECHO DO PREFÁCIO
“Guardadas as diferenças, poderíamos começar como Foucault no prefácio a Les mots et les choses e dizer que este livro nasceu de um texto de Borges. Foucault refere-se àquela enciclopédia chinesa onde aparece uma inquietante classificação dos animais: “(a) pertencentes ao Imperador, (b) embalsamados, (c) domesticados, (d) leitões, (e) sereias, (f) fabulosos, (g) cães em liberdade, (h) incluídos na presente lassificação, (i) que se agitam como loucos, (j) inumeráveis, (k) desenhados com um pincel muito fino de pelo de camelo, (l) et cetera, (m) que acabam de quebrar a bilha, (n) que de longe parecem moscas”.
Sempre, segundo Foucault, essa classificação provoca riso. Não pelo que nos pode sugerir o conteúdo de cada um de seus itens, mas pelo fato de que eles tenham sido ordenados alfabeticamente. O que nos faz rir é que no não lugar da linguagem se tenha podido justapor, como em um espaço comum, o que efetivamente carece de lugar comum. Provoca riso e inquietude a heterotopia que domina essa classificação. Supondo que os “inumeráveis”, os “fabulosos” ou os “et cetera” existam, na classificação de Borges, trata-se de ordenar “seres”; no Vocabulário de Foucault – Um percurso por seus temas, conceitos e autores, de ordenar “conceitos”. Mas, ainda que pareça que os “conceitos” estejam mais próximos das palavras e facilitem a operação, apesar disso, o perigo não é menor. De fato, este Vocabulário pode produzir o mesmo efeito que a classificação dos animais da enciclopédia chinesa; porque, claramente, tal como ela, poderia ser apenas o esforço para encontrar um lugar comum para o que parece não tê-lo. O próprio Foucault, com certa frequência, assinalou o caráter fragmentário e hipotético de seu trabalho, sua recusa em elaborar teorias acabadas, seu horror à totalidade. Seria, então, somente a pretensão de querer pôr ordem e limites a seu pensamento, recorrendo à simplicidade e finitude alfabéticas. Mais ainda, tentando ser simultaneamente breve e extenso, analítico, mas exaustivo, encerrando o universo do pensamento foucaultiano na enclausurada gramática de um dicionário, este Vocabulário não só provocaria o mesmo efeito que essa estranha classificação de animais, mas correria o risco de converter-se ele mesmo em uma enciclopédia chinesa. Porque, “notoriamente não há classificação do universo que não seja arbitrária e conjetural”. E nada nos assegura que, com o afã de ordenar, não venhamos a cair nessas autoimplicações (classificar os conteúdos mesmos da classificação; como Borges, “(h) incluídos na presente classificação”) que só os labirintos da linguagem permitem construir. E, finalmente, no pior dos casos, provocar somente riso, e, no melhor, também inquietude.
- Mas e se esse espaço comum existisse?
- Ah, bom, então, apresentar este Vocabulário se reduziria a dizer, de novo como Foucault: “Eu não escrevo para um público, escrevo para usuários, não para leitores”
QUEM É MICHEL FOUCAULT
Michel Foucault (Poitiers, 15 de outubro de 1926 — Paris, 25 de junho de 1984) foi importante filósofo e professor da cátedra de História dos Sistemas de Pensamento no Collège de France desde 1970 a 1984. Suas idéias notáveis envolvem o biopoder e a sociedade disciplinar, sendo seu pensamento influenciado por Nietzsche, Heidegger, Althusser e Canguilhem.
As obras, desde a História da Loucura até a História da sexualidade (a qual não pôde completar devido a sua morte) situam-se dentro de uma filosofia do conhecimento.
As teorias sobre o saber, o poder e o sujeito romperam com as concepções modernas destes termos, motivo pelo qual é considerado por certos autores, contrariando a própria opinião de si mesmo, um pós-moderno. Os primeiros trabalhos (História da Loucura, O Nascimento da Clínica, As Palavras e as Coisas, A Arqueologia do Saber) seguem uma linha pós-estruturalista, o que não impede que seja considerado geralmente como um estruturalista devido a obras posteriores como Vigiar e Punir e A História da Sexualidade. Além desses livros, são publicadas hoje em dia transcrições de seus cursos realizados no Collège de France e inúmeras entrevistas, que auxiliam na introdução ao pensamento deste autor.
