Ruy Duarte de Carvalho (1941), regente agrícola, mestre em antropologia visual e doutorado em etnologia e antropologia social pela EHESS. Nascido em Portugal, naturalizado Angolano desde que em 1975 passou a haver cidadania angolana. Ex-cineasta e ex-professor de antropologia do espaço em Luanda, Coimbra, São Paulo, Paris e Berkeley. Autor, entre outros títulos, de Lavra – poesia reunida 1970-2000 (2005), Vou lá Visitar Pastores (1999), Actas da Maianga (2003), A Câmara, a Escrita e a Coisa Dita – Fitas, Textos e Palestras (2008) e das ficções Os Papéis do Inglês (2001) e As Paisagens Propícias (2005) que fazem parte, com o presente volume, do ciclo Os Filhos de Próspero. Reside actualmente, aposentado, em Swakopmund, na Namíbia. Em 2008, foi atribuído o Prémio Literário Correntes d'Escritas ao seu livro anterior, Desmedida - LUANDA, SÃO PAULO, SÃO FRANCISCO E VOLTA.
A TERCEIRA METADE
de RUY DUARTE DE CARVALHO
428 páginas
A Terceira Metade é o último livro do ciclo "Os Filhos de Próspero", trilogia de Ruy Duarte de Carvalho, de que também fazem parte: Os Papéis do Inglês e As Paisagens Propícias.
Neste romance, voltamos a encontrar algumas das personagens dos anteriores volumes da trilogia e conhecemos o "mais-velho" Trindade, um tio de SRO que tem em seu poder uma misteriosa cassete com rezas e que se deverá encontrar com o narrador perto do Kambeno (fronteira entre Angola e Namíbia), para lha entregar. Com o pretexto da cassete, Trindade, levado pelas mãos do narrador e do próprio autor, revela-nos as suas surpreendentes considerações antropológicas e coloniais, e apresenta-nos o seu percurso de vida como progressiva aprendizagem: a infância na Lucira, as aventuras como cozinheiro em acampamentos de engenheiros e doutores, a experiência como ajudante de um escritor alemão entomologista, a quem carregava a rede para apanhar borboletas, até chegar à velhice e descobrir que "sete apenas, entre os vinte e oito nós [da vida], serão enigmas para tentar esclarecer, os únicos eventualmente ao alcance da tua decifração, da tua consciência, da tua ciência se a tua natureza e o teu caminho forem de molde a dar-te acesso a isso......."
"........ as páginas que precedem darão ideia do modo que à partida me propus usar para escrever este livro....... acabou depois por não poder vir a ser inteiramente assim, como irá ver-se a páginas tantas....... vou no entanto manter o que apesar de tudo consegui escrever ainda antes de me ter visto obrigado a interromper a tarefa que me tinha imposto levar a bom termo no Cabo das Agulhas, segundo esse programa original..........."
Neste romance, voltamos a encontrar algumas das personagens dos anteriores volumes da trilogia e conhecemos o "mais-velho" Trindade, um tio de SRO que tem em seu poder uma misteriosa cassete com rezas e que se deverá encontrar com o narrador perto do Kambeno (fronteira entre Angola e Namíbia), para lha entregar. Com o pretexto da cassete, Trindade, levado pelas mãos do narrador e do próprio autor, revela-nos as suas surpreendentes considerações antropológicas e coloniais, e apresenta-nos o seu percurso de vida como progressiva aprendizagem: a infância na Lucira, as aventuras como cozinheiro em acampamentos de engenheiros e doutores, a experiência como ajudante de um escritor alemão entomologista, a quem carregava a rede para apanhar borboletas, até chegar à velhice e descobrir que "sete apenas, entre os vinte e oito nós [da vida], serão enigmas para tentar esclarecer, os únicos eventualmente ao alcance da tua decifração, da tua consciência, da tua ciência se a tua natureza e o teu caminho forem de molde a dar-te acesso a isso......."
"........ as páginas que precedem darão ideia do modo que à partida me propus usar para escrever este livro....... acabou depois por não poder vir a ser inteiramente assim, como irá ver-se a páginas tantas....... vou no entanto manter o que apesar de tudo consegui escrever ainda antes de me ter visto obrigado a interromper a tarefa que me tinha imposto levar a bom termo no Cabo das Agulhas, segundo esse programa original..........."
Sobre o livro anterior escreve António Mega Ferreira «Na minha opinião, estamos perante um dos maiores escritores de língua portuguesa. É um escritor extraordinário e desculpem mas eu nestas coisas sou fanático, é absolutamente extraordinário e as pessoas têm que ler este escritor. (...) Este é um desses certos livros, é um livro extraordinário, luminoso (...)»