Foucault trata principalmente do tema do poder, rompendo com as concepções clássicas deste termo. Para ele, o poder não pode ser localizado em uma instituição ou no Estado, o que tornaria impossível a "tomada de poder" proposta pelos marxistas. O poder não é considerado como algo que o indivíduo cede a um soberano (concepção contratual jurídico-política), mas sim como uma relação de forças. Ao ser relação, o poder está em todas as partes, uma pessoa está atravessada por relações de poder, não pode ser considerada independente delas. Para Foucault, o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades, práticas e subjetividades.
Para analisar o poder, Foucault estuda o poder disciplinar e o biopoder, e os dispositivos da loucura e da sexualidade. Para isto, em lugar de uma análise histórica, realiza uma genealogia, um estudo histórico que não busca uma origem única e causal, mas que se baseia no estudo das multiplicidades e das lutas. Também abriu novos campos no estudo da história e da epistemologia.
As criticas e análises feitas por Foucault (1979) são pertinentes principalmente em relação ao significado de categorias de análise como soberania; mecanismos de poder; efeitos de verdade, regras de poder; etc., categorias essas de fundamental importância para a análise e compreensão do funcionamento do Estado e dos problemas cotidianos do homem comum.
Foucault (1979) renega os modos tradicionais de analisar o poder e procura realizar suas análises não de forma dedutiva e sim indutiva, por isso passou a ter como objeto de análise não categorias superiores e abstratas de análise tal como questões do que é o poder, o que o origina e tantos outros elementos teóricos, voltando-se para elementos mais periféricos do sistema total, isto, é, passou-se a interessar-se pelos locais onde a lei é efetivada realmente. Hospitais psiquiátricos, forças policiais, etc, sãos os locais preferidos do pensador para a compreensão das forças reais em ação e as quais devemos realmente nos preocupar, compreender e buscar renovar constantemente.
Segundo este pensamento, devemos compreender que a lei é uma verdade “construída” de acordo com as necessidades do poder, em suma, do sistema econômico vigente, sistema, atualmente, preocupado principalmente com a produção de mais-valia econômica e mais-valia cultural, tal como explicado por Guattari (1993). O poder em qualquer sociedade precisa de um delimitação formal, precisa ser justificado de forma abstrata o suficiente para que seja introjetada psicologicamente, a nível macro social, como uma verdade a priori, universal. Desta necessidade, desenvolvem-se a regras do direito, surgindo, portanto, os elementos necessários para a produção, transmissão e oficialização de “verdades”. “O poder precisa da produção de discursos de verdade (p.180), como diria Foucault (1979). O poder não é fechado, ele estabelece relações múltiplas de poder, caracterizando e constituindo o corpo social e, para que não desmorone, necessita de uma produção, acumulação, uma circulação e um funcionamento de um discurso sólido e convincente. “Somos obrigados pelo poder a produzir verdade”, nos confessa o pensador, “somos obrigados ou condenados a confessar a verdade ou encontrá-la (...) Estamos submetidos à verdade também no sentido em que ela é a lei, e produz o discurso da verdade que decide, transmite e reproduz, pelo menos em parte, efeitos de poder (p.180).”
Michel Foucault viveu sua homossexualidade ao lado do companheiro Daniel Defert. Seu amante de longos vinte anos, dez anos mais novo que o filósofo, mas de fôlego intelectual intenso. Defert ainda vive e milita contra a AIDS ou SIDA. Em junho de 1984, em função de complicações provocadas pela AIDS, Foucault teve uma septicemia, o que o leva à morte por supuração cerebral.
BIBLIOGRAFIA
* Doença Mental e Psicologia, 1954;
* História da loucura na idade clássica, 1961;
* Nascimento da clínica, 1963;
* As palavras e as coisas, 1966;
* Arqueologia do saber, 1969;
* Vigiar e punir, 1975;
* História da sexualidade:
o A vontade de saber, 1976;
o O uso dos prazeres, 1984;
o O Cuidado de Si, 1984;
o Ditos e escritos; (2006);
* A vontade de saber; (1970-1971)
* Teorias e instituições penais; (1971-1972)
* A sociedade punitiva; (1972-1973)
* O poder psiquiátrico; (1973-1974)
* Os anormais; (1974-1975)
* Em defesa da sociedade; (1975-1976)
* Segurança, território e população; (1977-1978)
* Nascimento da biopolítica; (1978-1979)
* Microfísica do Poder; (1979)
* Do governo dos vivos; (1979-1980)
* Subjetividade e verdade; (1980-1981)
* A hermenêutica do sujeito; (1981-1982)
* Le gouvernement de soi et des autres; (1983)
* Le gouvernement de soi et des autres: le courage de la vérité; (1984)
* A Verdade e as Formas Jurídicas; (1996)
* A ordem do discurso; (1970)
* O que é um autor?; (1983)
LANÇAMENTO DA
Sempre, segundo Foucault, essa classificação provoca riso. Não pelo que nos pode sugerir o conteúdo de cada um de seus itens, mas pelo fato de que eles tenham sido ordenados alfabeticamente. O que nos faz rir é que no não lugar da linguagem se tenha podido justapor, como em um espaço comum, o que efetivamente carece de lugar comum. Provoca riso e inquietude a heterotopia que domina essa classificação. Supondo que os “inumeráveis”, os “fabulosos” ou os “et cetera” existam, na classificação de Borges, trata-se de ordenar “seres”; no Vocabulário de Foucault – Um percurso por seus temas, conceitos e autores, de ordenar “conceitos”. Mas, ainda que pareça que os “conceitos” estejam mais próximos das palavras e facilitem a operação, apesar disso, o perigo não é menor. De fato, este Vocabulário pode produzir o mesmo efeito que a classificação dos animais da enciclopédia chinesa; porque, claramente, tal como ela, poderia ser apenas o esforço para encontrar um lugar comum para o que parece não tê-lo. O próprio Foucault, com certa frequência, assinalou o caráter fragmentário e hipotético de seu trabalho, sua recusa em elaborar teorias acabadas, seu horror à totalidade. Seria, então, somente a pretensão de querer pôr ordem e limites a seu pensamento, recorrendo à simplicidade e finitude alfabéticas. Mais ainda, tentando ser simultaneamente breve e extenso, analítico, mas exaustivo, encerrando o universo do pensamento foucaultiano na enclausurada gramática de um dicionário, este Vocabulário não só provocaria o mesmo efeito que essa estranha classificação de animais, mas correria o risco de converter-se ele mesmo em uma enciclopédia chinesa. Porque, “notoriamente não há classificação do universo que não seja arbitrária e conjetural”. E nada nos assegura que, com o afã de ordenar, não venhamos a cair nessas autoimplicações (classificar os conteúdos mesmos da classificação; como Borges, “(h) incluídos na presente classificação”) que só os labirintos da linguagem permitem construir. E, finalmente, no pior dos casos, provocar somente riso, e, no melhor, também inquietude.
- Mas e se esse espaço comum existisse?
- Ah, bom, então, apresentar este Vocabulário se reduziria a dizer, de novo como Foucault: “Eu não escrevo para um público, escrevo para usuários, não para leitores”
QUEM É MICHEL FOUCAULT
Michel Foucault (Poitiers, 15 de outubro de 1926 — Paris, 25 de junho de 1984) foi importante filósofo e professor da cátedra de História dos Sistemas de Pensamento no Collège de France desde 1970 a 1984. Suas idéias notáveis envolvem o biopoder e a sociedade disciplinar, sendo seu pensamento influenciado por Nietzsche, Heidegger, Althusser e Canguilhem.
As obras, desde a História da Loucura até a História da sexualidade (a qual não pôde completar devido a sua morte) situam-se dentro de uma filosofia do conhecimento.
As teorias sobre o saber, o poder e o sujeito romperam com as concepções modernas destes termos, motivo pelo qual é considerado por certos autores, contrariando a própria opinião de si mesmo, um pós-moderno. Os primeiros trabalhos (História da Loucura, O Nascimento da Clínica, As Palavras e as Coisas, A Arqueologia do Saber) seguem uma linha pós-estruturalista, o que não impede que seja considerado geralmente como um estruturalista devido a obras posteriores como Vigiar e Punir e A História da Sexualidade. Além desses livros, são publicadas hoje em dia transcrições de seus cursos realizados no Collège de France e inúmeras entrevistas, que auxiliam na introdução ao pensamento deste autor.
Foucault trata principalmente do tema do poder, rompendo com as concepções clássicas deste termo. Para ele, o poder não pode ser localizado em uma instituição ou no Estado, o que tornaria impossível a "tomada de poder" proposta pelos marxistas. O poder não é considerado como algo que o indivíduo cede a um soberano (concepção contratual jurídico-política), mas sim como uma relação de forças. Ao ser relação, o poder está em todas as partes, uma pessoa está atravessada por relações de poder, não pode ser considerada independente delas. Para Foucault, o poder não somente reprime, mas também produz efeitos de verdade e saber, constituindo verdades, práticas e subjetividades.