Os papéis do inglês
188 páginas
Os papéis do Inglês, o autor repete um procedimento romanesco semelhante [ao que emprega em Vou lá visitar pastores] (escrever a alguém), que extrapola e estrutura simultaneamente a prosa como pretexto de relato dirigido, neste caso, a uma "destinatária que se insinua e instala no texto". Conta-lhe a história de um personagem conradiano, um caçador inglês que depois de matar um companheiro de profissão grego às margens do rio Kwando, na fronteira com a actual Zâmbia, em 1923, e de se entregar às autoridades portuguesas que não lhe dão ouvidos, volta ao acampamento e abate a tiro tudo o que vê pela frente terminando por disparar a arma contra o próprio peito. [...].Uma ficção hesitante que informada pela antropologia, preza o princípio de que "mais que o achado vale a sempre a busca".
Por esse mesmo princípio, o caminho só se dá a ver pelo acúmulo e pela sobreposição de histórias nos interstícios e contiguidades. O que ocorre então é uma narrativa em "permanente suspeita perante si mesma", a questionar-se, interrompendo-se para revelar, por um processo análogo ao relativismo antropológico: "E quem narra não há de ter, ele também, que dar-se a contar?"[...].
É como se Ruy Duarte de Carvalho se servisse de uma "estória angolana" para fazer também a sua teoria da literatura, de dentro de um país em crise permanente, onde "se consome e vive como se o mundo fosse acabar amanhã".
Por esse mesmo princípio, o caminho só se dá a ver pelo acúmulo e pela sobreposição de histórias nos interstícios e contiguidades. O que ocorre então é uma narrativa em "permanente suspeita perante si mesma", a questionar-se, interrompendo-se para revelar, por um processo análogo ao relativismo antropológico: "E quem narra não há de ter, ele também, que dar-se a contar?"[...].
É como se Ruy Duarte de Carvalho se servisse de uma "estória angolana" para fazer também a sua teoria da literatura, de dentro de um país em crise permanente, onde "se consome e vive como se o mundo fosse acabar amanhã".
Bernardo Carvalho, in "Folha de S. Paulo"
As palavras propícias
344 páginasNas primeiras páginas de As paisagens propícias, é-nos dito que a um homem, Paulino, foi pedido que partisse em viagem, pelo deserto, em busca de um outro, o dono incerto de uns papéis achados numa mala. Uma vez encontrado, SRO, é este o seu nome, pede a Paulino que traga até si aquele que o mandara em expedição.
As primeiras páginas deste livro são, portanto, o relato do modo como o narrador, a mando das próprias personagens, partiu em busca da história que aí se começa a contar. Se adiantarmos que os papéis misteriosos são ainda os de «um inglês», quer dizer, os mesmos que há quatro anos intitularam o último romance de Ruy Duarte de Carvalho – Os Papéis do Inglês – , não será desapropriado apresentar este livro como o itinerário do encontro de um narrador com os restos de um livro antigo, ou dizendo ainda o mesmo, o de um autor com o seu próprio projecto romanesco.
A que tem acesso Ulisses, quando ouve sozinho o que as sereias cantam? É preciso que remem, aquém da experiência, de orelhas tapadas, os outros, para que Ulisses, amarrado, oiça. É prova imposta a quem? Ao próprio, que se obriga a ouvir, aos outros, privados disso, ou afinal a todos? Condição de acesso? De acesso a quê, para quem ouve e para quem não ouve? Na praia da Samba terão chegado à fala, SRO e o rei?
As primeiras páginas deste livro são, portanto, o relato do modo como o narrador, a mando das próprias personagens, partiu em busca da história que aí se começa a contar. Se adiantarmos que os papéis misteriosos são ainda os de «um inglês», quer dizer, os mesmos que há quatro anos intitularam o último romance de Ruy Duarte de Carvalho – Os Papéis do Inglês – , não será desapropriado apresentar este livro como o itinerário do encontro de um narrador com os restos de um livro antigo, ou dizendo ainda o mesmo, o de um autor com o seu próprio projecto romanesco.
A que tem acesso Ulisses, quando ouve sozinho o que as sereias cantam? É preciso que remem, aquém da experiência, de orelhas tapadas, os outros, para que Ulisses, amarrado, oiça. É prova imposta a quem? Ao próprio, que se obriga a ouvir, aos outros, privados disso, ou afinal a todos? Condição de acesso? De acesso a quê, para quem ouve e para quem não ouve? Na praia da Samba terão chegado à fala, SRO e o rei?
Um lançamento da
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