Para analisar o poder, Foucault estuda o poder disciplinar e o biopoder, e os dispositivos da loucura e da sexualidade. Para isto, em lugar de uma análise histórica, realiza uma genealogia, um estudo histórico que não busca uma origem única e causal, mas que se baseia no estudo das multiplicidades e das lutas. Também abriu novos campos no estudo da história e da epistemologia.
As criticas e análises feitas por Foucault (1979) são pertinentes principalmente em relação ao significado de categorias de análise como soberania; mecanismos de poder; efeitos de verdade, regras de poder; etc., categorias essas de fundamental importância para a análise e compreensão do funcionamento do Estado e dos problemas cotidianos do homem comum.
Foucault (1979) renega os modos tradicionais de analisar o poder e procura realizar suas análises não de forma dedutiva e sim indutiva, por isso passou a ter como objeto de análise não categorias superiores e abstratas de análise tal como questões do que é o poder, o que o origina e tantos outros elementos teóricos, voltando-se para elementos mais periféricos do sistema total, isto, é, passou-se a interessar-se pelos locais onde a lei é efetivada realmente. Hospitais psiquiátricos, forças policiais, etc, sãos os locais preferidos do pensador para a compreensão das forças reais em ação e as quais devemos realmente nos preocupar, compreender e buscar renovar constantemente.
Segundo este pensamento, devemos compreender que a lei é uma verdade “construída” de acordo com as necessidades do poder, em suma, do sistema econômico vigente, sistema, atualmente, preocupado principalmente com a produção de mais-valia econômica e mais-valia cultural, tal como explicado por Guattari (1993). O poder em qualquer sociedade precisa de um delimitação formal, precisa ser justificado de forma abstrata o suficiente para que seja introjetada psicologicamente, a nível macro social, como uma verdade a priori, universal. Desta necessidade, desenvolvem-se a regras do direito, surgindo, portanto, os elementos necessários para a produção, transmissão e oficialização de “verdades”. “O poder precisa da produção de discursos de verdade (p.180), como diria Foucault (1979). O poder não é fechado, ele estabelece relações múltiplas de poder, caracterizando e constituindo o corpo social e, para que não desmorone, necessita de uma produção, acumulação, uma circulação e um funcionamento de um discurso sólido e convincente. “Somos obrigados pelo poder a produzir verdade”, nos confessa o pensador, “somos obrigados ou condenados a confessar a verdade ou encontrá-la (...) Estamos submetidos à verdade também no sentido em que ela é a lei, e produz o discurso da verdade que decide, transmite e reproduz, pelo menos em parte, efeitos de poder (p.180).”
Michel Foucault viveu sua homossexualidade ao lado do companheiro Daniel Defert. Seu amante de longos vinte anos, dez anos mais novo que o filósofo, mas de fôlego intelectual intenso. Defert ainda vive e milita contra a AIDS ou SIDA. Em junho de 1984, em função de complicações provocadas pela AIDS, Foucault teve uma septicemia, o que o leva à morte por supuração cerebral.
BIBLIOGRAFIA
* Doença Mental e Psicologia, 1954;
* História da loucura na idade clássica, 1961;
* Nascimento da clínica, 1963;
* As palavras e as coisas, 1966;
* Arqueologia do saber, 1969;
* Vigiar e punir, 1975;
* História da sexualidade:
o A vontade de saber, 1976;
o O uso dos prazeres, 1984;
o O Cuidado de Si, 1984;
o Ditos e escritos; (2006);
* A vontade de saber; (1970-1971)
* Teorias e instituições penais; (1971-1972)
* A sociedade punitiva; (1972-1973)
* O poder psiquiátrico; (1973-1974)
* Os anormais; (1974-1975)
* Em defesa da sociedade; (1975-1976)
* Segurança, território e população; (1977-1978)
* Nascimento da biopolítica; (1978-1979)
* Microfísica do Poder; (1979)
* Do governo dos vivos; (1979-1980)
* Subjetividade e verdade; (1980-1981)
* A hermenêutica do sujeito; (1981-1982)
* Le gouvernement de soi et des autres; (1983)
* Le gouvernement de soi et des autres: le courage de la vérité; (1984)
* A Verdade e as Formas Jurídicas; (1996)
* A ordem do discurso; (1970)
* O que é um autor?; (1983)
LANÇAMENTO DA
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